CONFERÊNCIAS NA CULTURGEST, em Lisboa
TERÇAS-FEIRAS
12, 19 E 26 DE FEVEREIRO,
4 E 11 DE MARÇO DE 2008
18h30 • Pequeno Auditório
Entrada Gratuita ´
A matéria política com que hoje estamos confrontados é eminentemente bio¬política. A guerra contra o terrorismo, as medidas de segurança e as legislações que controlam o movimento dos cidadãos no interior dos Estados, a fuga em massa das populações do terceiro mundo, as políticas demográficas e de saúde, as discussões sobre o aborto e a eutanásia: a importância que ganharam todas estas questões nos debates públicos e nos cálculos de toda a governação mostra que a politização da vida, a implicação mútua do “bios” e do político, se tornou um facto maior do nosso tempo.
Deve-se a Michel Foucault, no final de A Vontade de Saber, a formulação que define o modo como, a partir da época moderna, a vida natural do homem passou a ser objecto dos mecanismos do poder. As investigações de Foucault, neste domínio, ficaram por desenvolver. Mas foi a partir delas que se começou a pensar a crescente sobreposição dos dois âmbitos, fenómeno que tem uma afirmação absoluta nos totalitarismos do século xx, muito especialmente no nazismo, para o qual a política se torna intrinsecamente biológica e a vida tem imediatamente uma dimensão política.
O paradigma biopolítico dos Estados totalitários, na sua dimensão exacerbada, é um revelador daquilo que se tornou entretanto politicamente decisivo nas democracias parlamentares do nosso tempo: a vida biológica. Sem a referência à biopolítica, não podemos compreender o movimento de despolitização generalizada que tomou conta de projectos e instituições e reduziu o discurso político à discussão e gestão das contingências sociais e económicas. O factor biopolítico obrigou a repensar as categorias políticas tradicionais. AG
Programação: André Dias, António Guerreiro
Colaboração: Davide Scarso
12 DE FEVEREIRO
Uma introdução à biopolítica
por António Guerreiro
(Crítico literário do Expresso, publicou o livro de ensaios O Acento Agudo do Presente)
19 DE FEVEREIRO
O governo como problema
por José Luís Câmara Leme (Univ. Nova de Lisboa)
Alguns pensadores diagnosticaram recentemente uma crise de governamentalidade nas sociedades ocidentais que teria duas dimensões principais: da parte dos governantes consistiria na incapacidade de dar sentido às políticas promovidas; da parte dos governados, existiria uma descrença nas instituições e nos objectivos propostos pelos governos.
26 DE FEVEREIRO
A ocultação bioética
por António Fernando Cascais (Univ. Nova de Lisboa)
A bioética surge como alternativa à deontologia médica e à teologia moral, mas tende a ser reabsorvida por elas. Definida como o próprio processo de apropriação da vida biológica pela política na modernidade, a biopolítica constitui-se como um verdadeiro paradigma concentracionário. Nesta perspectiva, a regulação (bio)ética da biotecnociência não é impeditiva da inumanidade biopolítica.
4 DE MARÇO
Biotecnologia e novos mundos possíveis da vida
por Hermínio Martins (St. Antony’s College – Oxford, ICS)
As descobertas e invenções da biociência, biotecnologia, bioengenharia, convergindo com a nanotecnologia e as tecnologias da cognição, sugerem perspectivas de transformações radicais no mundo da vida. No da vida não-humana, um planeta geneticamente modificado, e mesmo redesenhado pela biologia sintética. No da vida humana, as transformações podem afectar os parâmetros fundamentais da sua condição.
11 DE MARÇO
Espaços de controlo
por Fernando Poeiras (ESAD Caldas da Rainha)
A expansão de tecnologias de vigilância e de segurança alterou o controlo social, introduzindo diferentes estratégias de biopoder. Como a distinção norma/desvio tende a ser substituída pela de normalidade/acidente e a coerção pela necessidade, o exercício do controlo social é reconfigurado.
CICLO DE CINEMA
Figuras da autópsia. A biopolítica no documentário contemporâneo
De 4 a 11 de Março de 2008
Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema