O texto seguinte foi retirado do jornal O Primeiro de Janeiro
No “palco” dos Encontros Internacionais de Poetas, em Coimbra, este ano na sexta edição, já um judeu abraçou um palestiniano e alguns casamentos se fizeram entre autores que, desde 1992, por ali passaram.
No “palco” dos Encontros Internacionais de Poetas, em Coimbra, este ano na sexta edição, já um judeu abraçou um palestiniano e alguns casamentos se fizeram entre autores que, desde 1992, por ali passaram.
A iniciativa realiza-se entre 24 e 27 de Maio e tem como tema «Poesia e Violência».
Organizado pelo Grupo de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, o VI Encontro Internacional de Poetas, que se realiza de três em três anos, vai decorrer este mês entre os dias 24 e 27 e tem como tema «Poesia e Violência».
Numa altura em que o mundo assiste a múltiplos conflitos – do Iraque ao Darfur (Sudão), passando pelo que opõe israelitas a palestinianos – e porque “os poetas não vivem fora da História”, Graça Capinha, um dos seis elementos do Grupo de Estudos Anglo-Americanos que organizam o encontro, entende que “o tema faz todo o sentido”.
“Basta – disse à Agência Lusa – estar atento ao que se faz na poesia de todo o mundo para se perceber que essas tensões e conflitos surgem reflectidos na obra poética de inúmeros autores”.
A longevidade da iniciativa, admite Graça Capinha, não está apenas no seu lado académico.
“Está também no facto de se ter transformado num local de confraternização”, sendo disso exemplo, recorda, os abraços públicos entre um poeta judeu israelita e um palestiniano, “numa altura em que isso não era nada comum”, ou ainda os casamentos entre pessoas que se conheceram em Coimbra graças à iniciativa.
Para a edição deste ano, quatro dezenas de poetas são esperados, com destaque para os nomes dos norte-americanos Forrest Gander e C. D. Wright, do chinês Xiao Kaiyu, da Finlandesa Rita Dahl, do palestiniano Murid Barghuti, do israelita Yitzhak Laor e ainda Cláudia Roquette-Pinto e Márcio-André, do Brasil, Alberto Pimenta e Gastão Cruz, de Portugal e a galega Hellen Villar Janeiro. Angola, Cuba, Espanha, Itália, Irlanda e Reino Unido estão igualmente representados na VI Edição do Encontro Internacional de Poetas de Coimbra.
No topo dos objectivos desta iniciativa, que começou em 1992 com um tributo ao poeta norte-americano Walt Witman, na celebração do centenário da última edição de «Leaves of Grass», está, explica Graça Capinha, a “democratização do cânone literário”, levando a poesia, na sua língua de origem, dos salões para as ruas.
A docente sublinha ter sido a “pressão” dos poetas participantes que levou à multiplicação das edições, porque a ideia original era realizar apenas o tal tributo a Witman.
Como um dos exemplos desta democratização do cânone surge na memória dos encontros a experiência, que “resultou na quase perfeição”, de uma leitura protagonizada em conjunto pelo Prémio Nobel Seamus Heaney e por uma poeta popular portuguesa, nas ruínas de Conimbriga.
“Esta experiência agradou tanto ao Seamus Heaney que ele disse que gostaria de repetir”, contou Graça Capinha, adiantando ser este um dos bons exemplos do êxito que têm sido os encontros ao juntar nomes consagrados com outros menos conhecidos.
Os encontros têm um ritmo que se tem repetido de edição para edição, com as manhãs preenchidas por sessões de carácter mais académico e as tardes e noites com sessões de leitura de poesia oferecidas à “rua”, havendo sempre um dia inteiro em que se sai de Coimbra.
Falta de apoio na divulgação
Apesar da dimensão que os encontros têm além-fronteiras, Graça Capinha, em tom de lamento, diz que, em Portugal, onde tanta futilidade recebe grande atenção, esta iniciativa tem, pelo contrário, “lamentavelmente passado ao largo das prioridades mediáticas”.
Isto apesar de terem sido feitas aqui das primeiras, ou quase, leituras públicas de poesia em Portugal. Em 1992, poetas como Yvette Centeno e Fiama Hasse Pais Brandão ali leram, pela primeira vez, os seus textos em público.
Mas há outra novidade que o Grupo de Estudos Anglo-Americanos vai fazer “detonar” este ano, com o arranque de um programa que era uma ambição desde 1992: ter um poeta-residente a colaborar com a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Graça Capinha ressalva que o ideal seria, como fazem outras universidades, ter um poeta-residente a dar aulas.
Todavia, com a colaboração da câmara de Idanha-A-Nova, esse objectivo será “quase conseguido” através da criação de um programa que vai permitir a um poeta fixar residência numa habitação disponibilizada na Vila de Monsanto, com despesas pagas pela autarquia, habitação, água, luz e gás, e viagens suportadas pela universidade.
Essa possibilidade, observou a docente, passará pela celebração de um protocolo com a Câmara de Idanha-A-Nova, já em 2008.
Capinha deixa um último recado: todas as iniciativas dos encontros são de entrada grátis e mais pormenores poderão ser encontrados em http://www.uc.pt/poetas/home.htm
Iniciativa pioneira no País
Estes encontros de Coimbra foram dos primeiros em Portugal a pôr poetas de múltiplas latitudes a lerem a sua poesia e na língua original em locais públicos.
Este ano estão previstas saídas para o Jardim da Sereia ou a Biblioteca
Joanina. No tal dia fora de Coimbra, ir-se-á à Figueira da Foz e haverá leituras no Hotel Costa da Prata e no Palácio Sotto-Mayor.
Neste ano em que se assinalam os 250 anos do nascimento de William Blake, um registo que consta das “sinalizações” do encontro, vai ainda realizar-se uma conferência por C. D. Wright, mesas-redondas sobre o tema central e o lançamento de “mais uma” Antologia Bilingue, a quinta, com poemas de autores presentes.