10.7.10

Saída de Campo no centro de educação ambiental de Folgosinho (Gouveia): Ecossistemas de Montanha (dia 11 de Julho)

A Serra da Estrela é uma montanha com características únicas em Portugal continental. Atingindo os 1991 metros de altitude, é um local de eleição para quem quer observar e desfrutar dos vários tipos de ecossistemas, distribuídos ao longo de vários patamares de altitude.
Nesta saída de campo iremos ter oportunidade de visitar e explorar os ecossistemas de montanha da zona de Folgosinho, acompanhados por José Conde, técnico do CISE (Centro de Interpretação da Serra da Estrela).

O ponto de encontro será as 7:30 no Largo de Viriato, junto ao restaurante “O Albertino”.



A participação nesta saída de campo é gratuita e aberta a todos os interessados.



Os participantes devem vir munidos de:
Água
Merenda
Calçado e roupa confortável
Protector solar
Guias de campo (opcional)
Binóculos (opcional)



http://cervas-aldeia.blogspot.com/



Recorde-se que no passado dia 20 de Junho teve lugar uma saída de campo para a observação da flora característica da Serra da Estrela. A saída decorreu de acordo com um itinerário pré-definido, de forma a contemplar uma variedade de habitats com diferentes características. A Serra da Estrela alberga um precioso coberto vegetal, onde se encontram reunidos muitos dos elementos característicos de várias regiões do país numa combinação única, acrescentando-lhe ainda algumas riquezas próprias.

O ponto de encontro para o início da saída foi na delegação do PN Serra da Estrela em Gouveia e estiveram presentes 14 pessoas. Seguiu-se então para o primeiro ponto de paragem, um bosque de carvalho-negral (Quercus pyrenaica) entre Linhares e Prados onde se começou por observar uma variedade de espécies características destes bosques e das suas orlas, como por exemplo a dedaleira (Digitalis purpurea), os cardos (Carduus platypus, Carduus tenuiflorus e Cirsium palustre), os Ranunculus sp., a Linaria triornithophora, e Prunella grandiflora, entre outras espécies.

Já em Prados (Videmonte), foram visitados os lameiros característicos desta região, de forma a mostrar e a perceber a importância do ambiente rural e das técnicas da agricultura tradicional para a conservação da biodiversidade. A longa história do uso tradicional destes terrenos produziu uma elevada diversidade de espécies. Ao longo do tempo esta diversidade de plantas diferentes invadiu este biótopo, o que atraiu muitos tipos de insectos, que por sua vez atraem uma grande diversidade de aves insectívoras. Nestes lameiros podemos encontrar um conjunto vasto de gramíneas, e de outras plantas como por exemplo a Parasidea lusitanica, Serapias sp., Pedicularis lusitanica, e Scilla ramburei. Numa época diferente do ano, finais de Abril, início de Maio, é possível ver estes lameiros cobertos de narcisos (Narcissus sp.), que formam um manto amarelo muito bonito.

Seguiu-se para Famalicão, e realizou-se um pequeno percurso pedestre num souto, onde se observou um conjunto de plantas muito interessantes características de bosques de folhosas como é o caso de Genista falcata que é uma planta que se costuma encontrar perto de castanheiros (Castanea sativa). O clima que se sente dentro do souto, muito fresco e com sombra, permite o crescimento de algumas plantas, como por exemplo, as paónias (Paeonia sp.) e a rosa-de-cão (Rosa canina).

Seguimos em direcção ao Sameiro, e paramos junto a uma ribeira para almoçar. Esta é uma zona muito quente, caracterizada por alguma vegetação de clima mediterrânico. Predominam as azinheiras (Quercus rotundifolia) formando pequenos bosquetes denominados de azinhais. Ao longo da estrada foi possível observar plantas características das zonas rupícolas como é exemplo a bela-luz (Thymus mastichina).

Após o almoço seguiu-se em direcção à torre pela estrada que percorre o vale do Zêzere, até um bosquete de teixos (Taxus baccata) no seio de um vidoal (Betula celtiberica) junto ao Covão da Ametade. Na Serra da Estrela restam poucos indivíduos espontâneos de teixo, sendo uma das espécies arbustivas/arbóreas mais ameaçadas da serra. É uma árvore que encontra as suas condições óptimas de crescimento em encostas húmidas, principalmente ao longo de ribeiros.



