A transição do século XIX para o seguinte foi marcada logicamente pelas tendências ideológicas e estéticas que se vinham desenhando nas últimas décadas oitocentistas. Inclusivamente a I Grande Guerra foi o resultados dos nacionalismos exasperados que se desenvolveram no século anterior. A europeização do mundo estava na em crescendo. Em termos artísticos, Paris era a capital do mundo da arte. Não admira que emergisse todo uma atitude de crítica às tradições até aí então em voga, e se sentisse um forte vento de mudança, ajudado pelas inovações tecnológicas e económicas que se registava.
Aparecem as vanguardas artísticas e literárias que pretendiam romper com o estabelecido e introduzir inovações através da originalidade, do experimentalismo e da pesquisa permanente, o que teve como efeito o divórcio do elitismo para com o público geral. Os artistas reúnem-se em movimentos , publicam livros, revistas e manifestos.
A arte vanguardista convergiu fundamentalmente para a dissolução da imagem figurativa, libertando a pintura da representação de objectos e do espaço.
O Fauvismo foi o primeiro movimento vanguardista que pretendia libertar justamente a cor da realidade natural. A designação deriva do termo francês «fauve» ( fera) e foi atribuída ao grupo de artistas que se reuniam à volta de Henri Matisse (1869-1958), e que expuseram no Salão de Outono de 1905 em Paris ( André Derain, Maurice de Vlaminck, Georges Rouault, Kees van Dongen), todos eles que enalteciam o valor da cor como elementos privilegiado da composição pictórica, com tons fortes, quentes e vibrantes. Cerca de 1908 o fauvismo extingue-se, e os seus arautos seguem caminhos próprios.
O Expressionismo nasce, mais ao menos ao mesmo tempo, na Alemanha e estende-se aos vários domínios artísticos e exerce uma influência muito mais duradoura. Tal como acontecera com os simbolistas, o expressionismo surge como reacção ao objectivismo do impressionismo e às limitações de uma pintura inspirada na percepção visual, pretendendo explorar o mundo das emoções e das sensações interiores. Caracteriza-se por uma pintura cheia de energia e vitalidade. A obra passa a ser um veículo do universo subjectivo do homem. A tudo isto não é estranho as ideias de um Nietzsche, da fenomenologia de Husserl e de um Bergson. E as influências vão desde a arte negra até Van Gogh, James Ensor e Edward Munch.
A primeira vanguarda expressionista é representada pelo grupo Die Brucke ( 1905-1913), fundado em Dresden, e que reúne nomes como Ernst Kirchner (1886-1938), Erich Heckel (1883-1970), Karl Schmidt-Rottuff ( 1884-1976), Fritz Bleyl e Emil Nolde. As suas pinturas compunham-se de cores violentas e figuras deformadas, com pinceladas vigorosas, representando temáticas de crítica social, num sentido irónico, grotesco ou dramático. Em 1913, Kirchner redige o manifesto do grupo, A Crónica do Die Brucke, enunciando uma pintura que estabeleceria a ponte entre o visível e o invisível, e uma arte que pretendia exprimir o impulso criador.
Com a I Grande Guerra o grupo dissolve-se vindo a influenciar a criação do movimento «Nova Objectividade» fundado em 1925 por Max Beckmann (1884-1950), Otto Dix (1891-1969) e George Groz (1893-1959). Denunciando a perversidade, a decadência, a injustiça e a desordem da sociedade, o Expressionismo subsiste até os nazis o acusarem de «arte degenerada».
Em 1910 é fundada em Munique a segunda vanguarda do Expressionismo por via do grupo Der Blaue Reiter ( «O Cavaleiro Azul»), por Wassily Kandinsky (1866-1944) e Franz Marc, Auguste Macke, A. Jawlensky, Paul Klee (1879-1940), que se reuniram à volta do primeiro e das suas teorias expressas na obra «Do Espiritual na Arte» de 1912. Aí comparou a linguagem plástica com a musical, definindo a obra como uma necessidade interior, a qual se acede através da «intuição» ou «empatia». As suas teses sobre uma pintura sem objecto, assente em composições abstractas com uma dimensão lírica e poética, foram a génese da arte abstracta. Nesse mesmo ano, Kandinsky e Marc publicaram o Almanaque do Cavaleiro Azul, uma compilação de ideias e ilustrações ( desenhos infantis, gravuras medievais, arte primitiva, e alguma arte moderna) a que associaram canções de Schonberg, Berg e Webern.
