23.1.09

Recuperação de um bosque no Cabeço Santo na Serra do Caramulo


Damos aqui notícia de um projecto a todos os títulos louvável. Trata-se de uma acção de reflorestação de um bosque no Cabeço Santo, na Serra do Caramulo, levada a cabo por uma pequena equipa do Núcleo de Aveiro da Quercus e que pretende reconstituir os ecossistemas da zona, depois do violento incêndio que atingiu a Serra do Caramulo em 2005. Nota-se o cuidado em escolher as plantas e árvores mais apropriadas, lutando contra as plantas invasivas e, consequentemente contra a eucaliptização que infesta toda aquela região. Os intervenientes, que são elementos do núcleo de Aveiro da Quercus, têm um blogue onde dão conta das acções realizadas, dos seus objectivos, e das circunstâncias de concretização do projecto, em que se destaca a realização de várias jornadas de voluntariado neste projecto de reflorestação.



http://ecosanto.wordpress.com/

Aceitam-se voluntários que queiram participar e contribuir na reflorestação do Cabeço Santo, na Serra do Caramulo.

Para se inscrever envie uma mensagem para o endereço abaixo indicando (não esqueça que deve efectuar o seu pré-registo):


-Mês e dia no qual se inscreve;
-Se precisa ou disponibiliza lugares de transporte. No caso de precisar deverá aguardar a confirmação de disponibilidade

cabsanto@gmail.com

O Cabeço Santo

O Cabeço Santo é uma montanha que se estende entre o Rio Agadão e o Ribeiro de Belazaima, sendo, nesta latitude, a última elevação importante da Serra do Caramulo em direcção a Oeste. Do seu ponto mais alto, a 450 metros de altitude, avista-se o mar, a 40 km de distância. O seu cume alongado, que separa as freguesias de Belazaima e de Agadão, estendese ao longo de 5 km com uma orientação noroestesudeste, aproximadamente.
O ponto mais alto da Serra do Caramulo encontra- e, em linha recta, a escassos 12 km de distância, para leste.
Os bosques originais desta região eram bosques atlânticos dominados por árvores do género Quercus, onde coexistiam elementos característicos da região temperada com pluviosidade estival, e elementos característicos da região mediterrânica.
Após milénios de um uso tradicional que reduziu esses bosques a extensos matagais, o século XX assistiu à chegada das extensas plantações de eucaliptos, um uso do solo ainda mais comprometedor para a biodiversidade que o anterior, e ao qual escaparam apenas pequenos áreas de solo muito marginal.
Em Belazaima, é no Cabeço Santo que se encontram as mais importantes dessas áreas, com algumas dezenas de hectares distribuídos por vários núcleos.
Apesar das características do solo, esses núcleos apresentam uma biodiversidade notável, quando comparada com a das áreas plantadas.
A vegetação arbórea é dominada pelo medronheiro, encontrando- se também murta, espinheiro, lentisco, pilriteiro, salgueiro e, muito escassos, carvalho e sobreiro. O estrato sub-arbustivo é dominante em muitos locais com predomínio das urzes, mas encontrando- se também tojos, cistáceas, carqueja, gilbardeira, rosmaninho, tomilho e silvas.
Entre as trepadeiras encontramos a salsaparrilha-bastarda e a madressilva. Mas é entre as plantas herbáceas que a diversidade é maior, com várias e interessantes espécies características dos habitats rupícolas (arroz-dos-telhados, arrozdos- muros, orelha-de-monge, cravos-rosados, cila...), gramíneas dos géneros Agrostis, Briza, Festuca e outras aina não identificadas, campainha- de-outono e campainhasamarelas, esta última uma planta característica de pequenos charcos.


