«Um exame(…) teve lugar, na primavera passada, numa das instituições femininas de Moscovo.O professor (…) e depois o padre presente interrogaram as raparigas sobre os Mandamentos, nomeadamente o sexto. Depois de qualquer resposta correcta a propósito deste último ( «Não matarás»), o padre fazia às vezes uma outra pergunta: o assassinato é sempre, em todas e quaisquer circunstâncias, proibido pela lei de Deus? E as pobres raparigas instruídas na mentira pelos mestres, deviam responder e respondiam assim: « Nem sempre. O assassinato é permitido na guerra e também para castigar os criminosos.» No entanto, uma delas, (…) respondeu peremptoriamente, muito comovida e corando: «O assassinato é sempre proibido, tanto pelo antigo Testamento como por Cristo; e não é só o assassinato, mas todo o mal cometido contra o próximo.» Foi então que o padre teve de se calar, porque a rapariga saíra vencedora.
( Tolstoi para Gandhi a 7 de Setembro de 1910)
«Permita-me que lhe chame a atenção para os acontecimentos que têm ocorrido no Transval, na África do Sul, de há três anos para cá.
Há nesse país uma colónia de indianos ingleses que forma uma população de cerca de treze mil habitantes. As leis privam de certos direitos esses hindus que trabalham há vários anos no Transval: preconceitos tenazes contra os homens de cor e mesmo contra os asiáticos, devidos, em relação a estes últimos, ao jogo da concorrência comercial.
Surgiram conflitos que atingiram o ponto culminante quando há três anos foi votada uma lei que atingia especialmente os trabalhadores vindos da Ásia (…) A submissão a tal lei, não podia estar de acordo, segundo penso, com o espírito da verdadeira religião. Alguns dos meus amigos e eu próprio acreditamos ainda completamente na doutrina da não-resistência ao mal.(…)Os indianos britânicos, a quem explicámos cabalmente a situação seguiram o nosso conselho de não se submeterem à legislação. (…) Cerca de duas mil e quinhentas pessoas deixaram-se prender, algumas já cinco vezes, em nome da sua consciência.»
(Gandhi para Tolstoi, a 1 de Outubro de 1909)