Entre 1905 e 1913 aparece a chamada Escola de Paris que abrange um número considerável de artistas de várias proveniências e nacionalidades e atraídos pela capital das artes. Esta geração de pintores malditos partilhava o gosto pela vida boémia, o espírito excêntrico e transgressor, a busca incessante da originalidade e o empenho absoluto na arte como forma de vida. Quanto à opções artísticas privilegiavam um estilo figurativo e à margem das vanguardas. De entre outros destacam-se nomes como o italiano Amadeo Modigliani (1884-1920), o russo Marc Chagall (1887-1985), o lituano Chaim Soutine (1894-1943), o polaco Moise Kisling, o búlgaro Jules Pascin, e o japonês Tsuguharu Foujita.
O Cubismo foi a vanguarda que dominou a cena artística parisiense entre 1907 e 1914, apesar dos seus fundadores – Pablo Picasso (1881-1973) e Georges Braque ( 1882-1963) – nunca terem utilizado o termo.
Enquanto as anteriores vanguardas abordavam os problemas da expressão e da cor, Picasso e Braque abordaram os problemas da forma e do espaço. Os cubistas contrapunham um outro olhar - inspirados sem dúvida no primitivismo das máscaras africanas, e ainda na Teoria da Relatividade, que estabelecia a equivalência entre matéria e energia e a relatividade do espaço e do tempo – um olhar em movimento, que podia ver o objecto a partir de diferentes pontos de vista, substituindo a imagem visual por uma imagem mental.
Neste sentido, a obra «As Meninas de Avignon» de Picasso, considerada a primeira criação cubista, deu sequência ao problema formal colocado por Cézanne: reduzir toda a realidade a estruturas simples e elementares, e procurar uma nova maneira de a representar. E é sob a influência deste último que se desenrolará a fase cézanniana (1907-1909) dominada pela geometrização das formas, e a eliminação da profundidade e do claro-escuro e sobreposição de planos. Seguiu-se a fase analítica (1910-1912) caracterizada pela análise exaustiva dos objectos, decompondo-os e reduzindo-os à bidimensionalidade. Finalmente temos a fase sintética (1913-1914) caracterizada pela redução do espaço e das formas uma síntese e acumulação de planos, cada vez mais esquematizados, e pela introdução de collages. O quadro torna-se assim um objecto em si mesmo.
O Cubismo gerou 3 movimentos de curta duração: a Section d’or, o orfismo e o purismo. O primeiro foi criado em 1912 pelos irmãos Duchamp ( Jacques Villon, Raymond Duchamp-Villon, e Marcel Duchamo), juntamente com Frank Kupka, Francis Picabia e Archipenko. Inspirando-se nos fundamentos da Secção de Ouro – um sistema de proporções geométricas – estes artistas pretenderam resolver problemas de harmonia e proporção da composição, motivados pelas relações matemáticas e geométricas.
Ao assistir a uma das suas exposições, Apollinaire, escritor e crítico, designou de Orfismo as obras expostas de Obert Delaunay. Recuperando o mito de Orfeu, Apollinaire referia-se aos ritmos e aos efeitos cromáticos puramente abstractos, criados pelas formas circulares com referências líricas e musicais. O orfismo é representado por Delaunay, a sua mulher Sónia Terk Delaunay, Fernand Léger, e outros artista da Section d’or que evoluíram para a abstracção geométrica.
Apesar de ligado ao cubismo, o Purismo rejeita a destruição das formas e defendem a estrutura rigorosa dos objectos e a clareza das composições. As suas figuras são Amédée Ozenfant e Le Corbusier ( 1887-1966).
O Futurismo nasce em Paris a 20 de Fevereiro de 1909 quando o jornal Le Fígaro publica o Manifesto do Futurismo pelo poeta italiano Filippo Marinetti (1876-1944). A ele aderiram. De imediato vários pintores italianos ( Umberto Boccioni, Giacomo Balla, Carlo Carrà, Gino Severini, Luigi Russolo). O manifesto e o café-teatro são os meios utilizados por este movimento para se dar a conhecer. De forma violenta, subversiva e incendiária, Marinetti propunha a renovação radical e regeneradora dos temas, das formas e das linguagens artísticas. Marinetto exalta a tumultuosa vida moderna, louva a agitação frenética das metrópoles industriais , elogia a máquina e a beleza da velocidade. O seu nacionalismo extremo e adesão de Marinetti ao Fascismo marcam o declínio do movimento.
