1.10.06

Como são contratados os espiões do SIS



Como existe por aí muita «virgem» em matéria de activismo social que, ingenuamente, pensam que só há espiões do tipo James Bond (ou, quando muito, broncos como os da PIDE), reproduz-se em seguida o artigo da jornalista Helena Pereira, surgido na edição de 30 de Setembro do semanário «Sol» em que se refere como as instalações do Instituto Português da Juventude serviram de local para a prestação de provas para…«oficial de informações» ( vulgo, espião) ao serviço do Estado português, entidade que é conhecida, como toda a gente sabe, não só por ser uma pessoa colectiva soberana e independente (…), como ainda, por cima, como uma «pessoa de bem»…

Espiões por anúncio

Um anúncio no jornal a pedir licenciados para a função pública provocou, no início do ano, uma avalanche de currículos. Responderam cerca de três mil pessoas. A maior parte não sabia, mas estava a candidatar-se a um lugar de espião.
Era o início de um processo de selecção, que está agora prestes a terminar. A primeira fase consistiu num teste de cultura geral. As provas foram prestadas na zona da Expo, em Lisboa, nas instalações do Instituto Português da Juventude. Mas, nessa altura, ainda não era revelado o propósito do concurso.
Seguiram-se testes psicológicos e, por fim, uma entrevista. Aos candidatos era-lhes dito que, caso passassem, seriam aceites pela Presidência do Conselho de Ministros ( a que pertencem os serviços de informações).
Mas só na última fase surgiram perguntas delicadas. Por exemplo, se alguém estaria disposto a usar meios de tortura para obter informações que travassem uma ameaça terrorista. Cada fase foi eliminatória e só foram contactados os que passaram.
O processo de selecção entrou na fase final. Neste momento estão escolhidos 30 a 40 candidatos, que iniciarão em Outubro um curso de formação. Parte das aulas decorrerá nas instalações da Academia Militar, em Lisboa. Só depois de concluído, com sucesso, é que os candidatos poderão entrar ou no Serviço de Informações de Segurança (SIS) ou no Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED). Trata-se da primeira vez que os dois serviços promovem um recrutamento comum.

Secretas com mais verbas

Os potenciais espiões poderão ser admitidos para as áreas de análise de informações ou para as áreas operacionais dos serviços. De acordo com o SIS, os curricula académicos mais procurados são das áreas de ciências sociais e humanas. Cada candidato admitido só aduirirá vínculo definitivo à função pública ao fim de seis anos de serviço.
O Serviço de Informações da República Portuguesa (SIRP) não comenta «eventuais reforços».
«O recrutamento é uma preocupação permanente», adiantou ao SOL uma fonte governamental, salientando que os funcionários dos serviços de informações de que Portugal dispõe «são poucos» face ao «esforço de combate ao terrorismo» dos últimos anos.
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras tem dois mil funcionários, enquanto que o SIS e o SIED – que ceitam curricula via e-mail – não atingirão os quinhentos.
No Orçamento do Estado de 2006, numa altura de cortes generalizados, o SIS e o SIED tiveram um aumento ligeiro de verbas, respectivamente, 15.250 milhões e 10.400 milhões de euros.
O SIS é o serviço que está atento a ameaças internas à segurança e ordem públicas, enquanto que o SIED diz respeito à ameaça externas. Em muitos países, não existe esta diferença. Nos últimos anos, Portugal tem caminhado, aliás, para uma progressiva aproximação dos dois serviços. Este mês, o Parlamento aprovou alterações à orgânica do SIRP no sentido da unificação da estrutura de topo dos serviços e a «aglutinação» dos departamentos técnico-administrativos, como a gestão financeira de recursos humanos e informática.

Texto de Helena Pereira, publicado no jornal Sol de 30 de Setembro