O Projecto

Adquirir um terreno com cerca de 7 hectares,inserido num dos núcleos de maior dimensão e
biodiversidade.Executar acções de controlo das plantas invasoras e promoção das nativas através darealização de campos detrabalho voluntário e da sensibilização de outros proprietários das áreasalvo, em particular da empresa de celulose StoraEnso/Celbi


1ª jornada de trabalho voluntário (transcrição do relato, retirado do blogue)

Realizou-se no dia 9 de Fevereiro a primeira jornada de trabalho voluntário de 2008 no Cabeço Santo. Foram cinco os voluntários participantes. Pouco depois das nove horas já rumavam ao local dos trabalhos transportando cerca de 130 medronheiros com torrão e uma centenha de bolotas de carvalho-roble pré-germinadas. Um vento de sudeste varria o cabeço com intensidade e o sol brilhava, antevendo-se um dia de temperaturas acima da média para a época do ano. Nada que desmotivasse os participantes.
Os trabalhos iniciaram-se no terreno do FCN da Quercus numa área de reconversão de eucaliptal. Apesar do acesso difícil, a equipa chegou em boas condições e os trabalhos começaram. As principais ferramentas em operação foram as forquilhas de dentes direitos. Com elas se ia sondando o terreno, procurando locais com menos pedras e mais solo. Em cada local escolhido soltava-se o solo, misturava-se com ele um pouco de adubo mineral rico em fósforo (mineral do qual estes solos são em geral bastante pobres), e depois colocava-se lá a planta.
Em torno dos vales, principal e secundário, do terreno, semearam-se as bolotas pré-germinadas e também algumas castanhas. De referir que estas bolotas se encontravam numa câmara frigorífica desde a sua colheita no Outono, pois de contrário o seu estádio de germinação estaria já muito mais avançado. Ao se semearem apenas nesta altura maximizam-se as suas hipóteses de sobrevivência. Essas hipóteses são ainda incrementadas pela colocação de um tubo de protecção, sem o qual a probabilidade de as bolotas não serem predadas por roedores é muito pequena. Na sementeira das bolotas, para além do adubo mineral, acrescentou-se uma pequena quantidade de vermicomposto à superfície.
Toda a manhã foi passada a trabalhar no terreno do FCN. Depois de uma pausa para almoço e retemperamento de forças, a equipa continuou, até praticamente se esgotar o espaço disponível. Foi altura de subir até ao caminho florestal da Silvicaima e plantar os medronheiros ainda restantes numa parcela de antigo eucaliptal a reconverter. Aqui o solo revelou-se bem mais difícil do que anteriormente, apelando à intuição dos participantes no sentido de encontrarem os locais mais apropriados. Para além disso, e apesar do trabalho já aí realizado em 2007, são ainda abundantes as plantas de Acacia longifolia neste local.
Pelo final da tarde os participantes deleitaram-se com um merecido lanche enquanto contemplavam um belo pôr-do-sol tendo por palco as terras baixas da Bairrada. Depois, foi altura de regressar, o que se fez pelo caminho florestal da Silvicaima, permitindo aos participantes ter uma perspectiva global sobre a área de intervenção para recuperação ecológica. Se isso lhes deu mais determinação ou os deixou desanimados, só eles poderão dizer!



Plantar árvores! Plantar árvores é como fazer amigos. Plantamo-las, cuidamos delas, e depois elas ficam lá, pela nossa vida fora, sempre prontas a ouvir-nos, a dar-nos sombra, abrigo, alimento mesmo. Sempre diferentes mas sempre distintas e únicas. Sempre a árvore que nós plantámos! Vêm e vão as tempestadas e a “nossa” árvore acalma o vento com os seus ramos e absorve a água com as suas raízes e a sua manta morta. Vem o calor e o frio e a “nossa” árvore atenua os extremos com a sua folhagem. Vem mesmo uma tempestade de fogo e a árvore resiste por detrás do seu manto de protecção ou refugia-se no solo para, quando a tormenta passar, voltar a olhar o céu. Provavelmente a árvore que nós plantámos sobreviver-nos-á. Quando já não estivermos cá para a visitar, ela continuará a crescer, a abrigar, a alimentar.
É o que fazemos, por estas alturas, no Cabeço Santo: plantamos e semeamos árvores. Não para serem cortadas dentro de alguns anos, não para serem conduzidas de maneira a produzirem o máximo de matérias primas, mas para cumprirem o desígnio da Vida, para serem belas, para permanecerem.
Às vezes pode parecer, e mesmo ser, um trabalho fisicamente exigente. Mas chegamos ao final do dia e parece-nos que afinal não foi assim tanto. É como se uma força invisível nos tivesse empurrado encosta acima e nos tivesse aliviado o peso das ferramentas. E no final do dia, não fosse o sol “ir descansar”, estariamos ainda com energias para continuar.

