Entre 1 de Julho e 30 de Setembro, decorre em várias localidades do Alentejo mais uma edição, a sexta, do Escrita na Paisagem — festival de performance e artes da terra, este ano tendo como tema o corpo. Festival trans e pluridisciplinar, nele se cruzam criações e criadores
contemporâneos, projectos de artistas nacionais e internacionais, desafios de experimentação e projectos de circulação, nomes consagrados e valores emergentes, sempre com trabalhos estimulantes, transgressores e sedutores.
A temática do corpo, realidade que o pensamento crítico e as artes performativas não têm deixado de interrogar, questionar e sobressaltar, apresenta-se aqui plena de consequências no plano político, social e cultural. É que o corpo ocupa um lugar central em qualquer paisagem, mesmo quando a paisagem parecem esquecer o seu volume e presença. A programação do Festival procura dar-lhe expressão de muitas formas, desde a perspectiva local até ao convocar das grandes questões globais sem as quais o local também empobrece o seu sentido. E assim as muitas questionações do corpo, individual e colectivo, clássico ou grotesco, protegido ou exposto, íntimo ou público…
Da dança íntima e participativa com que Felix Ruckert abre o festival —uma estreia nacional, dias 1 e 2 de Julho— aos trabalhos de Paul Kaiser e Bello Benischauer (novos média), da segunda edição da Janela indiscreta — plataforma internacional de criação universitária à presença do duo hankock & kelly live, com o seu extraordinário Iconogaphia, da Escola de Verão confiada a Phillip Zarrilli às residências de criação com o Teatro do Vestido, Giorgia Maretta ou o Clube dos Nadadores de Inverno, da exposição À prova de fogo e de bala, de Andrea Inocêncio, à criação in situ da coreana Woojung Chun, um programa vasto que conta ainda com workhops, debates e encontros no Espaço do Festival, nas Galerias dos Celeiros (1º piso dos antigos Celeiros da EPAC).
Crónica
A palavra corpo tem essa força de evocação junto dos sonhadores impenitentes que se impõe ao nosso imaginário, como lisura, pontuada de pregas, rugas, linhas e pilosidades, interrompida por bocas, ângulos e curvas, de uma paisagem matinal e exterior; mas, ao mesmo tempo, sugere, um secreto labirinto de canais, poços, bolsas, camadas fibrosas, membranas diáfanas, líquidos espessos e infinitas circunvoluções, que compõem uma paisagem crepuscular e interior. O corpo é o nosso interior e o nosso exterior. Portáteis. Nele se escrevem marcas das dores e dos prazeres, dos ímpetos e dos recalcamentos, mal conhecidos dos detentores da ciência, mas matéria de erro e errância dos amantes.
A superabundância de apelos, mais ou menos publicitários - nunca inofensivos - à conservação patrimonial do corpo em estado de perpétua juventude – à sombra da máxima vagamente tingida de eugenismo mente sã em corpo são - camufla um paradoxo que as paisagens terrestres nos ajudam a desvendar, por vezes quase a decifrar. É que, em boa verdade, quanto mais velho, desgastado, trabalhado pela erosão um corpo parece, mais nele comparece a corporalidade, interna ou externa. Em poucas palavras, quanto mais antigo é um corpo, mais corpo é. E isso coloca um verdadeiro desafio à nossa utópica condição de guardadores de paisagens. Pois que entre a presença da ruína e a disseminação do pó, o caminho é curto. Nesse caminho, a escrita e a respectiva leitura revestem um carácter de urgência que não se compadece com aquilo que nos fazem engolir como paradigma da eficácia, a saber: a luta contra o tempo.
Regina Guimarães
Para saber mais consultar os seguintes Ficheiros:
Perfomance2.278,74 kB
Janela Indiscreta1.832,01 kB
Instalação/Exposição1.443,19 kB
Transversais2.061,79 kB
http://www.escritanapaisagem.net/
http://www.col-b.org/newsletters/geral1.html
Escrita na Paisagem no TWITTER:
http://twitter.com/escrita2009
Alguns destaques:
Anel / Ring
Felix ruckert (de)
Estreia absoluta do trabalho de Felix Ruckert em Portugal, numa intensa criação de teatro de participação. Dança íntima e colectiva, Anel é um extraordinário evento, onde as convenções da relação teatral são a cada passo negociadas com o envolvimento do público.
Anel / RingFelix Ruckert (DE)Dança / performance
1 e 2 de Julho
Évora
Pátio da Fundação Inatel
21h30
Escola de VerÃo
Uma introdução ao treino psicofísico intensivo, através de artes marciais asiáticas e yoga, aplicadas à performance, num workshp dirigido por um dos maiores especialistas da matéria, o internacionalmente reconhecido Phillip Zarrilli.
Escola de Verão
Phillip Zarrilli (UK)
9 a 14 de Agosto, manhã e tarde (duas sessões de 3h)
Fábrica dos Leões
Universidade de Évora
PGT Workshop
Coordenados por Brad Garton, Terry Pender (Columbia University / Computer Music Center) e Gregory Taylor (Cycling '74 Software), os participantes poderão explorar o trabalho com alegorítmos de composição e técnicas de processamento digital de sinal para som e vídeo, concretizando assim as suas ideias para ‘instalações’ ou performances. Dependendo dos interesses que cada estudante traz para o workshop, o software utilizado incluirá os seguintes programas (sem estar limitado aos mesmos): Max/MSP, Jitter, RTcmix, Processing, SuperCollider, ChucK, LISP, e ambientes de áudio-visuais disponibilizados no circuito comercial. A familiaridade com estes programas por parte dos participantes poderá ajudar ao desenvolvimento do workshop, não sendo, no entanto, um requisito para a participação no mesmo.
Workshop de música interactiva e tecnologias vídeo
PGT
6 e 7 de Julho
Fábrica dos Leões
Universidade de Évora