17.11.06

Canção burguesa ( de Raul de Carvalho)

Consolo e delícia
Da vida burguesa...

Sete horas em ponto
O jantar na mesa;
Café bem quentinho,
Conversa tranquila,
E um lençol de linho
Esperando o seu dono
Para um belo sono...

Que bom não ter sonhos,
Dormir sossegado!
Já estou acordado,
Já salto da cama,
- Maria, Maria,
Traga os chinelos,
Traga o meu pijama...
A alma lavada,
O corpo limpinho.
- Bom dia vizinha!
- Bom dia vizinho!


Consolo e delícia
Da vida burguesa...
Se isto continua,
Morro, com certeza!

( de Raul de Carvalho, 1920-1984)

Raul de Carvalho foi um poeta irreverente, marcado pela influência de algum surrealismo, tendo colaborado em revistas como a àrvore, Seara Nova e Cadernos de poesia.