Quem quer vir plantar árvores connosco no Cabeço Santo? Ainda há vagas!




Comunicação da Quercus na cerimónia de assinatura do protocolo com a Silvicaima e a Câmara Municipal de Águeda:



O Projecto Cabeço Santo teve início, pode-se dizê-lo, no dia seguinte ao grande incêndio que atingiu a região no dia 18 de Setembro de 2005. E teve início nesse momento cinzento, porque as condições que o tornaram justificado e necessário tinham já sido criadas muito antes: a ausência de ordenamento na actividade de cultivo de espécies florestais, a ausência de medidas de protecção dos valores não passíveis de apropriação e gestão privada, a falta de cuidado e de controlo na difusão de espécies com características invasoras. Mesmo que o mínimo indispensável tivesse sido feito, as consequências sobre a paisagem e a biodiversidade teriam já sido grandes, sem esse mínimo, as consequências foram devastadoras. Parece uma palavra forte, mas só assim se pode definir um contexto de eliminação de espécies e habitats de tão grande alcance como o que aqui aconteceu.
A história é, como se sabe, já antiga, e, tal como naquela outra história da rã que é cozida devagarinho, não dá por nada, e portanto se vai deixando estar até que é tarde de mais, também o processo de degradação e alteração da nossa paisagem é antigo, cada fase ocorreu gradualmente e teve as suas justificações, pelo que as consciências humanas se foram a ele acomodando. Primeiro a eliminação dos antigos bosques, que deverá ter ocorrido ao longo de séculos, depois o estabelecimento de um coberto vegetal adaptado à pastorícia, e por ela mantido, que nos legou os matagais extensivos, formação semi-natural de forte carácter antrópico. Com o eclipsar das culturas rurais de subsistência e a emergência de novas necessidades, pareceu natural que, no contexto de uma nova cultura emergente, essas agora inúteis formações fossem transformadas para o fim que agora conhecemos: o cultivo de espéces arbóreas.
Mas, uma percepção sensível e sábia do que estava para vir poderia ter evitado males maiores: a potencial utilização de maquinaria pesada aconselharia a ponderação dos solos admissíveis, a utilização de um regime monocultural (e portanto com exclusão de outras espécies) aconselharia a reserva de espaço para os ecossistemas nativos, sobretudo nos habitats mais sensíveis, e o recurso a espécies exóticas aconselharia um cuidado muito maior com as espécies a utilizar e onde seriam utilizadas. Em geral, o desenvolvimento de actividades incapazes de sustentar os bens comuns (como a paisagem e a biodiversidade) deveriam, no mínimo, merecer um esforço de regulação, por parte de quem tem a missão de o fazer, no sentido de preservar esses bens comuns da apropriação privada. Não porque o privado seja essencialmente mau e o público bom, mas porque não é sua missão e responsabilidade fazê-lo, sobretudo num contexto como aquele em que hoje vivemos.
O momento em que se procedeu à privatização dos espaços comuns, na primeira metade do sec. XX, foi um daqueles em que essa visão não esteve presente, tal como não esteve presente quando se iniciou um processo generalizado de ocupação do espaço de montanha com plantações de árvores. Quando, tardiamente, o Estado reconheceu a necessidade de colocar alguma ordem no contexto, já era, para uma região como a nossa, tarde demais: todo o espaço era já explorado, não sendo muitas vezes viável qualquer outro tipo de usufruto privado mais compatível com a preservação dos bens comuns, a disseminação da propriedade inviabilizava a aplicação efectiva das medidas preconizadas e já haviam sido causados danos a esses mesmos bens comuns que só um investimento não produtivo poderia, em parte, recuperar. Por isso, desde a criação da Reserva Ecológica Nacional, de legislação restritiva quanto ao cultivo de espécies de crescimento rápido e de toda uma série de medidas com objectivos reguladores, a situação da nossa paisagem e dos nossos valores naturais não cessou de se agravar e a generalidade das medidas legislativas tomadas não teve quase nenhum impacto.
Hoje quase todos reconhecem que se foi longe demais. Mesmo aqueles que têm nos cultivos florestais o seu modo de vida e a sua sobrevivência. Basta olhar com os olhos do coração (mas os da inteligência servem igualmente bem) para um espaço como a pequena bacia do Ribeiro de Belazaima para o constatar.
