13.1.07

Liberalismo e escravatura são afinal irmãos siameses!

Retirado de:
http://animot.blogspot.com/


Contra-História do Liberalismo, de Domenico Losurdo, é um estudo sobre a relação íntima entre a defesa do liberalismo político e econômico e a prática e defesa da escravidão contra negros e contra pobres.


No livro Contra-História do Liberalismo,[1] Domenico Losurdo mostra que havia, na Inglaterra, nas suas colónias na América do Norte, e na Holanda, entre os séculos XVII e XIX, uma estreita relação entre a defesa do liberalismo e a defesa da escravidão, o que é paradoxal, pois, como lemos acima, supostamente o liberalismo é "uma ideologia ou corrente do pensamento político que defende a maximização da liberdade individual mediante o exercício dos direitos e da lei".
Raramente os defensores do liberalismo se colocaram contra a escravidão, e frequentemente a defenderam ou lucraram com a mesma. Locke, por exemplo, um dos pais do liberalismo, defendeu a escravidão e investiu em empresas de tráfico de escravos.



Tais práticas e idéias mostram que, historicamente, o liberalismo tendeu a ser a defesa da maximização da liberdade individual de um pequeno grupo de pessoas, ao mesmo tempo em que foi uma teoria e prática da desumanização de pessoas de outras etnias. Historicamente, os teóricos do liberalismo negaram a humanidade a irlandeses católicos, negros africanos e ameríndios, dizendo que o tratamento brutal aos mesmos lhes faria bem, pois lhes levaria à civilização



John C. Calhoun,[2] importante estadista e filósofo político dos EUA durante o século XIX, sétimo vice-presidente dos EUA, ao mesmo tempo que, sob inspiração de Locke, defendia apaixonadamente a liberdade do indivíduo, não via a escravidão como um mal necessário, mas sim como um bem positivo, essencial para a civilização, por ser uma forma de propriedade legítima, e amparada pela constituição dos EUA.[3]
John Locke, o filósofo da liberdade individual ante a lei, participa da redação da constituição da Província da Carolina, segundo a qual



[...] todo homem livre da Carolina deve ter absoluto poder e autoridade sobre os seus escravos negros seja qual for sua opinião e religião.[4]


Além disso, Locke fez sólidos investimentos no tráfico de africanos.[5]
Também houve liberais que defenderam a escravidão dos pobres. Entre eles se encontram Andrew Fletcher e James Burgh. Francis Hutcheson, o mestre de Adam Smith, tinha reservas à escravidão dos negros, mas considerava a escravidão das pessoas dos "níveis mais humildes" da sociedade como uma "punição útil".
[6] Diz ele que a escravidão dos pobres é:


[...] castigo normal para aqueles vagabundos preguiçosos que, mesmo depois de ter sido justamente advertidos e submetidos à servidão temporária, não conseguem sustentar a si próprios e às suas famílias com um trabalho útil.[7]


Adam Smith, um dos pais do liberalismo, percebeu que, no que diz respeito à escravidão, os "governos despóticos" são preferíveis aos "governos livres", pois nos últimos só os proprietários brancos têm representação política. Por isso, ele vê como desesperadora a situação dos escravos negros nos "governos livres", pois:


[...] toda lei é feita pelos seus donos, os quais nunca vão deixar passar uma medida favorável a eles.[8]


Por isso:
A liberdade do homem livre é a causa da grande opressão dos escravos [...].[9]

Tal como, no século XX, os nazistasjustificam suas ações na suposta superioridade da etnia germânica, o liberal John Stuart Mill defende o dominação dos ocidentais sobre os outros povos por considerar sua própria etnia, ocidental, superior às outras etnias. Para ele, os outros povos estão em situação de menoridade, e por isso precisam, para seu próprio bem, obedecer absolutamente aos ocidentais. Submetendo-se a tal ditadura pedagógica, os não-ocidentais passariam da condição selvagem à condição civilizada.[10] Mais uma vez, vê-se que a ideologia da "maximização da liberdade individual perante a lei" não é considerada nem um valor humano, nem um valor universal pelos liberais clássicos.