«Queixe-se que é para o meu chefe saber que eu ando a trabalhar» - desabafo de um inspector do SEF depois de ter sido interpelado a identificar-se perante um cidadão que pretendia queixar-se pela sua actuação.
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal identifica passageiros do comboio Vigo-Porto estacionado na estação de Tui.
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal identifica passageiros do comboio Vigo-Porto estacionado na estação de Tui.
Não são apenas os emigrantes que tem queixas do SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), a policia portuguesa que se ocupa da vigilância das fronteiras. Eu que sou cidadão comunitário, português de gema, lisboeta e branco, não obstante ter um «bronze» invejável que ganhei ao sol da Caparica, também acabei incomodado e alvo da arrogância desses agentes policiais. E para mais quando me encontrava ainda fora de Portugal e em território do Estado Espanhol. Passo a contar.
Vinha no comboio internacional procedente de Vigo com destino ao Porto na tarde do dia 20 de Agosto. O comboio parou em Tui, a cidade galega onde efectua a ultima paragem antes de atravessar o Rio Minho e entrar em Portugal. Após alguns minutos de espera nesta estação irrompem pelas carruagens uns senhores de colete verde que desatam a pedir a identificação a todos os passageiros. Uma rusga.
«Passaporte ou Bilhete de Identidade» gritavam arrogantemente aos viajantes. Quando percebi que eram agentes de autoridade portugueses recusei identificar-me. Afinal estava dentro de um comboio internacional ainda em território do Estado Espanhol. A minha recusa provocou a ira do inspector que brandindo o crachá de agente do SEF me ameaçou de detenção.
Perguntei-lhe se pedia contra mim alguma acusação ou se estava a cometer algum delito ao que ele respondeu que não acrescentando que tinha a obrigação de me identificar. Recusei mais uma vez e disse-lhe que apenas me identificaria a autoridades espanholas visto estar em território espanhol. E acrescentei com alguma irritação que ele não tinha autoridade para me identificar ou sequer incomodar em território estrangeiro.
O inspector secamente respondeu: «Sai comigo em Valença detido. E se quiser queixe-se às autoridades espanholas do que eu lhe estou a fazer». O revisor português, que já se encontrava no comboio, percebendo que o caldo se tinha entornado voltou cobardemente as costas e mudou de carruagem.
Nisto o comboio arranca, atravessa a fronteira e eu desço normalmente em Valença, meu destino naquela viagem. Mal ponho os pés em terra o inspector tenta lançar-me a mão e pede-me de novo a identificação. Faço-lhe o mesmo. Fiquei a saber que se tratava do inspector do SEF Edson Pinheiro.
Identifiquei-me dizendo-lhe que o fazia por já me encontrar em território português e que iria fazer relato do caso às autoridades espanholas. Respondeu com a mesma arrogância: «Queixe-se que é para o meu chefe saber que eu ando a trabalhar».
Pelos vistos o inspector do SEF Edson Pinheiro é um agente calaceiro que resolveu mostrar serviço naquela tarde da pior maneira. Incomodando os passageiros de um comboio internacional ainda estacionado em território estrangeiro.