25.1.13
Drummond de Andrade contra o mundo capitalista
O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e com as suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
promete ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta
um verme.
Carlos Drummond de Andrade,
"Nosso Tempo", in A Rosa do Povo, Editora Record, 2003
22.1.13
21.1.13
20.1.13
Desliga a Tv e liga o cérebro para começares a reflectir
Clicar por cima da imagem para ampliar
weblinks:
10 boas razões para desligares a televisão:
Festival «Semana sem tv» de 2011 em França
19.1.13
A inolvidável Janis Joplin e a sua inconfundível voz rouca fariam hoje 70 anos
Janis Lyn Joplin (19 de Janeiro de 1943 — 4 de Outubro de 1970) foi uma cantora e compositora norte-americana beatnick. Considerada um símbolo da contra-cultura "a maior cantora de rock dos anos 60" e "a maior cantora de blues e soul da sua geração", ela alcançou proeminência no fim dos anos 60 como vocalista da Big Brother and the Holding Company e, posteriormente, como artista solo, acompanhada de suas bandas de suporte, a Kozmic Blues e a Full Tilt Boogie.
Influenciada por grandes nomes do jazz e do blues como Aretha Franklin, Billie Holiday, Etta James, Tina Turner, Big Mama Thornton, Odetta, Leadbelly e Bessie Smith, Janis fez de sua voz a sua característica mais marcante, tornando-se um dos ícones do rock psicodélico e dos anos 60 .
O filme The Rose, com Bette Midler, baseou-se em sua vida.
Discografia
Big Brother and the Holding Company
• Big Brother & the Holding Company - 1967
• Cheap Thrills - 1968
• Live at Winterland '68 - 1999
Kozmic Blues Band
• I Got Dem Ol' Kozmic Blues Again Mama! - 1969
Full Tilt Boogie Band
• Pearl - 1971
Big Brother and the Holding Company / Full Tilt Boogie Band
• Joplin: In Concert - 1972
Basta de Atropelamentos - Pela convivência pacífica e respeito pelos modos suaves (hoje às 15h. há manifestação em várias cidades)
Hoje, dia 19 de janeiro de 2013, realiza-se a Manifestação “Basta de Atropelamentos, pela convivência pacífica e respeito pelos modos suaves”.
A manifestação foi convocada pela Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB) e terá lugar às 15 horas em diversas cidades do país.
Cidades que já aderiram e onde ocorrerão as manifestações:
* Lisboa, Terreiro do Paço
* Porto, Av. dos Aliados
* Faro, Jardim Manuel Bivar
* Guarda, Largo da Sé
* Barcelos, Largo da Porta Nova
* Coimbra, Praça da República
* Braga, Chafariz da Arcada
* Leiria, Praça Rodrigo Lobo
* Machico, Praça Forúm Machico
* Seia, Largo da Câmara Municipal
* V.N. Famalicão, Praça D. Maria II
* V. R. St. António, Praça Marquês de Pombal
* Tavira, Praça da República
* Póvoa do Varzim, Praça do Almada
* Aveiro, Praça do Peixe
* Setúbal, Praça do Bocage
* Peso da Régua, Parque Multiusos
* Beja, Praça da República
* Portalegre, Praça da República
* Figueira da Foz, Paços do Município
* Évora, Praça do Giraldo
* Guimarães, Largo do Toural
* Portimão, Largo Heleodoro Salgado
* Águeda, Praça do Município
* Vila Nova de Santo André, Praça da Concórdia
* Santarém, Largo do Seminário
* Estremoz, Edifício da Câmara Municipal
16.1.13
Homenagem a Amílcar Cabral no 40º aniversário da sua morte na galeria Zé dos Bois (17 de Janeiro) e Seminário na Fundação Mário Soares (21 de Jan.)
No próximo dia 20 de Janeiro completam-se 40 anos sobre a morte de Amílcar
Cabral. Um Homem que fez a história da Guiné e Cabo Verde lutando contra o
colonialismo português.
A
galeria lisboeta Zé Dos Bois e a
discoleta africana B.leza juntam-se em homenagem a Amílcar Cabral, na
comemoração do 40º aniversário da sua morte
Programa
ZDB - 17 de Janeiro de 2013
Luta ca caba inda - Visionamento e conversa com Filipa César e Sana na N’Hada.
Aquário ZDB, das 18h às 20h30
Visionamento e conversa com Filipa César e Sana na N’Hada.
