24.3.07

Economia britânica ainda usa trabalho escravo


Diversos sectores da economia britânica ainda usam mão-de-obra escrava, denunciou a organização Anti-Slavery International, com sede em Londres, num relatório elaborado para marcar os 200 anos da lei que proibiu o tráfico de escravos no Império Britânico.


Na actual escravatura contemporânea as vítimas, indivíduos do leste e do centro da Europa, do sudeste asiático e da América do Sul, são atraídos com promessas de emprego e acabam submetidos ao trabalho forçado sem rendimento ou com salário muito abaixo do mínimo.


Ao desenhar seu 'mapa da escravidão' na Grã-Bretanha, aquela ONG disse que, embora grande parte do tráfico de pessoas tenha como finalidade a exploração sexual, milhares são exploradas em actividades como a colheita de frutas, em fábricas de processamento de alimentos e no serviço doméstico.


Se há mais de 200 anos, o transporte de escravos gozava de protecção legal, hoje, os traficantes usam rotas regulares de migração e de concessão de vistos de trabalho.
"Eles usam a servidão por dívida, a remoção de documentos e o desconhecimento dos imigrantes de seus próprios direitos para sujeitá-los ao trabalho forçado", diz o relatório da ONG.


De acordo com a OIT, o trabalho escravo é aquele de carácter degradante, realizado sob ameaça ou coerção, e que envolve o cerceamento de liberdade.


Ainda que não se vejam mais correntes, a verdade é que na actual escravidão contemporânea, assim como na colonial, um "empregador" tem total controle sobre o trabalhador, tratando-o como uma "propriedade".

Imigração e Escravidão

A ONG baseou a sua análise qualitativa em entrevistas, relatórios e 27 casos de escravos libertados na Grã-Bretanha. Todos haviam chegado ao país pelo caminho do tráfico.
"Não é coincidência que o crescimento do tráfico aumente com a procura por mais trabalhadores migrantes no mundo", disse a Anti-Slavery.
"A falta de oportunidades para a migração regular, e o facto de muitos imigrantes buscarem no exterior um meio de sobrevivência - mais do que um meio de melhorar suas vidas - ldeixa-lhe poucas opções a não ser confiar em traficantes para conseguir trabalho."


Entre as vítimas estão homens e mulheres do leste europeu que trabalham em fazendas de cogumelos, colheitas de frutas e vegetais, e na cadeia de processamento de alimentos.
Brasileiras, colombianas e paraguaias são exploradas, principalmente, como faxineiras, e paquistanesas, indianas e bengalesas, entre outras do sudeste asiático, são coagidas a trabalhar como empregadas domésticas.
Quadrilhas organizadas controlam búlgaros, romenos e ucranianos obrigados a bater carteiras e furtar supermercados.
Curiosamente, a ONG observou que a maioria dos trabalhadores havia entrado no país legalmente. Uma vez dentro das fronteiras, passou a sofrer coerção, sobretudo através da remoção do passaporte.
Entre 2001 e 2003, metade de cerca de mil trabalhadores domésticos atendidos pela ONG Kalayaan tinham tido passaportes apreendidos pelos empregadores.
Sem ter, muitas vezes, o domínio do inglês, desconhecendo os seus direitos e permanecendo isolados da sociedade, os "escravos" acabam por ficar vulneráveis.


'Sentimento de traição'


Os chefes des gangues do Leste Europeu vão às cidades da República Checa e abordam os sem-abrigo na rua. EOferecem um lugar para morar e um trabalho decente a que vier à Grã-Bretanha.
Ao chegar à Grã-Bretanaha, os imigrantes têm o seu passaporte retido pelos patrões. Trabalham seis ou sete dias por semana, em indústrias como a de processamento de alimentos, e moram normalmente com mais três ou quatro pessoas no mesmo quarto. Eles comem feijão em lata, pão barato, e recebem 5 libras por semana (o salário mínimo britânico é de 5 libras por hora). E são obrigados a trabalhar. Isso tudo tem um nome: escravatura.
Apesar das condições desumanas em que vivem, os imigrantes quando são descobertos pelas autoridades são tratados como casos de imigração ilegal, e não como escravatura, criticou a Anti-Slavery, que defende em vez de correr o risco de deportação, os imigrantes descobertos em situação de trabalho forçado sejam autorizados a permanecer na Grã-Bretanha até receber o pagamento por seus direitos como trabalhadores.


Tipo de escravatura:
Exploração sexual – 43%
Exploração econômica – 32%
Exploração mista – 25%

Actual tráfico de escravos( por região)
Ásia/Pacífico - 1,36 milhão
Industrializados - 270 mil
A. Latina/ Caribe - 250 mil
O. Médio/ N. África - 230 mil
África subsaariana - 130 mil
Total - 2,45 milhões (número arredondado)


Fonte: OIT, 2005


Fonte: BBC