E, se hoje assinamos com a Silvicaima este protocolo, isso também é uma consequência desse reconhecimento. O dos seus responsáveis como seres humanos, que reconhecem não ter o homem o direito de tomar toda a Terra para seu proveito exclusivo, e o dos seus responsáveis como produtores, que provavelmente reconhecerão que uma pequena perda em termos de produção é largamente compensada pelos benefícios em termos de imagem que um maior cuidado com os bens comuns acarretam. Isto para além de qualquer obrigação determinada pelas leis e pelos sistemas de certificação.
Entendemos que as práticas correntes de produção intensiva de espécies florestais exóticas de ciclo de exploração curto não são, em si, compatíveis com propósitos de conservação da natureza e de preservação dos bens comuns. Por isso, a única solução é uma de compromisso: a de reservar áreas exclusivamente com objectivos de conservação. Não será consensual qual a fracção da área total de uma região a reservar com esse propósito, mas haverá algum consenso quanto ao tipo de áreas a incluir: as áreas marginais para o cultivo, as áreas ribeirinhas e outras áreas de particular expressão da biodiversidade. Não quer também dizer que o ser humano seja proscrito das áreas de conservação. Mas o benefício que ele pode daí retirar é, mais uma vez, indirecto, e não compatível com o actual regime de propriedade. Pensamos nos aspectos paisagísticos, na apicultura, no turismo de natureza, e noutros serviços que as formações naturais prestam melhor que quaisquer outras, como a regulação do ciclo da água e a conservação de organismos úteis ao homem.
Para criar áreas de conservação numa região como a nossa, já não basta legislar e condicionar. É necessário agir activamente no terreno. Por um lado, porque as formações nativas já foram destruídas ou fortemente danificadas e têm de ser recuperadas. Por outro lado porque não se pode esperar que sejam os proprietários privados a fazê-lo. A propriedade da Silvicaima é, neste contexto, um caso algo especial, porque se trata de uma grande propriedade onde é e foi possível pôr em prática um plano de ordenamento onde as áreas prioritárias para conservação puderam ser libertadas da actividade de cultivo. Mas, fora dela, a inclusão de uma pequena faixa ribeirinha num projecto de conservação pode significar a absorção de parcelas inteiras de pequenos proprietários. Claro que não é legítimo pedir a esses proprietários que cedam as suas parcelas, ou mesmo parte delas, gratuitamente, mesmo que seja para o bem comum. A única forma é indemenizar esses proprietários pelo justo valor que, em termos produtivos, essas terras representam. Sabemos bem que os legisladores criaram uma figura de organização que facilitaria essa tarefa: as zonas de intervenção florestal, ZIF’s, que permitem gerir uma área extensa de forma ordenada e com consideração por critérios de preservação de bens comuns sem prejudicar os proprietários das parecelas a isso devotadas. Mas a adesão a tal figura de organização implica uma visão comum e o abandono de um individualismo que se encontra arreigado nas nossas populações, de tal maneira que aqui dificilmente seria implementado.
Deste modo, o Projecto Cabeço Santo, depois de um período inicial de maturação durante o qual teve como objectivo apenas a recuperação das áreas do Cabeço Santo que já não eram significativamente cultivadas antes de 2005, mas que se encontravam ameaçadas pela vegetação invasora, cresceu em âmbito e horizontes para ter também como objectivo a recuperação para efeitos de conservação de áreas ribeirinhas do Ribeiro de Belazaima. Embalada pelo facto de a margem direita ser, com duas excepções, propriedade da Silvicaima e de esta ter aceite a inclusão de áreas ribeirinhas de extensão significativa neste projecto, a Quercus tentará junto dos proprietários da margem esquerda, por meio de compras ou outras formas de cedência onerosa (ou gratuita, se for essa a vontade de algum deles!), obter o direito de intervir também nessa margem esquerda. Também o facto de terem sido criados corredores ecológicos ao longo dos vales principais na propriedade da Silvicaima permitirá criar uma área contínua de conservação, que abrange as zonas ribeirinhas e as relativamente extensas áreas de carácter rupícola já antes incluídas.