O Vorticismo ( do latim, vortex: turbilhão) partilha com o cubismo a tendência para a geometrização das formas, herdando do futurismo o fascínio pelas máquinas e pelo movimento.
A Revolução Russa de 1917 protagonizada pelos bolchevistas trouxe todo um novo ambiente cultural à nova Rússia que explica a emergência de uma nova geração russa, a vanguarda russa. Natália Gontcharova e Mijail Lariónov foram influenciados pelo cubismo.Mas o movimento que mais se impôs foi o futurismo através do chamado cubo-futurismo ( com nome como Maiakovski, Vladimir Tatlin, Casimir Malevitch, Liubov Popova)
Das mesmas influências emergiu o Raionismo,uma doutrina divergente da anterior, concebida por Gontcharona e Lariónov em 1913, uma espécie de síntese do Cubismo, Futurismo e Orfismo, mas com uma maior aproximação á abstracção, e que se fundamentava nas leis da física da cor e da luz.
As ideias deste último irão pesar no Suprematismo ( de Malevitch) e no Construtivismo ( de Tatlin)
Embora de forma nem sempre consciente, as principais vanguardas do início do século XX convergiam no sentido de dar maior autonomia à pintura relativamente à experiência visual da realidade exterior dos objectos e para entenderem quadro como um objecto estético independente de quaisquer referências exteriores a si próprio.
O primeiro passo para a concepção de uma expressão plástica não figurativa foi dado por Konrad Fiedler (1841-1895) que lançou as bases da corrente «formalista» e da «teoria da visibilidade pura», entendendo a natureza da arte como a manifestação de formas representadas, com «intenções visuais puras» por parte do artista. Mas foi Worringer quem, decisivamente, abriu as portas para a «forma abstracta». Apoiando-se na ideia de Einfuhlung, este filósofo alemão propunha a explicação da obra de arte através de sentimentos que as formas despertam em nós, por intuição e empatia, acentuando o significado interior da forma e remetendo para segundo plano aquilo que ela representava. Nascia, assim, o primeiro fundamento da arte abstracta. É abstracta toda a arte sem qualquer referência à realidade observada; uma arte que devemos julgar apenas do ponto de vista da harmonia, da composição, da ordem e de um espaço animado por linhas, formas, cores, luz, materiais e técnicas.
Kandinsky foi o pioneiro da arte abstracta. A partir das experiências realizadas no seio do grupo Der Blauer Reiter, o pintor russo formulou a ideia de que um quadro pode prescindir totalmente da representação. A primeira pintura abstracta é « Primeira Aguarela Abstracta».
O Abstracionismo é seguido ainda por Paul Klee e pela Bauhaus. Klee recorre ao inconsciente para fazr emergir ummundo de fantasia, magia e sonho.
O Suprematismo aparece em 1913 quando Malevitch, o escritor Kruchenik e o compositor Matishin fundam o «Primeiro Congresso de Futuristas de todas as Rússias» e anunciam num manifesto a realização da ópera futurista «Vitória sobre o Sol». Numa linguagem desprovida de qualquer sentido ou lógica – a música é composta por gritos e ruídos – a obra celebra o domínio da técnica sobre a natureza, segundo o ideário futurista.Malevitch desenha o guarda-roupa e os cenários numa linguagem geométrica e abstracta que o levam ao Suprematismo.
Na «Exposição 0,10»em 1915, Malevitch apresenta 39 obras não-objectivas, isto é, totalmente abstractas, constituídas por figuras geométricas monocromáticas dispostas livremente sobre fundos brancos, renunciando a tudo o que pudesse produzir qualquer tipo de sugestão, ideia ou emoção. Entre elas figurava o «Quadrado Negro», um simples quadrado negro sobre uma superfície branca, e que constituía uma reacção iconoclasta contra a maneira tradicional da pintura. Malevitch chega às formas básicas não-objectivas ( o quadrado, o círculo, a cruz) e a redução cromática ( cores primárias, o branco e o preto). O expoente máximo do suprematismo é a obra « Quadrado branco sobre branco».
Por sua vez, Tatlin apresenta em 1913 os seus «Contra-Relevos», objectos em metal e madeira, libertos de qualquer objectividade ou figuração que o levará ao Construtivismo em 1915, onde se defende uma arte de sentido útil e funcional, empenhada no progresso permitido pelas novas tecnologias. Outros nomes do construtivismo são Rodchenko, El Lissitzky.