No âmbito do projecto Luta ca caba inda, a artista Filipa César e o realizador Sana na N’Hada apresentam, pela primeira vez em Lisboa, excertos de filmes raros e de brutos arquivados no Instituto Nacional do Cinema e do Audiovisual da Guiné-Bissau (INCA). Os filmes serão projectados ao longo da tarde, a par de comentários, discussão e esclarecimentos.
Primeira Parte:
Filme A: Estudantes guineenses desempenhando trabalho voluntário em Cuba, aprox. 3’, s/som
Filme B: Amílcar Cabral durante a Semana de Informação, Setembro 1972, Conacri, aprox. 30’, s/som
Filme C: O 2° Congresso do P.A.I.G.C. 18 – 22 Julho 1973, Boé, aprox. 10’, s/som
Filme D: Proclamação do Estado, 24 Setembro 1973, Boé, aprox. 10’, s/som
Filme E: Embaixadores estrangeiros reconhecendo a nova nação, cerimónias nos bosques, 1973, Balana, aprox. 5’, s/som
Segunda Parte:
Filme F: Nacionalização do banco, Introdução da Nova Moeda, 20 de Fevereiro 1975, Bissau, aprox. 10’, s/som
Filme G: 20º Aniversário do P.A.I.G.C., Miriam Makeba com José Carlos Schwarz, 1976, Bissau, aprox. 10’, s/som
Filme H: O Regresso de Amílcar Cabral, 31’, som
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Luta ca caba inda
Após a independência, em 1974, Guiné-Bissau passou por um breve período socialista que terminou com um golpe de estado militar em 1980. A grande maioria do material que, desde 1973, foi filmado por quatro jovens realizadores (Josefina Lopes Crato, Flora Gomes, José Bolama Cobumba e Sana na N’Hada), ficou por editar. No contexto de instabilidade política no país, este material facilmente foi esquecido pelas autoridades responsáveis e consequentemente, grande parte dele foi perdida ou detriorada ao longo do tempo.
O projecto Luta ca caba inda foi criado inicialmente com o objectivo de tornar acessível o espólio desta curta fase do cinema militante da Guiné-Bissau. Com a cumplicidade de Carlos Vaz, actual director do Instituto Nacional do Cinema e do Audiovisual da Guiné-Bissau (INCA), e em colaboração com os realizadores Flora Gomes e Sana na N’Hada, e o Arsenal – Instituto do cinema e video-arte (Berlim) Filipa César possibilitou a preservação e digitalização do material arquivado.
Este programa de visionamento, propõe o estado fragmentário e inacabado do material como ponto de partida para pensar acerca das possibilidades que estas imagens podem criar em termos de produção de conhecimento e história do cinema.
Luta ca caba inda (A luta ainda não acabou) é um projecto realizado em parceria com Arsenal- Instituto do cinema e video-arte, Berlim, Jeu de Paume, Paris, The Showroom, Londres e ZDB, Lisboa e com o apoio da Galeria Cristina Guerra. Tem o suporte financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa e Kunstfonds, Bonn. A digitalização do arquivo foi financiada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros Alemão em colaboração com Arsenal, Berlim.
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Notas biográficas dos participantes:
Filipa César (Porto, 1975) é artista e cineasta cujo interesse se foca na relação porosa entre o cinema e a sua recepção por parte do público, nos aspectos ficcionais do género documentário e nas políticas inerentes à produção da imagem em movimento. Entre outros locais, o trabalho de César foi mostrado em: 8. Istanbul Biennal, 2003; Museu de Serralves, 2005; Locarno International Film Festival, 2005; CAG- Contemporary Art Gallery, Vancouver, 2006; Tate Modern, Londres, 2007; St. Gallen Museum, 2007; International Triennale of Contemporary Art, Prague, 2008; SF MOMA, San Francisco, 2009; 12th Architecture Biennial, Veneza, 2010; 29th São Paulo Biennal, 2010, São Paulo; Manifesta 8, Cartagena; International Film Festival, Roterdão, 2013; Forum Expanded, Berlinale, Berlin 2013. Mostras individuais em: Kunsthalle, Viena, 2004; Museu de Serralves, Porto, 2005; Cristina Guerra Contemporary Art, Lisboa, 2009; SOLAR- Galeria de Arte Cinemática, Vila do Conde, 2010; Labor Berlin 5 Haus der Kulturen Der Welt, Berlim, 2011; MUDAM, Luxemburgo, 2012; Jeu de Paume, Paris, 2012; The Showroom, Londres, 2012.
