20.6.10

Kaos no jardim é o tema deste ano do festival internacional de jardins de Ponte de Lima (28 de Maio a 31 de Outubro)

“O caos é impensável, já que a mistura é uma ordem e não há para o espírito do homem, ou no espírito do homem, nada que não seja relação. O que acontece é que chamamos desordem à ordem que nos não agrada, ao conjunto de relações em que não entendemos ou não aceitamos a relação connosco”. Agostinho da Silva



O Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima exibe, na edição de 2010, onze projectos subordinados ao tema “Kaos no Jardim”, tendo recebido 77 propostas provenientes de 15 países. A selecção final recaiu em projectos oriundos de Portugal (2), Áustria, Brasil, Espanha (2), França, Holanda, Irlanda, Itália e Sérvia.

O tema arrojado convida à concepção vanguardista dos 11 jardins seleccionados que formam um conjunto inovador que irá contribuir para novas percepções e entendimentos no que concerne às muitas formas de intervir nos espaços.

O certame já atingiu um nível de qualidade superior e que, para além do vanguardismo citado, apresenta um alto grau de criatividade e abordagens artísticas e conceptuais da mais elevada escala, como atestam os títulos das intervenções: Blank Garden (Portugal), Dark Rift / Fenda Escura (França), The Garden of Global Warning / O Jardim do Aviso Global (Irlanda), At The Beginning There Was... / E no princípio houve... (Áustria), El Kaos del Universo / O Kaos do Universo (Espanha), Kaleidoscope Garden / Jardim Caleidoscópio (China), EarthQuake / Terramoto (Espanha), The Butterfly Experience / A Experiência Borboleta (Holanda), O Jardim das Incertezas (Brasil), So That Tomorrow Might Be Not Looking Like Today / Para Que Amanhã Possa Não Parecer Hoje (Itália), Butterfly Effect / Efeito Borboleta (Sérvia) e Kaos Suspenso (Portugal).

http://www.festivaldejardins.cm-pontedelima.pt/


Os três labirintos que se inserem na zona do Festival procuram acrescentar um pouco mais de simbolismo a todos estes jardins, ao mesmo tempo que estimulam a criatividade.
As três formas diferentes dos labirintos têm cargas imaginativas distintas.

Labirinto do Conhecimento

Trata-se do primeiro labirinto com que o visitante se depara e que, ao percorrê-lo, terá a surpresa de poder visualizar o conjunto dos jardins a partir da torre mirante - e a partir daqui ter o conhecimento que lhe permite decifrar os enigmas destes espaços.

Labirinto da Sabedoria

O labirinto da sabedoria acumulada após a visita aos doze jardins. A descoberta deste caminho será também a descoberta da felicidade? Ou da angústia da realidade que construímos à nossa volta?
Serão os labirintos desenhos? Criações infantis? Estarão no nosso imaginário infantil como locais a desvendar, onde podemos vaguear e descobrir um rumo? Serão os labirintos flores desenhadas por crianças?

Pede-se a uma criança: Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase que não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era de mais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor; e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!

José de Almada Negreiros
A Invenção do Dia Claro - A Flor


Labirinto de Ariadne

O labirinto de Ariadne remete-nos para a mitologia Grega e para a lenda do minotauro, ou seja, para a história mitológica. É fundamental conhecer o passado para sabermos construir o nosso futuro de forma mais equilibrada e socialmente justa. Falta-nos muitas vezes este fio de Ariadne para conseguirmos ganhar as lutas do nosso quotidiano.
As roseiras deste labirinto tem os espinhos como carga simbólica principal.

Quando Teseu chegou a Creta para lutar com o Minotauro, Ariadne, filha de Minos e de Pasífae, viu-o e sentiu por ele um violento amor. Para lhe permitir descobrir o caminho no labirinto, onde se encontrava o Minotauro, deu-lhe um novelo de fio, que ele desenrolou, e que lhe indicou o cal7Jinho de regresso. Depois, fugiu com Teseu, para escapar à cólera de Minos. Contudo, não chegou a Atenas. Tendo feito escala na ilha de Naxos, Teseu abandonou-a, adormecida,ao mar. As explicações que se dão desta traição variam segundo os autores; Ou terá sido porque Teseu amava outra mulher que ele abandonou deste modo Ariadne ou, então, terá sido por ordem dos deuses, pois os destinos não lhe concediam que a desposasse. Mas Ariadne, quando acordou de manhã e avistou, desaparecendo ao longe, as velas da embarcação do seu amante, não se abandonou por muito tempo à dor. Logo de seguida, chegaram Dionísio e o seu séquito. Fascinado pela beleza da Jovem, o deus desposou-a e levou-a para o Olimpo. Como presente de núpcias deu-lhe um diadema de ouro, obra de Hefesto... Este diadema tornou-se depois uma constelação.

Pierre Grimal
Dicionário da Mitologia Grega e Latina.