O neoplastcismo aparece-nos pela mão do holandês Piet Mondrian (1872-1944). Este, depois de se ter aproximado dos fauves e do cubismo, chega à abstracção através de um processo conciso de depuração da forma, decompondo imagens em planos e fragmentos lineares até atingir uma síntese de formas puras e cores primárias. O seu carácter místico e religioso e a sua busca por uma explicação ontológica é traduzido pela adesão à Sociedade teosófica (universalista, esotérica e filosófica). Em 1917 funda com Théo Van Doesburg a revista De Stijl (O Estilo), cujo primeiro manifesto é proclamada a necessidade de uma «nova plástica» que elimine qualquer cópia da natureza, combata o individualismo e anuncie uma harmonia universal, «uma unidade internacional na Vida, na Arte e na Cultura». A partir daqui Mondrian cria o Neoplasticismo, uma linguagem puramente abstracta e racional, regida pela geometria, sem subjectividade nem emotividade preconizando uma sociedade equilibrada e universalista. Poucos anos depois o movimento chaga ao fim, não sem antes ter influenciado a arquitectura e arte por via de nomes como Gerrit Rietveld, Jacobus Oud, e a Bauhaus.
Durante a i Grande Guerra, a Suiça manteve-se neutral, constituindo um refúgio para muita gente. Daí não ser estranhar que para lá confluíssem artistas e escritores. O Cabaret Voltaire, aberto em 1915 pelo poeta alemão Hugo Ball, em Zurique, tornou-se ponto de encontro de emigrados e refugiados e as suas sessões começam a ser muito concorridas. As perfomances de música, declamação, dança, exposições misturam música de Satie, Schonberg, bruitisme ( música de ruídos), poemas tribais, poemas com sílabas sem nexo, interjeições, tudo feito com mais ou menos improvisações, e protagonizados por poetas espontâneos, que criam manifestos contra tudo e todos. Tratava-se no fundo de uma confluência de vanguardas, aquilo que aconteceu em Zurique.
De lá surgiu o dadaísmo em 1916 protagonizado pelo poeta romeno Tristan Tzara (1896-1963), o casal Jean Arp, e Sphie Taeuber. No ano seguinte, o Dada já era internacionalmente conhecido, aceitando todas as experiências que destruíssem os valores e as normas estéticas estabelecidas, questionando até os próprios conceitos de arte, obra e artista. O espírito nihilista exaltava a espontaneidade, a anarquia e o individualismo da criação. Em 1918 Tzara apresenta o Manifesto Dada, quando o movimento já se expande em vários núcleos: Raoul Haussmann, John Heartfield, Geroge Groz em Berlim; Kurt Schwitters e os seus Merzbilders em Hannover; Max Ernst em Colónia; Jean Arp e Man Ray (1887-1968) em Paris; Francis Picabia e Marcel Duchamp em Nova Iorque. São adoptadas técnicas combinatórias ( a colagem, a assemblage, a foto-montagem), reinventadas as relações entre objectos ( o ready-made, objectos retirados do seu contexto e convertidos em obras de arte) e legitimados novos conceitos. O Dadaísmo influenciou posteriormente o Surrealismo, o Informalismo e constitui um antecedente da Arte conceptual.
O fim da I Grande Guerra trouxe não poucas consequências quer a nível político ( ascensão de movimentos políticos, revoluções), económico ( Europa arruinada, ambiente eufórico nos Estados Unidos até aos crasch de 1929), e artístico-cultural ( revitalização de linguagens pictóricas, uma espécie de «regresso à ordem» depois dos excessos do experimentalismo vanguardista).
É neste contexto que surge o Surrealismo fundado por André Breton (1896-1966) que publica o Manifesto do Surrealismo em 1924. Influenciado por Freud, pela poesia de Rimbaud e Baudelaire, a pintura de Chirico e a poética dadaísta, Breton defendia que a criação artística devia resultar da experiência psíquica do inconsciente, emancipando a imaginação dos entraves da razão e de factores de ordem social e cultural: «Surrealismo –puro automatismo psíquico, através do qual podemos expressar verbalmente, por escrito ou qualquer outro meio o processo real do pensamento». Diferenciam-se então duas tendências: a do automatismo psíquico ou livre associação com Joan Miró (1893-1983, Max Ernst (1891-1976), André Masson; e a da via onírica com Salvdor Dali (1904- 1989), René Magritte (1898-1967), Yves Tanguy.