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Sana Na N’Hada (Guiné-Bissau, 1950) frequentou o Instituto Cubano de Arte e Industria Cinematográfico (ICAIC) orientado pelo realizador Santiago Alvarez. Ao retornar à Guiné, filmou documentários noticioso da guerra da independência. Após a independência co-realizou com Flora Gomes dois filmes: O regresso de Amílcar Cabral. Em 1978 realizou o seu primeiro filme documental: Os dias de Ancono. Durante as décadas de 70 e 80, trabalhou em diversos filmes, incluindo Sans soleil de Chris Marker, Mortu Nega de Flora Gomes e em algumas das primeiras produções de Sarah Maldoror. Em 1984 realizou o seu segundo documentário: Fanado. Foi director do Instituto Nacional do Cinema e do Audiovisual da Guiné-Bissau desde 1979 até 2006. Quase 20 anos depois da sua primeira longa-metragem, Xime (1994) N’Hada está actualmente a completar o filme Cadjinque (2013).
Jantar guineense
No 49 da ZDB, das 20h30 às 22h (sujeito a reserva prévia)
B.leza
Concerto comemorativo do 40º Aniversário da morte de Amílcar Cabral
com os artistas guineenses: Malam di Mama Djombo + Maio Coopé + Baba Canuté + Gentil Policarpo
A partir das 23h.
Seminário por ocasião dos quarenta anos do assassinato de Amílcar Cabral
- 21 de Janeiro
21 de Janeiro de 2013
Auditório da Fundação Mário Soares (Rua de S. Bento, 160)
Organização: Fundação Mário Soares e Instituto de História Contemporânea da UNL
Programa
11.00 | ESTADO DA ARTE
Apresentação do seminário
Arquivo Amílcar Cabral na internet, por Alfredo Caldeira (Fundação Mário Soares)
Investigadores e investigações académicas sobre Amílcar Cabral, por António Duarte Silva (Tribunal Constitucional)
Debate moderado por José Neves (IHC/FCSH-UNL)
13.00 | Intervalo para almoço
15.00 | ANTI-COLONIALISMO, RESISTÊNCIA E EMANCIPAÇÃO
Agronomia e Império, Cabral e uma outra partilha do sensível, por Maria-Benedicta Bastos (Paris IV – Sorbonne)
Alguns tipos de poder – Cabral no século XX português, por José Neves (IHC/FCSH-UNL)
“Alterar a verdade” – Meios de reprodução técnica e invenção de culturas trans-nacionais, por Manuela Ribeiro Sanches (FLUL)
Debate moderado por Marcos Cardão (ISCTE-IUL)
17.00 | Pausa café
17.15 | GUERRA COLONIAL, FIM DO IMPÉRIO E INDEPENDÊNCIA
A evolução estratégica da guerra na Guiné, por Daniel Gomes (CEIS 20-UC)
Mesa-redonda em torno do assassinato de Cabral e suas repercussões, com Diana Andringa (jornalista), José Pedro Castanheira (jornalista) e Eduardo Costa Dias (CEA-ISCTE)
Debate moderado por Pedro Aires de Oliveira (IHC/FCSH-UNL)
19.15 | ENCERRAMENTO
Fernando Rosas (IHC/FCSH-UNL)
Carlos Reis (Fundação Amílcar Cabral)
Mário Soares (FMS)
Morreu Luís Tavares (Xaixa), o mítico proprietário da cervejaria Rampinha em Ponte de Lima
Ponte de Lima perdeu ontem um dos seus mais conhecidos ícones. O dono e mentor da "Rampinha", a cervejaria forrada a imagens de Che Guevara que é uma espécie de ilha minúscula num município rodeado de democratas-cristãos por todos os lados, morreu nesta terça-feira.
Nas paredes, os murais de "El Comandante" dominam o bar onde ainda há espaço para uma enorme pintura de José Afonso ou para as fotos de Luís Tavares com Camilo Guevara, o filho de Che que fez questão de o visitar.
15.1.13
Solidariedade com as pessoas ameaçadas de despejo no bairro de Santa Filomena, Amadora
A CM da Amadora retomou na semana passada a demolição do bairro de Santa Filomena. Como das vezes anteriores, várias famílias ficaram desalojadas e forçadas a viver na rua até se “desenrascarem”. Como não foram recenseadas em 1993, não estão abrangidas pelo PER, nem por qualquer programa de realojamento que respeita a sua dignidade e direitos constitucionalmente reconhecidos a uma habitação.