Não pretendemos dar a este projecto um alcance e uma relevância para além daqueles que ele tem por direito: ser um exemplo do mínimo que é exigível fazer numa região com as características da nossa, e dar um contributo, por modesto que seja, para contrariar a perda de biodiversidade, um problema de alcance planetário, e que, pelo menos na Europa, merece uma atenção de objectivos definidos: parar a perda de biodiversidade até 2010. Por isso, também é importante ter a Câmara Municipal neste protocolo. Não em primeiro lugar pela sua contribuição financeira para este esforço (embora todas sejam importantes), não porque seja uma forma de pedir responsabilidades aos poderes públicos por aquilo que não fizeram pela preservação dos bens comuns (embora, no contexto que nos ocupa, tenham de facto falhado nisso), mas como forma de os sensibilizar e de os comprometer (e neste caso à Câmara Municipal em particular) com uma acção que julgamos positiva, e com necessidade de uma expressão territorial muito mais larga do que aquela que é objectivo deste projecto. Oxalá daqui por 2, 5, 10 anos, todos nós possamos olhar para os resultados deste projecto e ter o sentimento de que valeu a pena, e de que o resultado nos inspira a fazer algo da mesma natureza noutros locais com problemas similares.
Outro dos objectivos importantes deste projecto é conseguir demonstrar às pessoas, sobretudo ao nível local, a relevância dos seus propósitos. Não pretendemos iludir o facto de ele não ter, até ao momento, suscitado o entusiasmo colectivo. Também não suscitou hostilidade, mas a atenção que recebeu da parte dos cidadãos, das empresas e da comunicação social local, são uma demonstração da escassa sensibilidade que ainda vigora para os problemas a que se procura dar resposta. Longe de emitir mensagens de censura e de queixume, entendemos essa realidade como um desafio, nem que seja de longo prazo, à nossa capacidade para demonstrar a validade dos nossos pressupostos e objectivos. Se, dentro dos mesmos 2, 5, 10 anos, o projecto não tiver dado uma contribuição decisiva para a alteração de percepção que cidadãos e organizações têm desta problemática, então também aí terá falhado. Para atingir esse objectivo, continuaremos a convidar ao envolvimento de escolas, escuteiros, empresas, associações e cidadãos. Como já tem vindo a acontecer, o trabalho voluntário será uma das componentes principais desse envolvimento. Será dada particular atenção à comunidade de Belazaima do Chão, pois ela será a principal beneficiária do trabalho desenvolvido, e será também a principal depositária, com o que isso tem de benefício e de responsabilidade. É importante que esta comunidade não olhe para as áreas onde se desenvolve o projecto como sendo propriedade da Quercus, da Silvicaima ou de outras entidades, mas que olhe para elas como suas, tanto em termos dos benefícios indirectos que daí pode recolher, como da responsabilidade que lhe cabe na sua preservação.
Por agora a Quercus e quem a constitui, com o apoio de entidades como as que assinam este protocolo, assegurará esta responsabilidade. Mas as pessoas e as organizações nem sempre duram, enquanto que os resultados deste projecto têm horizonte temporal indefinido. Acresce que não sabemos até que ponto é possível, e se o for, o tempo que é necessário, para que as formações nativas que pretendemos recriar atinjam uma fase mais ou menos climácea, e se perpetuem, ou evoluam como resposta às condições físicas sem a necessidade de intervenção humana. Na realidade, formações nativas puramente espontâneas já não existem entre nós há muitos séculos, e talvez nem seja possível recriar senão formações semi-naturais dependentes de uma intervenção humana auxiliadora.
Talvez no futuro as comunidades adquiram verdadeira consciência do grau em que a nossa civilização ameaçou a Vida na Terra, e cuidem dos pequenos fragmentos que restaram, como estes que agora procuramos salvaguardar, como preciosidades dignas da mais cuidada e apaixonada salvaguarda. E oxalá que assim seja porque significa que essa civilização ultrapassou o seu momento de crise, evoluindo, e não sucumbiu, levando consigo uma longa história de desenvolvimento e de vibrante expressão da Vida na Terra.



Jornada de Trabalho voluntário de 17 de Janeiro no Cabeço Santo


Trees for Life
(documentário de 1993 sobre o trabalho do colectivo Trees for Life em prol da recuperação da Floresta da Caledónia na Escócia. Versão portuguesa)



Parte 2


Parte 3


Parte 4