Outra corrente que recuperou a representação figurativa foi o Neo-Realismo que teve na América latina, por influência da revolução mexicana de 1910, o seu momento alto durante os anos 20 e 30 por intermédio de Diego Rivera (1886-1957), José Clemente Orozco e David Siqueiros, os quais assumiram um forte empenhamento político e social. Estes autores recuperaram ainda a tradição dos frescos murais monumentais, marcados pelas tradições aztecas e maias.
Aparecem as vanguardas artísticas e literárias que pretendiam romper com o estabelecido e introduzir inovações através da originalidade, do experimentalismo e da pesquisa permanente, o que teve como efeito o divórcio do elitismo para com o público geral. Os artistas reúnem-se em movimentos , publicam livros, revistas e manifestos.
A arte vanguardista convergiu fundamentalmente para a dissolução da imagem figurativa, libertando a pintura da representação de objectos e do espaço.
O Fauvismo foi o primeiro movimento vanguardista que pretendia libertar justamente a cor da realidade natural. A designação deriva do termo francês «fauve» ( fera) e foi atribuída ao grupo de artistas que se reuniam à volta de Henri Matisse (1869-1958), e que expuseram no Salão de Outono de 1905 em Paris ( André Derain, Maurice de Vlaminck, Georges Rouault, Kees van Dongen), todos eles que enalteciam o valor da cor como elementos privilegiado da composição pictórica, com tons fortes, quentes e vibrantes. Cerca de 1908 o fauvismo extingue-se, e os seus arautos seguem caminhos próprios.
O Expressionismo nasce, mais ao menos ao mesmo tempo, na Alemanha e estende-se aos vários domínios artísticos e exerce uma influência muito mais duradoura. Tal como acontecera com os simbolistas, o expressionismo surge como reacção ao objectivismo do impressionismo e às limitações de uma pintura inspirada na percepção visual, pretendendo explorar o mundo das emoções e das sensações interiores. Caracteriza-se por uma pintura cheia de energia e vitalidade. A obra passa a ser um veículo do universo subjectivo do homem. A tudo isto não é estranho as ideias de um Nietzsche, da fenomenologia de Husserl e de um Bergson. E as influências vão desde a arte negra até Van Gogh, James Ensor e Edward Munch.
A primeira vanguarda expressionista é representada pelo grupo Die Brucke ( 1905-1913), fundado em Dresden, e que reúne nomes como Ernst Kirchner (1886-1938), Erich Heckel (1883-1970), Karl Schmidt-Rottuff ( 1884-1976), Fritz Bleyl e Emil Nolde. As suas pinturas compunham-se de cores violentas e figuras deformadas, com pinceladas vigorosas, representando temáticas de crítica social, num sentido irónico, grotesco ou dramático. Em 1913, Kirchner redige o manifesto do grupo, A Crónica do Die Brucke, enunciando uma pintura que estabeleceria a ponte entre o visível e o invisível, e uma arte que pretendia exprimir o impulso criador.
Com a I Grande Guerra o grupo dissolve-se vindo a influenciar a criação do movimento «Nova Objectividade» fundado em 1925 por Max Beckmann (1884-1950), Otto Dix (1891-1969) e George Groz (1893-1959). Denunciando a perversidade, a decadência, a injustiça e a desordem da sociedade, o Expressionismo subsiste até os nazis o acusarem de «arte degenerada».
Em 1910 é fundada em Munique a segunda vanguarda do Expressionismo por via do grupo Der Blaue Reiter ( «O Cavaleiro Azul»), por Wassily Kandinsky (1866-1944) e Franz Marc, Auguste Macke, A. Jawlensky, Paul Klee (1879-1940), que se reuniram à volta do primeiro e das suas teorias expressas na obra «Do Espiritual na Arte» de 1912. Aí comparou a linguagem plástica com a musical, definindo a obra como uma necessidade interior, a qual se acede através da «intuição» ou «empatia». As suas teses sobre uma pintura sem objecto, assente em composições abstractas com uma dimensão lírica e poética, foram a génese da arte abstracta. Nesse mesmo ano, Kandinsky e Marc publicaram o Almanaque do Cavaleiro Azul, uma compilação de ideias e ilustrações ( desenhos infantis, gravuras medievais, arte primitiva, e alguma arte moderna) a que associaram canções de Schonberg, Berg e Webern.
