Campanhas  pela  gratuitidade  dos  transportes  publicos,  campanhas contra  os  cortes  de  electricidade  por falta  de  pagamento da  factura  de electricidade,  acções  contra as  taxas  autárquicas  de  alojamento, ocupações  de  casas  desabitadas,  batalhas  pelo  acesso  dos  países  mais  pobres  aos  medicamentos  que as respectivas  populações  mais  carecem.  Todas  estas  manifestações  vieram  reconduzir  para  o debate  público  o conceito  de  gratuitidade,  tornado  hoje  um  dos  mais  importantes  cavalos  de  batalha  dos  movimentos  anticapitalistas.
  Sinal  destes  tempos foi  o  aparecimento em 1995  na  editora  Desclée de  Brouwer  do  livro  “Elogio  da  gratuitidade”  do  filósofo  Jean-Louis  Sagot  Duvauroux, cuja obra  está  hoje  livre  de  direitos  de  autor, razão  pela   qual  pode  ser  encontrada  gratuitamente  na  Internet.
O  conceito de  gratuitidade  é  importante para  os  anticapitalistas  porque  permite  operar  a  ligação  daquela  com  a  propriedade  e simultaneamente    separar  rendimento e  trabalho. E  não  é  por  acaso  que  em  Itália  os  “Invisíveis”  (os  antecessores  dos Tute  Bianche)  tinham já  multiplicado  acções  simbólicas  neste  campo  - quer  nos  comboios  e  transportes  públicos  quer  no  Scala  gratuito,  em  que o  famoso  templo  de ópera   abriu   as  suas  portas  numa  noite de  espectáculo aos  desempregados  e  trabalhadores  precários  -  defendendo  então   um  rendimento  socializado  em  que  uma  parte  seria  sob  a  forma  monetária ( salário  de existência) e  a  outra  tomaria  a  forma  de  um  acesso  gratuito  ao  alojamento, à  saúde, aos  transportes, à  electricidade,  ao  telefone, à  formação  permanente, à  cultura  e  ao  entretenimento.
Outra  linha de  investigação  é  realizada  na América  do  Norte por iniciativa  de uma  equipe  próxima  de  Noam  Chomsky:  Robin  Hahnel, professor  de  economia  da   American  University  de  Washington,  em  conjunto  com  Michael Albert, conhecido  activista  libertário,  elaboraram  um modelo  económico  a  que  chamaram  Participatory  Economics, ou também  conhecido  Parecon  (Economia  Participativa ou Ecopar)  cujos  propósitos,  marcadamente  influenciados  pelo  pensamento  libertário,  são  extremamente  ambiciosos “O Ecopar  propõe  um modelo  económico  em  que  são  banidos  quer  o  mercado  quer  a  planificação  central, bem  como  a  hierarquia do  trabalho  e  o  lucro”   esclarece  Normam  Baillargeon, professor  na  Universidade  do  Québec  em  Montreal  que  redigiu  em 1999 um  longo  artigo  sobre  aquele  modelo, na  revista  Agone.
Para  Robin  Hahnel  e  M. Albert  o  mercado   está  longe  de  ser  uma  “instituição  socialmente  neutra  e  eficiente”. Muito  pelo  contrário, dizem  eles,  a  instituição  mercado  corrói  a  solidariedade,  valoriza  a  competição,  e  não  permite  avaliar  os  custos  e os  benefícios  sociais  das  escolhas  individuais,  além  de  pressupor  a  hierarquia  no  trabalho  e   a  distribuição de  forma  muito  imperfeita  dos  recursos  disponíveis. 
O  Modelo  Ecopar  baseia-se  na  apropriação  pública  dos  meios  de  produção,  e num  processo  de  planificação  descentralizado  e  participativo  protagonizado  por  conselhos  de  produtores  e  de   consumidores.
(tradução  de  um  texto publicado  na  edição do Le  Monde  de 21/01/2003)   
 
