1.12.11

Puta Que os Pariu, a Biografia de Luiz Pacheco - um livro de João Pedro George

Puta Que os Pariu!
A Biografia de Luiz Pacheco, um escritor maldito
João Pedro George

A história do singular percurso pessoal e literário de uma personagem incontornável da cultura portuguesa do século XX. Das origens familiares aos casamentos, aos processos judiciais, às quezílias artísticas, aos combates intelectuais, à Editora Contraponto, ao vício e à degradação e miséria dos últimos anos. Uma vida à margem. Um escritor maldito

Luiz Pacheco era capaz das loucuras mais desapiedadas, mas também de actos de grande generosidade. Pessoa cheia de contrastes e incoerências, tinha uma enorme facilidade para relacionar-se com os outros e, depois, para cortar relações. Impulsivo e inconstante, aparecia e desaparecia de repente. Capaz de prescindir de tudo e de começar do zero, durante anos viveu em pensões manhosas, de onde muitas vezes era expulso por falta de pagamento. Era um especialista em dívidas e em não as pagar. Conheceu a miséria, o vício e a degradação. Gostava de estar perto dos marginais e das ovelhas ranhosas, porque com aqueles que não têm nada a perder conhecem-se melhor os labirintos da alma humana. Fundador da Editora Contraponto, conhecia bem o campo da edição e o meio das letras, onde fervilhavam as intrigas e as capelinhas, e contra tudo isso lutou, recusando-se a participar na engrenagem dos manejos literários. Desmascarou os falsos prestígios e maltratou alguns intocáveis da cultura. Alguns viam Pacheco como um apocalíptico, um herdeiro da tradição dos grandes inconformistas. Mas foi simultaneamente um produto do próprio meio literário. Capaz de aparecer nu no meio do Montijo ou de pijama no Largo do Carmo, no 25 de Abril, em torno de Luiz Pacheco criou-se uma lenda, histórias e boatos que circulavam e que quase nunca se incomodou em desmentir, porque, como alguém disse, essa era a melhor forma de chegar a génio.

«Puta que os pariu!» foi a última resposta de Luiz Pacheco na entrevista que deu à revista «Ler», em 1995.