Entre 1905 e 1913 aparece a chamada Escola de Paris que abrange um número considerável de artistas de várias proveniências e nacionalidades e atraídos pela capital das artes. Esta geração de pintores malditos partilhava o gosto pela vida boémia, o espírito excêntrico e transgressor, a busca incessante da originalidade e o empenho absoluto na arte como forma de vida. Quanto à opções artísticas privilegiavam um estilo figurativo e à margem das vanguardas. De entre outros destacam-se nomes como o italiano Amadeo Modigliani (1884-1920), o russo Marc Chagall (1887-1985), o lituano Chaim Soutine (1894-1943), o polaco Moise Kisling, o búlgaro Jules Pascin, e o japonês Tsuguharu Foujita.
O Cubismo foi a vanguarda que dominou a cena artística parisiense entre 1907 e 1914, apesar dos seus fundadores – Pablo Picasso (1881-1973) e Georges Braque ( 1882-1963) – nunca terem utilizado o termo.
Enquanto as anteriores vanguardas abordavam os problemas da expressão e da cor, Picasso e Braque abordaram os problemas da forma e do espaço. Os cubistas contrapunham um outro olhar - inspirados sem dúvida no primitivismo das máscaras africanas, e ainda na Teoria da Relatividade, que estabelecia a equivalência entre matéria e energia e a relatividade do espaço e do tempo – um olhar em movimento, que podia ver o objecto a partir de diferentes pontos de vista, substituindo a imagem visual por uma imagem mental.
Neste sentido, a obra «As Meninas de Avignon» de Picasso, considerada a primeira criação cubista, deu sequência ao problema formal colocado por Cézanne: reduzir toda a realidade a estruturas simples e elementares, e procurar uma nova maneira de a representar. E é sob a influência deste último que se desenrolará a fase cézanniana (1907-1909) dominada pela geometrização das formas, e a eliminação da profundidade e do claro-escuro e sobreposição de planos. Seguiu-se a fase analítica (1910-1912) caracterizada pela análise exaustiva dos objectos, decompondo-os e reduzindo-os à bidimensionalidade. Finalmente temos a fase sintética (1913-1914) caracterizada pela redução do espaço e das formas uma síntese e acumulação de planos, cada vez mais esquematizados, e pela introdução de collages. O quadro torna-se assim um objecto em si mesmo.
O Cubismo gerou 3 movimentos de curta duração: a Section d’or, o orfismo e o purismo. O primeiro foi criado em 1912 pelos irmãos Duchamp ( Jacques Villon, Raymond Duchamp-Villon, e Marcel Duchamo), juntamente com Frank Kupka, Francis Picabia e Archipenko. Inspirando-se nos fundamentos da Secção de Ouro – um sistema de proporções geométricas – estes artistas pretenderam resolver problemas de harmonia e proporção da composição, motivados pelas relações matemáticas e geométricas.
Ao assistir a uma das suas exposições, Apollinaire, escritor e crítico, designou de Orfismo as obras expostas de Obert Delaunay. Recuperando o mito de Orfeu, Apollinaire referia-se aos ritmos e aos efeitos cromáticos puramente abstractos, criados pelas formas circulares com referências líricas e musicais. O orfismo é representado por Delaunay, a sua mulher Sónia Terk Delaunay, Fernand Léger, e outros artista da Section d’or que evoluíram para a abstracção geométrica.
Apesar de ligado ao cubismo, o Purismo rejeita a destruição das formas e defendem a estrutura rigorosa dos objectos e a clareza das composições. As suas figuras são Amédée Ozenfant e Le Corbusier ( 1887-1966).
O Futurismo nasce em Paris a 20 de Fevereiro de 1909 quando o jornal Le Fígaro publica o Manifesto do Futurismo pelo poeta italiano Filippo Marinetti (1876-1944). A ele aderiram. De imediato vários pintores italianos ( Umberto Boccioni, Giacomo Balla, Carlo Carrà, Gino Severini, Luigi Russolo). O manifesto e o café-teatro são os meios utilizados por este movimento para se dar a conhecer. De forma violenta, subversiva e incendiária, Marinetti propunha a renovação radical e regeneradora dos temas, das formas e das linguagens artísticas. Marinetto exalta a tumultuosa vida moderna, louva a agitação frenética das metrópoles industriais , elogia a máquina e a beleza da velocidade. O seu nacionalismo extremo e adesão de Marinetti ao Fascismo marcam o declínio do movimento.
O Vorticismo ( do latim, vortex: turbilhão) partilha com o cubismo a tendência para a geometrização das formas, herdando do futurismo o fascínio pelas máquinas e pelo movimento.
