7.3.07

Josh Wolf, blogger preso por defender a liberdade de imprensa nos Estados Unidos


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Texto de Joana Amaral Cardoso

Fonte : jornal Público


Preso por não colaborar com a justiça, Josh Wolf criou uma rede de apoio on-line (e não só) em defesa da sua libertação

Josh Wolf não é um jornalista tradicional, não garante a sua imparcialidade e é empregado do seu próprio vídeo-blogue.

Um sinal dos tempos em carne e osso, Josh Wolf está a bater recordes da defesa da liberdade de imprensa nos Estados Unidos. Preso há cerca de 200 dias, Wolf, de 24 anos, é o primeiro blogger detido pelas autoridades federais por se recusar a entregar à justiça norte-americana imagens que recolheu durante uma manifestação. e tornou-se uma espécie de porta-estandarte da era digital do jornalismo convencional.

"Sou um jornalista. Sou um realizador de documentários. Fiz alguns filmes narrativos. Sou um activista. Uso muitos chapéus... também sou um vídeo-blogger", disse ao programa frontline, da estação pública norte-americana PBS.

Alvo da atenção da polícia de São Francisco e, depois, do FBI, durante o seu último ano na universidade estatal de São Francisco, foi preso a 1 de Agosto por desobediência ao tribunal, que exigia a entrega da gravação com as imagens que editou e vendeu a um canal de televisão, mas sobretudo com aquelas que ficaram de fora, e foi libertado um mês depois. Mas um recurso voltou a remetê-lo ao estabelecimento prisional de Dublin, na Califórnia, a 20 de Setembro, onde se encontra até hoje.

É o jornalista que há mais tempo está preso na história dos EUA por se recusar a entregar material ao governo. a organização Repórteres Sem Fronteiras considera que "a situação da liberdade de expressão em 2006 piorou com a prisão do blogger e jornalista freelance Josh Wolf". O jovem "não é só um blogger", considera o Publisher do San Francisco Bay Guardian, "é também um herói da primeira emenda, é um herói dos cidadãos, é um herói jornalístico".


Manifestação anarquista


Antes da era youtube, josh wolf já mexia com a imagem e com a internet, com um ângulo pessoal. Queria fazer algo pela democratização dos média, dos contributos que todos os cidadãos podiam trazer ao mundo tradicional da imprensa, rádio e televisão.

A internet permitiu-lhe transformar esse tríptico num diálogo a quatro. Montou a sua banca em www.joshwolf.net e, depois de se ter irritado com a current tv de Al Gore, um canal de televisão on-line que vive dos contributos dos utilizadores, criou a rede rise up!, semelhante ao indymedia.org, onde qualquer pessoa pode publicar as suas imagens e textos. No dia 8 de julho de 2005, Josh Wolf tinha o chapéu de jornalista posto e foi acompanhar uma manifestação em São Francisco contra a cimeira do g8 na Escócia.

Nas imagens que divulgou, e vendeu a estações de televisão locais, dezenas de manifestantes, alguns com máscaras na cara e com os logótipos do grupo anarchist action, acendem material pirotécnico e começam a bloquear o trânsito. No vídeo, vê-se o agente Michael Wolf perseguir um suspeito de bloquear o carro de patrulha em que chegou com o agente Pete Shields, tentando depois algemá-lo. O colega ficou a tentar prender alguém que acendia fogo-de-artifício sob o carro de patrulha, quando alguém o agrediu pelas costas. Josh Wolf estava a filmar o agente wolf e não shields. O governo federal quer as imagens que não foram mostradas para, defende, identificar os autores dos danos ao carro e ao agente agredido na cabeça.
O seu advogado, Martin Garbus, conhecido defensor da primeira emenda à constituição dos EAU (que garante a liberdade de expressão e de imprensa), desmonta as acusações e argumentos da procuradoria federal. Para Garbus, as autoridades federais não querem saber mais para constituir a sua investigação, mas sim identificar os participantes na manifestação, no âmbito de um esforço de catalogação dos anarquistas, extremistas e outros grupos políticos dissidentes no país. O próprio Wolf sugere que o governo poderá estar a agir de forma "coerciva e sigilosa". numa entrevista ao news.com, a partir da prisão durante a sua primeira detenção, opinou: "algo me diz que isto é sobre mais do que estragos num carro da polícia de são francisco".


Jornalista-activista Josh Wolf dedicou a sua curta vida semi-profissional ao activismo jornalístico, a criar uma alternativa à informação dos grandes grupos de média. Agora, são aqueles que trabalham para essas instituições e os organismos que representam o jornalismo tradicional que saem em sua defesa. Éo caso de judith miller, a ex-jornalista do New York Times que esteve presa 85 dias em 2005 por se recusar a testemunhar numa investigação federal sobre a fuga de informação que revelou que Valerie Plame era uma agente da agência de serviços secretos norte-americanos cia. Miller já manifestou publicamente o seu apoio à atitude de Wolf. O mesmo fizeram a sociedade de jornalistas profissionais (spj), os rsf, a american civil liberties union e o conselho editorial do jornal San Francisco Chronicle.

Na internet, à excepção dos seus amigos - que mantêm o activismo, o site de josh wolf e blogs actualizados com as palavras que recolhem junto dele na prisão -, apenas uma tímida fatia da blogosfera se lançou em sua defesa. Mas os seus diferentes chapéus e o seu hábito frequente de vestir a camisola das causas que filma coloca-o num patamar dúbio. Josh wolf é ou não jornalista? O jovem norte-americano auto-intitula-se cidadão-jornalista, ou jornalista freelance, para além dos outros rótulos que cola à sua actividade de câmara na mão.

No mundo há cada vez mais pessoas que, sem título profissional ou formação específica, criam conteúdos para a web ou contribuem, a convite de órgãos como a cnn, para os média tradicionais.

David Bodney, advogado especializado na área dos media, disse à online journalism review que o problema é que a lei ainda não se actualizou em relação aos efeitos que a internet está a ter nos processos de produção de informação. Mas no caso de wolf, a questão é que "não se pode ser e deixar de ser jornalista" de forma sistemática, argumenta Jane Briggs-Bunting, da cátedra de jornalismo da universidade de michigan. Em relação a Wolf, confessa ter sentido algum desconforto em relação às suas afirmações, nomeadamente pelo facto de "se ver como um advogado". "É muito, muito importante que se mantenha algum tipo de objectividade e distância".para a comunidade de defesa dos direitos civis e dos jornalistas, no entanto, o que mais pesa no caso wolf é a sua posição de força, de recusa de ceder sob a pressão do governo federal.


Jornalista do ano "por mais inconvencional e não-tradicional que o seu trabalho seja no jornalismo, Josh Wolf está a reforçar um argumento ancestral...que os jornalistas nunca devem ser um braço da aplicação da lei", frisa Christine Tatum, presidente da SJP.


A SJP elegeu-o um dos jornalistas do ano de 2006 e nomeou-o para o seu prémio de liberdade de informação na categoria internet. Pueng vongs, da sociedade, remata: "quer se seja um jornalista profissional ou um cidadão-jornalista, os direitos (à luz) da primeira emenda são os mesmos".
Segundo a comissão norte-americana de jornalistas pela liberdade de imprensa (rcfp), o prazo legal para o final da investigação do caso está fixado para julho, mas pode prolongar-se até janeiro de 2008. Josh wolf pode permanecer preso durante esse período.