Os moradores de Santa Filomena pediram em Junho uma audiência ao Presidente da autarquia. Como nunca obtiveram qualquer resposta, encontram-se agora a braços com o reinício dos despejos e demolições
Cerca de 20 pessoas reuniram-se no dia 11 de Janeiro de 2013 no Bairro de Santa Filomena na Amadora para impedir o despejo de várias famílias e a demolição das suas casas.
Perto das 8h passou junto do bairro um camião com uma retroescavadora e duas carrinhas de polícia de choque, mas a presença de várias pessoas, da comunicação social, dos Precários, do SOS Racismo e do Coletivo Habita fizeram com que a câmara municipal da Amadora recuasse na intenção de realizar os despejos
.
Carta aberta pelo direito à habitação
Carta aberta
pelo direito à habitação
Portugal
vive, há décadas, sem uma política de habitação substantiva, coerente e
continuada. Apesar do quadro constitucional vigente, o direito à habitação não
é – na prática – reconhecido como fundamental à vida humana, sendo a habitação
sobretudo encarada como uma mercadoria e um investimento. Só assim se explica,
aliás, o impulso que a especulação imobiliária e o endividamento das famílias
conheceram nas últimas décadas, concomitante com o progressivo abandono dos
centros históricos das cidades e a degradação do seu edificado (existem hoje
cerca de 735 mil alojamentos devolutos), responsáveis por uma preocupante perda
de vitalidade urbana. Por outro lado, é também desse modo que se explica o
crescimento desordenado das periferias suburbanas, que contribui de forma
decisiva para a deterioração da qualidade de vida, a diminuição do acesso a
equipamentos e serviços, e a constrição da mobilidade de inúmeras pessoas.
A
ausência persistente de uma política integrada que defenda o direito à
habitação tornou-a, tal como aos processos de urbanização, refém dos interesses
especulativos imobiliários e da construção civil. Em detrimento da reabilitação
e do arrendamento, privilegiou-se a construção de raiz e a aquisição de casa
própria (76% dos portugueses são hoje ”proprietários”), mediante processos
muito expressivos de endividamento bancário das famílias (80% do endividamento
familiar é destinado à aquisição de habitação) e do país (68% do total da
dívida privada portuguesa resulta do crédito imobiliário a famílias e
empresas). A braços com os encargos das prestações, que não raras vezes atingem
os 40 anos, as famílias viram severamente limitada a sua capacidade para a
construção de projetos de vida autónomos e independentes. O mercado de
arrendamento (18% do total de alojamentos) e, de modo ainda mais relevante, o
mercado de habitação social (3% do total de alojamentos, estando ainda por
concluir o Programa Especial de Realojamento, PER, iniciado em 1993), deixaram
há muito de fazer parte das políticas públicas de alojamento.
Com o agravar da
atual crise - ela própria fortemente enraizada em processos especulativos - o
direito à habitação encontra-se por isso cada vez mais comprometido. A subida
do desemprego, a quebra acentuada dos rendimentos das famílias e o aumento do
custo de vida tem vindo a conduzir a um aumento muito significativo das
situações de incumprimento bancário, existindo hoje cerca de 140 000 famílias
sem capacidade para pagar a prestação da casa. Perante isto, os governantes têm
feito uma opção clara: proteger os bancos e não as pessoas, perpetuando assim o
ciclo de endividamento e não assegurando alternativas dignas a quem perde a sua
casa. Paralelamente, a nova lei do arrendamento vem facilitar o despejo de quem
não consegue pagar a renda, criando condições cegas para o aumento das rendas
antigas, que irá atingir, sobretudo, reformados e pensionistas. Por outro lado,
a oferta de habitação social não responde minimamente às crescentes
necessidades. O número de pedidos tem aumentado em todas as autarquias e estas
não demonstram, manifestamente, ter capacidade para dar resposta. Prossegue
também, por último, a demolição sistemática de habitação auto-construída, sem
que se acautele minimamente o realojamento de quem aí habita, mesmo quando
recenseado no PER.