A Revolução Russa de 1917 protagonizada pelos bolchevistas trouxe todo um novo ambiente cultural à nova Rússia que explica a emergência de uma nova geração russa, a vanguarda russa. Natália Gontcharova e Mijail Lariónov foram influenciados pelo cubismo.Mas o movimento que mais se impôs foi o futurismo através do chamado cubo-futurismo ( com nome como Maiakovski, Vladimir Tatlin, Casimir Malevitch, Liubov Popova)
Das mesmas influências emergiu o Raionismo,uma doutrina divergente da anterior, concebida por Gontcharona e Lariónov em 1913, uma espécie de síntese do Cubismo, Futurismo e Orfismo, mas com uma maior aproximação á abstracção, e que se fundamentava nas leis da física da cor e da luz.
As ideias deste último irão pesar no Suprematismo ( de Malevitch) e no Construtivismo ( de Tatlin)
Embora de forma nem sempre consciente, as principais vanguardas do início do século XX convergiam no sentido de dar maior autonomia à pintura relativamente à experiência visual da realidade exterior dos objectos e para entenderem quadro como um objecto estético independente de quaisquer referências exteriores a si próprio.
O primeiro passo para a concepção de uma expressão plástica não figurativa foi dado por Konrad Fiedler (1841-1895) que lançou as bases da corrente «formalista» e da «teoria da visibilidade pura», entendendo a natureza da arte como a manifestação de formas representadas, com «intenções visuais puras» por parte do artista. Mas foi Worringer quem, decisivamente, abriu as portas para a «forma abstracta». Apoiando-se na ideia de Einfuhlung, este filósofo alemão propunha a explicação da obra de arte através de sentimentos que as formas despertam em nós, por intuição e empatia, acentuando o significado interior da forma e remetendo para segundo plano aquilo que ela representava. Nascia, assim, o primeiro fundamento da arte abstracta. É abstracta toda a arte sem qualquer referência à realidade observada; uma arte que devemos julgar apenas do ponto de vista da harmonia, da composição, da ordem e de um espaço animado por linhas, formas, cores, luz, materiais e técnicas.
Kandinsky foi o pioneiro da arte abstracta. A partir das experiências realizadas no seio do grupo Der Blauer Reiter, o pintor russo formulou a ideia de que um quadro pode prescindir totalmente da representação. A primeira pintura abstracta é « Primeira Aguarela Abstracta».
O Abstracionismo é seguido ainda por Paul Klee e pela Bauhaus. Klee recorre ao inconsciente para fazr emergir ummundo de fantasia, magia e sonho.
O Suprematismo aparece em 1913 quando Malevitch, o escritor Kruchenik e o compositor Matishin fundam o «Primeiro Congresso de Futuristas de todas as Rússias» e anunciam num manifesto a realização da ópera futurista «Vitória sobre o Sol». Numa linguagem desprovida de qualquer sentido ou lógica – a música é composta por gritos e ruídos – a obra celebra o domínio da técnica sobre a natureza, segundo o ideário futurista.Malevitch desenha o guarda-roupa e os cenários numa linguagem geométrica e abstracta que o levam ao Suprematismo.
Na «Exposição 0,10»em 1915, Malevitch apresenta 39 obras não-objectivas, isto é, totalmente abstractas, constituídas por figuras geométricas monocromáticas dispostas livremente sobre fundos brancos, renunciando a tudo o que pudesse produzir qualquer tipo de sugestão, ideia ou emoção. Entre elas figurava o «Quadrado Negro», um simples quadrado negro sobre uma superfície branca, e que constituía uma reacção iconoclasta contra a maneira tradicional da pintura. Malevitch chega às formas básicas não-objectivas ( o quadrado, o círculo, a cruz) e a redução cromática ( cores primárias, o branco e o preto). O expoente máximo do suprematismo é a obra « Quadrado branco sobre branco».
Por sua vez, Tatlin apresenta em 1913 os seus «Contra-Relevos», objectos em metal e madeira, libertos de qualquer objectividade ou figuração que o levará ao Construtivismo em 1915, onde se defende uma arte de sentido útil e funcional, empenhada no progresso permitido pelas novas tecnologias. Outros nomes do construtivismo são Rodchenko, El Lissitzky.
