Uns vivem muito bem e outros no limiar da pobreza.
Nos últimos seis anos "Portugal enfrentou grandes dificuldades. A situação económica deteriorou-se e as perspectivas continuam a ser negras". Esta é a análise feita por José Magone - director do Departamento de Política e Estudos Internacionais, da Universidade de Hull, Reino Unido -, num estudo publicado na na revista "Nação e Defesa" sobre a integração de Portugal na União Europeia (UE).Neste número dedicado aos 20 anos da entrada de Portugal na CEE, Magone refere que, como um garrafa, a pretensão de um Portugal europeu "está ainda metade vazio".
Pese embora as reformas na educação, os problemas continuam a ensombrar este sector e o mesmo se passa na Justiça e no sistema de saúde", refere. O docente acentua que estes três sectores são cruciais para a legitimidade da acção política, já que a apreciação dos sucessivos governos depende de terem sido capazes de criar mais igualdade social. E a avaliação é negativa.
“Portugal continua entre os países da UE onde a distribuição da riqueza é mais desigual", diz. O grupo social mais rico aufere seis vezes e meia mais do que o mais pobre. Uns vivem muito bem e outros no limiar da pobreza. "O que é acentuado pelos baixos níveis de ensino, de má saúde e exclusão social", explica.
O estudo prossegue de forma crítica. Diz que "um obstáculo à superação da pobreza é a falta de qualificações", sendo Portugal "o país com mais baixos níveis de qualificações, afectando a qualidade da economia, assente no trabalho intensivo e não nas novas tecnologias".
Um dos maiores problemas no ensino é a desistência no secundário. A principal razão é a frágil condição financeira da maioria das famílias. Muitos jovens abandonam a escola porque têm de trabalhar". Uma política governamental de apoio às famílias carenciadas poderia provavelmente ajudar a melhorar" esta realidade, afirma
Também "o sistema de Justiça continua muito ineficiente. Muitos recursos têm sido investidos, no número de juízes e no apoio judiciário, mas a noção dos portugueses sobre a actuação da Justiça é profundamente negativa."
Alguns aspectos a reter
Depois da reforma de 1988, "Portugal foi muito entusiasta" na aplicação dos fundos comunitários em infra-estruturas. No Quadro Comunitário de Apoio (2000-2006) 48,6% dos fundos, o equivalente a 42 biliões de euros, foram canalizados para Portugal 29,1% para o Estado e 22,3% para o sector privado
A elite política esteve muito preocupada em receber fundos, mas não em mudar a cultura empresarial do país. Segundo José Magone, os projectos de desenvolvimento regional também foram insuficientes, além da falta de envolvimento da sociedade civil. Os projectos tendem a a ser concretizados pela Administração Pública e os processos de consulta ainda estão muito no início".
Existe em Portugal um problema de centralização. "Portugal continua a ser, a par da Grécia, um dos países mais centralizadores da UE". Além disso, Magone afirma que os países do Leste europeu foram muito mais rápidos a descentralizar estruturas
"O domínio das duas maiores cidades - Lisboa e Porto -não conduz a uma organização territorial, mais democrática e civicamente activa.Pelo contrário, limita as possibilidades de decisão das regiões". Magone aborda ainda, neste artigo, o "anacronismo", de 75% dos cerca de 750 mil funcionários públicos continuarem colocados em Lisboa e no Porto.
Texto transcrito do Jornal de Notícias de hoje
Nos últimos seis anos "Portugal enfrentou grandes dificuldades. A situação económica deteriorou-se e as perspectivas continuam a ser negras". Esta é a análise feita por José Magone - director do Departamento de Política e Estudos Internacionais, da Universidade de Hull, Reino Unido -, num estudo publicado na na revista "Nação e Defesa" sobre a integração de Portugal na União Europeia (UE).Neste número dedicado aos 20 anos da entrada de Portugal na CEE, Magone refere que, como um garrafa, a pretensão de um Portugal europeu "está ainda metade vazio".
Pese embora as reformas na educação, os problemas continuam a ensombrar este sector e o mesmo se passa na Justiça e no sistema de saúde", refere. O docente acentua que estes três sectores são cruciais para a legitimidade da acção política, já que a apreciação dos sucessivos governos depende de terem sido capazes de criar mais igualdade social. E a avaliação é negativa.
“Portugal continua entre os países da UE onde a distribuição da riqueza é mais desigual", diz. O grupo social mais rico aufere seis vezes e meia mais do que o mais pobre. Uns vivem muito bem e outros no limiar da pobreza. "O que é acentuado pelos baixos níveis de ensino, de má saúde e exclusão social", explica.
O estudo prossegue de forma crítica. Diz que "um obstáculo à superação da pobreza é a falta de qualificações", sendo Portugal "o país com mais baixos níveis de qualificações, afectando a qualidade da economia, assente no trabalho intensivo e não nas novas tecnologias".
Um dos maiores problemas no ensino é a desistência no secundário. A principal razão é a frágil condição financeira da maioria das famílias. Muitos jovens abandonam a escola porque têm de trabalhar". Uma política governamental de apoio às famílias carenciadas poderia provavelmente ajudar a melhorar" esta realidade, afirma
Também "o sistema de Justiça continua muito ineficiente. Muitos recursos têm sido investidos, no número de juízes e no apoio judiciário, mas a noção dos portugueses sobre a actuação da Justiça é profundamente negativa."
Alguns aspectos a reter
Depois da reforma de 1988, "Portugal foi muito entusiasta" na aplicação dos fundos comunitários em infra-estruturas. No Quadro Comunitário de Apoio (2000-2006) 48,6% dos fundos, o equivalente a 42 biliões de euros, foram canalizados para Portugal 29,1% para o Estado e 22,3% para o sector privado
A elite política esteve muito preocupada em receber fundos, mas não em mudar a cultura empresarial do país. Segundo José Magone, os projectos de desenvolvimento regional também foram insuficientes, além da falta de envolvimento da sociedade civil. Os projectos tendem a a ser concretizados pela Administração Pública e os processos de consulta ainda estão muito no início".
Existe em Portugal um problema de centralização. "Portugal continua a ser, a par da Grécia, um dos países mais centralizadores da UE". Além disso, Magone afirma que os países do Leste europeu foram muito mais rápidos a descentralizar estruturas
"O domínio das duas maiores cidades - Lisboa e Porto -não conduz a uma organização territorial, mais democrática e civicamente activa.Pelo contrário, limita as possibilidades de decisão das regiões". Magone aborda ainda, neste artigo, o "anacronismo", de 75% dos cerca de 750 mil funcionários públicos continuarem colocados em Lisboa e no Porto.
Texto transcrito do Jornal de Notícias de hoje