6.6.05

Activismo e espiritualidade ( Starhawk)


«Muitos activistas desconfiam da religião e da espiritualidade, frequentemente por muitas e boas razões. Mas cada um de nós que estamos empenhados neste trabalho tem qualquer coisa de sagrado – no sentido em que, qualquer que seja isso, não significa conforto ou prazer, mas que determina todos os nossos outros valores, e em que estamos dispostos a assumir riscos para o servir. Não precisa de deus nem de deusas ou de divindade alguma, mas pode consistir muito simplesmente na crença na liberdade, no sentimento que experimentamos quando estamos debaixo de uma sequóia, ou quando observamos uma pássaro a atravessar o céu, ou ainda quando lutamos pela verdade e pelas crianças. O que quer que ela seja, essa coisa alimenta-nos e dá-nos força. Para aqueles activistas que se identificam com uma prática espiritual, é chegado o momento de a pôr em prática, a sério. Para todos os outros, talvez valha a pena de guardar um pouco mais de tempo para se perguntar: «porque faço eu isto? O que é que é mais importante para mim? O que é que me dá forças?»

A resposta poderá ser grande ou nobre, modesta ou banal, a música hip hop ou o grafitti. Pouco importa, mas fazei dela a vossa prioridade. Praticai-la todos os dias ou, pelo menos, regularmente. Trazei-a convosco durante as acções em que vos empenhais. Deixai-a reforçar a vossa energia quando estais desencorajado.

Temos necessidade de vós todos nesta luta prolongada. E cuidar-vos é certamente um meio de preservar um dos recursos mais preciosos do movimento.

Não há nada onde ir se lá ainda não estivermos. Se mantivermos esperança e visão. Se ousarmos marchar com coragem e agir ao serviço daquilo que amamos, as barreiras, que encontrarmos, cederão, como a polícia cedeu aquando da nossa marcha para Washington. O caminho não e balizado, nem cartografado. Isso transmite um sentimento de estranheza, mas trata-se de um sentimento vivificante, um sentimento de risco, mas também um sentimento de liberdade. Nascemos para trilhar essa caminho, e os grandes poderes da vida e da criatividade marcham connosco para um futuro viável»

Excerto de «Só a poesia», texto publicado no livro «Parcours d’une Altermondialiste» de Starhawk, na edição francesa de «Empêcheurs de penser en rond»

Nota: Starhawk é uma conhecida activista anti-globalização, feiticeira neo-pagã, autora de diversos textos e de livros que nos falam da resistência anticapitalista não-violenta e da prática espiritual.
Starhawk esteve recentemente em Paris onde debateu com os activistas e as feministas francesas as suas teses e as práticas que rotagonizou nos Estados Unidos, de onde é originária.

Mais info:
www.starhawk.org
http://paris.indymedia.org/article.php3?id_article=37090