O neoplastcismo aparece-nos pela mão do holandês Piet Mondrian (1872-1944). Este, depois de se ter aproximado dos fauves e do cubismo, chega à abstracção através de um processo conciso de depuração da forma, decompondo imagens em planos e fragmentos lineares até atingir uma síntese de formas puras e cores primárias. O seu carácter místico e religioso e a sua busca por uma explicação ontológica é traduzido pela adesão à Sociedade teosófica (universalista, esotérica e filosófica). Em 1917 funda com Théo Van Doesburg a revista De Stijl (O Estilo), cujo primeiro manifesto é proclamada a necessidade de uma «nova plástica» que elimine qualquer cópia da natureza, combata o individualismo e anuncie uma harmonia universal, «uma unidade internacional na Vida, na Arte e na Cultura». A partir daqui Mondrian cria o Neoplasticismo, uma linguagem puramente abstracta e racional, regida pela geometria, sem subjectividade nem emotividade preconizando uma sociedade equilibrada e universalista. Poucos anos depois o movimento chaga ao fim, não sem antes ter influenciado a arquitectura e arte por via de nomes como Gerrit Rietveld, Jacobus Oud, e a Bauhaus.
Durante a i Grande Guerra, a Suiça manteve-se neutral, constituindo um refúgio para muita gente. Daí não ser estranhar que para lá confluíssem artistas e escritores. O Cabaret Voltaire, aberto em 1915 pelo poeta alemão Hugo Ball, em Zurique, tornou-se ponto de encontro de emigrados e refugiados e as suas sessões começam a ser muito concorridas. As perfomances de música, declamação, dança, exposições misturam música de Satie, Schonberg, bruitisme ( música de ruídos), poemas tribais, poemas com sílabas sem nexo, interjeições, tudo feito com mais ou menos improvisações, e protagonizados por poetas espontâneos, que criam manifestos contra tudo e todos. Tratava-se no fundo de uma confluência de vanguardas, aquilo que aconteceu em Zurique.
De lá surgiu o dadaísmo em 1916 protagonizado pelo poeta romeno Tristan Tzara (1896-1963), o casal Jean Arp, e Sphie Taeuber. No ano seguinte, o Dada já era internacionalmente conhecido, aceitando todas as experiências que destruíssem os valores e as normas estéticas estabelecidas, questionando até os próprios conceitos de arte, obra e artista. O espírito nihilista exaltava a espontaneidade, a anarquia e o individualismo da criação. Em 1918 Tzara apresenta o Manifesto Dada, quando o movimento já se expande em vários núcleos: Raoul Haussmann, John Heartfield, Geroge Groz em Berlim; Kurt Schwitters e os seus Merzbilders em Hannover; Max Ernst em Colónia; Jean Arp e Man Ray (1887-1968) em Paris; Francis Picabia e Marcel Duchamp em Nova Iorque. São adoptadas técnicas combinatórias ( a colagem, a assemblage, a foto-montagem), reinventadas as relações entre objectos ( o ready-made, objectos retirados do seu contexto e convertidos em obras de arte) e legitimados novos conceitos. O Dadaísmo influenciou posteriormente o Surrealismo, o Informalismo e constitui um antecedente da Arte conceptual.
O fim da I Grande Guerra trouxe não poucas consequências quer a nível político ( ascensão de movimentos políticos, revoluções), económico ( Europa arruinada, ambiente eufórico nos Estados Unidos até aos crasch de 1929), e artístico-cultural ( revitalização de linguagens pictóricas, uma espécie de «regresso à ordem» depois dos excessos do experimentalismo vanguardista).
É neste contexto que surge o Surrealismo fundado por André Breton (1896-1966) que publica o Manifesto do Surrealismo em 1924. Influenciado por Freud, pela poesia de Rimbaud e Baudelaire, a pintura de Chirico e a poética dadaísta, Breton defendia que a criação artística devia resultar da experiência psíquica do inconsciente, emancipando a imaginação dos entraves da razão e de factores de ordem social e cultural: «Surrealismo –puro automatismo psíquico, através do qual podemos expressar verbalmente, por escrito ou qualquer outro meio o processo real do pensamento». Diferenciam-se então duas tendências: a do automatismo psíquico ou livre associação com Joan Miró (1893-1983, Max Ernst (1891-1976), André Masson; e a da via onírica com Salvdor Dali (1904- 1989), René Magritte (1898-1967), Yves Tanguy.
Outra corrente que recuperou a representação figurativa foi o Neo-Realismo que teve na América latina, por influência da revolução mexicana de 1910, o seu momento alto durante os anos 20 e 30 por intermédio de Diego Rivera (1886-1957), José Clemente Orozco e David Siqueiros, os quais assumiram um forte empenhamento político e social. Estes autores recuperaram ainda a tradição dos frescos murais monumentais, marcados pelas tradições aztecas e maias.