14.11.07

A ética subversiva no comportamento do quotidiano

Quem é subversivo? Quem o pode ser? Será que hoje ainda se pode ser? Sim, acho que sim, mas longe das imitações da subversão teatralizada que espectaculariza o gesto e integra-o na lógica dominante que encontra o lugar do subversivo dentro do mundo mediático, e que o situa confortavelmente ao lado do bobo, do palhaço, do farsante e do cómico de serviço.

A subversão consiste em levar uma vida filosófica na qual as virtudes dominantes da nossa época mercantil ( o dinheiro, o poder, a riqueza, a ostentação, as honras, a busca de celebridade, a futilidade, a mundanidade, a paixão pelas aparências…) sejam completamente ignoradas e substituídas sem alarde por valores pesados: ser em contraste com o ter; o poder sobre si e não sobre os outros; a indiferença em relação ao dinheiro – quer o tenhamos ou não, nada se fará para o ter; a supremacia da vida interior contra o império do olhar do outro sobre si; a recusa das honras, de que se preferirá o sentido da honra; a indiferença relativamente à celebridade – tenha-se ou não, o importante é nada fazer para a ter; o desejo de se construir em profundidade longe da superficialidade mundana, ou seja, a escultura de si como acto para si e não como ficção para o outro.
A verdadeira subversão é assumir tudo isso no nosso quotidiano: uma postura que assume sem barulho, sem palavras mais altas que as dos outros, o exemplo de uma filosofia existencial (na linhagem do que seria um Diógenes ou um Arístipo da era atómica) que seria uma máquina de guerra lançada contra a moleza adoptada na nossa época.

(excerto de um texo publicado na edição de Novembro da revista Lire intitulado «Mon abécédaire» de autoria de Michel Onfray)




Aristipo de Cirene
Filósofo grego (Cirene, c. 435 a.C. -?, 356 a.C.)

Aristipo foi discípulo de Sócrates e fundador da Escola Cirenaica. Ganhava sua vida lecionando e escrevendo na corte de Dionísio de Siracusa. De seus escritos, nada restou; nem mesmo fragmentos. Tudo o que se conhece da reflexão filosófica de Aristipo decorre do comentário de terceiros.

Como Sócrates, Aristipo se interessou quase que exclusivamente pela ética. Segundo o filósofo, a vida ética deveria ser praticada para atingir um fim específico que era o gozo de todo prazer imediato. Defendia, porém, um controle racional sobre o prazer para que não se desenvolvesse uma depêndencia dos prazeres.

Tanto a dor quanto o prazer eram vistos como uma espécie de movimento. O prazer seria um movimento leve e a dor um movimento violento. Já o êxtase, era visto como a ausência tanto de prazer quanto de dor e não era, portanto, nem agradável nem doloroso.

Frase de Arisitpo de Cirene:

«Somente o presente nos pertence, não o momento passado nem aquele que esperamos, porque um já se desfez e o outro não sabemos se virá»