Em suma, o domínio da habitação é uma das esferas da
política social pública em que se tem demonstrado, de modo mais evidente, um
profundo desrespeito pela dignidade humana, ao mesmo tempo que se promove a
culpabilização individual de quem não consegue aceder à habitação ou fazer face
aos encargos a ela associados. O problema, porém, não é individual mas sim
social e político. E, por isso, propomos as seguintes medidas:
- Não permitir,
em nenhuma circunstância, processos de despejo em que não estejam devidamente
asseguradas alternativas dignas ou meios de subsistência suficientes, devendo
forçosamente analisar-se a situação familiar e encontrar-se os meios adequados
para o apoio às famílias em caso de incapacidade financeira para preservar a
habitação;
- Suspender a demolição das habitações dos moradores não abrangidos
pelo PER e proceder à revisão e atualização dos levantamentos realizados ao
abrigo desse programa;
- Dotar o IHRU dos mecanismos necessários ao
desenvolvimento de programas de apoio ao acesso à habitação e reabilitação
urbana; - Obrigar à colocação, no mercado, dos fogos devolutos, penalizando de
forma eficaz o abandono dos alojamentos com fins especulativos;
- Criar um
plano de reabilitação do parque habitacional que dê prioridade a este processo,
em detrimento da construção de habitações novas, tendo em vista recolocar os
fogos no mercado a preço acessível;
- Rever a nova lei do arrendamento urbano,
de modo a salvaguardar o direito dos inquilinos à habitação; - Dotar as
autarquias e o Estado de meios eficazes de combate à especulação imobiliária e
à corrupção urbanística, simplificando e tornando mais transparente a
legislação nos domínios do planeamento e urbanismo, e tornando os municípios
menos dependentes do licenciamento para se financiarem (o que implica rever, a
médio/longo prazo, a lei das finanças locais);
- No caso das famílias que não
conseguem pagar os seus créditos à habitação, devido a situações de desemprego
ou pela redução substancial do rendimento disponível, a entrega da casa deve
significar o fim de quaisquer compromissos com a banca, sendo de incentivar que
essas famílias se tornem inquilinas no mesmo alojamento, com uma renda adequada
ao seu rendimento;
- Promover a criação de uma Lei de Bases da Habitação, capaz
de regulamentar e materializar os princípios subjacentes ao direito
constitucional à habitação.
Apelamos, por conseguinte, ao cumprimento da
Constituição da República Portuguesa e à salvaguarda dos mais elementares
direitos humanos, estruturantes de um Estado e de uma sociedade verdadeiramente
democrática, que consagram, respeitam e promovem a dignidade humana.
Para assinar:
HABITA - colectivo pelo direito à habitação e à cidade
Habita
- Colectivo pelo Direito à Habitação e à Cidade é um colectivo que luta pela
concretização destes direitos fundamentais, essenciais à vida humana, inscritos
na legislação nacional e internacional.
Este colectivo pertence a várias redes internacionais (Aliança Internacional dos Habitantes, No Vox) e congrega activistas com experiência de trabalho de vários anos nesta área eque, ao longo do tempo, desenvolveram um diálogo com organizações, assim como com entidades governamentais em várias instâncias, batendo-se pela dignidade humana e pelos direitos fundamentais.
Este colectivo pertence a várias redes internacionais (Aliança Internacional dos Habitantes, No Vox) e congrega activistas com experiência de trabalho de vários anos nesta área eque, ao longo do tempo, desenvolveram um diálogo com organizações, assim como com entidades governamentais em várias instâncias, batendo-se pela dignidade humana e pelos direitos fundamentais.
Declaração
de Princípios
Defendemos que todas as pessoas têm direito a uma habitação adequada. Este é um
direito humano fundamental para a vivência de todos os direitos económicos,
sociais, culturais, assim como cívicos e políticos, tendo por isso de ser
respeitado e tratado de forma integrada com os outros direitos. Para além
disso, a habitação é um direito reconhecido pela Declaração Universal ds
Direitos Humanos, pelo Pacto Internacional de Direitos Económicos, Sociais e
Culturais e pela Contituição da República Portuguesa (artigo 65).
Defendemos que todas as pessoas têm direito à cidade, ao igual acesso e usufruto aos seus vários espaços sociais e à participação activa no seu processo de construção. O direito à cidade está intimamente ligado ao direito à habitação e desafia os múltiplos processos de segregação, precarização, discriminação, vulnerabilização e expulsão que limitam o direito à habitação, assim como aos serviços, equipamentos e espaços das nossas cidades.
Defendemos que a habitação e o urbanismo devem ser parte de uma política pública verdadeiramente participada e que combata todas as formas de especulação imobiliária.