A paragem seguinte foi na Nave de Santo António, para observar um cervunal, pastagens de montanha relativamente pobres em espécies e dominadas pelo cervum (Nardus stricta) que se encontra bem adaptado ao pastoreio e ao pisoteio.

Na Senhora da Estrela fez-se uma paragem para observar comunidades rupícolas e prados cuminais xerofíticos, que se caracterizam pela presença de Festuca summilusitana.Para observar as turfeiras e os zimbrais parou-se na zona das Salgadeiras e Fonte dos Perús. O zimbro-rasteiro (Juniperus communis subsp. alpina) está amplamente distribuído nesta zona.

Este mato é acompanhado na maioria das vezes por urze-branca (Erica arborea), e ocasionalmente por outras espécies arbustivas. As espécies características são Deschampsia flexuosa subsp. iberica, piorneira-da-estrela (Cytisus oromediterraneus), arando (Vaccinium myrtillus), licopódio-da-estrela (Lycopodium clavatum) e algumas briófitas. Os zimbrais-rasteiros albergam um grande número de plantas que se reproduzem por esporos e plantas epífitas.

A paragem seguinte seria a Lagoa Comprida para visitar o Lagoacho das Favas, no entanto o tempo já era escasso, pelo que se optou para deixar esta visita para uma próxima saída. No final tudo correu como previsto, e ao longo do dia observaram-se dezenas de espécies características de diversos habitats do PN Serra da Estrela.

Algumas espécies de plantas observadas por habitat:

Bosque de carvalho-negral (Quercus pyrenaica) e sua orla:

Leucanthemum sylvaticum (bem-me-quer)
Linaria triornithophora (esporas-bravas)
Centaurea sect. Paniculata
Polygonatum odoratum (selo-de-salomão)
Ruscus aculeatus (gilbardeira)
Asphodelus albus (abrótea)

Lameiro:

Ajuga pyramidalis
Armeria beirana
Caltha palustri
(malmequer-dos-brejos)
Dactylorhiza caramulensis
Echium lusitanicum
(soajos)
Montia fontana (marujinha)
Narcissus pseudonarcissus
Paradisea lusitanica
Pedicularis sylvatica
Ranunculus bulbosus
(ranúnculo-bulboso)
Rhinanthus minor (galocrista)
Scilla ramburei
Serapias cordigera
(serapião-de-flores-grandes)

Bosque de castanheiro (Castanea sativa):

Anthemis triunfeti
Aristolochia paucinervis
(erva-bicha)
Astragalus glycyphyllus
Euphorbia amygdaloides
Lathyrus niger
Melica uniflora
Melittis melissophyllum
(melissa-bastarda)
Orchis mascula (satirão-macho)
Paeonia officinalis subsp. microcarpa (rosa-de-lobo)
Paeonia broteroi (rosa-albardeira)
Poa nemoralis (poa-dos-bosques)

Bosque de azinheira (Quercus rotundifolia):

Arbutus unedo (medronheiro)
Dianthus lusitanus (cravinas-bravas) Thymus mastichina
Helichrysum stoechas (perpétua-das-areias)
Lavandula pedunculata (rosmaninho-maior)
Rosa sp.
Rubia peregrina
(granza-brava)
Ruta montana (Arrudão)


Cervunal e prados cuminais xerofíticos:

Nardus stricta (cervum)
Calluna vulgaris (torga-ordinária)
Cytisus oromediterraneus (piorneira-da-estrela)
Erica arborea (urze-branca)
Erica australis (urze-vermelha)
Erica umbellata (queiró)
Narcissus asturiensis
Ranunculus nigrescens
Pterospartum tridentatum
(carqueja)
Thymelaea dendrobryum
Viola langeana

Mato de Juniperus alpina:

Campanula herminii
Festuca henriquesii
Fritillaria nervosa
(fritilária)
Gentiana lutea (argençana-dos-pastores)
Jasione crispa
Potentilla erecta
(sete-em-rama)
Ranunculus ololeucos

Texto e imagens do blogue do Cervas: http://cervas-aldeia.blogspot.com/