O colonialismo assenta fundamentalmente na imposição de um modelo económico-cultural a outras sociedades e culturas que provocou a desintegração, senão mesmo o desaparecimento, das economias e culturas autóctones, forçando essas populações a inserirem-se na chamada economia-mundo.
Com efeito, antes desses povos serem colonizados havia neles uma economia de subsistência e um certo grau de progresso como o demonstram historicamente algumas sociedades que atingiram um elevado grau de evolução.
Na verdade, os povos colonizadores não eram mais ricos nem mais civilizados do que os povos colonizados, antes da expansão das sociedades europeias através das cruzadas e da colonização, ao contrário do que muitas vezes se pretende fazer crer.
A imposição aos povos de valores, modos de vida e comportamentos a que eram alheios trouxe como consequência a destruição de muitas sociedades no plano económico e cultural e a perda e inferiorização das suas identidades próprias. Em não poucos casos chegou-se mesmo ao ponto da eliminação física de povos e sociedades (genocídio e etnocídio).
Para ilustrar tudo isso leia-se este texto com data de 1971 de autoria de Aimé Cesaire:
«É a minha vez de propor uma equação: colonização-coisificação
Já ouço a trovoada. Falam-me de trovoada, de «realizações», de doenças curadas, e de níveis de vida elevados acima de si próprios.
Eu falo de sociedade esvaziadas de si próprias, de culturas espezinhadas, de instituições minadas, de terras confiscadas, de religiões assassinadas, de magnificências artísticas enfraquecidas, de possibilidades extraordinárias suprimidas.
Atiram-me à cabeça com factos, estatísticas, quilómetros de estradas, canais e caminhos-de-ferro.
Eu falo de milhares de homens sacrificados no Congo.
Falo dos que, à mesma hora em que escrevo, escavam à mão o porto de Abidjan. Falo dos milhões de homens arrancados aos seus deuses, hábitos, vidas, à vida, à dança e à sabedoria.
Enchem-me os olhos com toneladas de algodão ou de cacau exportadas, com hectares de plantações de olivais ou de vinha.
Eu falo de economias naturais e de economias harmoniosas e viáveis que, apesar de serem desorganizadas, estavam à medida do homem indígena, e que foram destruídas juntamente com as suas culturas alimentares, falo de subalimentação crónica, de desenvolvimento agrícola orientado para benefício exclusivo das metrópoles, de saque de produtos e de matérias-primas.»