Lutamos contra a habitação encarada como um negócio que exclui as pessoas mais vulneráveis, que expulsa das suas casas e dos seus lugares quem não pode pagar os preços inflacionados e especulativos que ao longo de décadas favoreceram o sector imobiliário e bancário. Reivindicamos uma habitação compatível com os rendimentos das pessoas, adequada e integrada na cidade, com acesso à mobilidade, cultura, equipamentos e serviços.
Lutamos pela defesa dos direitos à habitação e à cidade, procurando potenciar a auto-organização e consciencialização das pessoas e a formação de activistas. Combinamos o estudo e a reflexão das causas profundas que limitam o direito à habitação e à cidade com intervenção directa, denúncia, pressão politica e pública para mudar sistemas, legislação e políticas; apoiamos lutas e trabalhamos pela formulação de propostas políticas.
Defendemos que todas as pessoas têm direito à cidade, ao igual acesso e usufruto aos seus vários espaços sociais e à participação activa no seu processo de construção. O direito à cidade está intimamente ligado ao direito à habitação e desafia os múltiplos processos de segregação, precarização, discriminação, vulnerabilização e expulsão que limitam o direito à habitação, assim como aos serviços, equipamentos e espaços das nossas cidades.
Defendemos que a habitação e o urbanismo devem ser parte de uma política pública verdadeiramente participada e que combata todas as formas de especulação imobiliária.
Lutamos contra a habitação encarada como um negócio que exclui as pessoas mais vulneráveis, que expulsa das suas casas e dos seus lugares quem não pode pagar os preços inflacionados e especulativos que ao longo de décadas favoreceram o sector imobiliário e bancário. Reivindicamos uma habitação compatível com os rendimentos das pessoas, adequada e integrada na cidade, com acesso à mobilidade, cultura, equipamentos e serviços.
Lutamos pela defesa dos direitos à habitação e à cidade, procurando potenciar a auto-organização e consciencialização das pessoas e a formação de activistas. Combinamos o estudo e a reflexão das causas profundas que limitam o direito à habitação e à cidade com intervenção directa, denúncia, pressão politica e pública para mudar sistemas, legislação e políticas; apoiamos lutas e trabalhamos pela formulação de propostas políticas.
Contacto: habita.colectivo@gmail.com
Walid El Sayed - Sou da geração do basta
Walid El Sayed - Sou da geração do basta
Walid El Sayed é um jovem que vive em Lisboa, e que nasceu em Le Petit-Paris, em França.
Ay, Carmela!, a peça de teatro de José Sanchis Sinisterra, irá estar no cine-teatro Constantino Nery (19/1/2013, em Matosinhos)
Ay carmela, a peça dramática de José Sanchis Sinisterra, costuma ter como subtítulo Elegía de una Guerra Civil, en dos actos y un epílogo.
O texto foi também adaptado para o cinema pelo realizador Carlos Saura, cujo filme inserimos aqui abaixo
Representação de Ay Carmela!
19 de Janeiro de 2013
Local:Cine-Teatro Constantino Nery (matosinhos)
“Ay, Carmela!”, é hoje um texto teatral que ganhou foros de referência obrigatória quando tratamos de abordar a criação dramatúrgica dos finais do Séc. XX. Com edições traduzidas para inúmeros idiomas (alemão, francês, grego, inglês, sueco, turco, entre outros), este texto tem dado origem a um conjunto indistinto de criações teatrais um pouco por todo o mundo.
Situando a acção num contexto de confronto de carácter político e ideológico, num momento particularmente difícil para a história da humanidade, “Ay, Carmela!”, propõe-nos uma reflexão sobre questões e temas absolutamente intemporais.
A condição da arte e dos seus protagonistas perante as circunstâncias envolventes do poder. A ética dos valores não discricionários, a cultura democrática das sociedades contemporâneas, os movimentos sociais, têm em “Ay, Carmela!”, um desafio à memória como exercício de fecunda aprendizagem.
Perdidos numa noite de nevoeiro e fome, dois anónimos “artistas de variedades”, caem em território “inimigo”. Aí, em troca da “liberdade”, são obrigados a apresentar o seu espectáculo às tropas vencedoras e aos prisioneiros vencidos. Que fazer à representação para “sobreviver” em tão díspar plateia? Como resistir ou ceder sem abalar a dignidade?
José Sanchis Sinisterra na indagação pelos territórios obscuros da teatralidade, dos seus limites e fronteiras, organiza um “material cénico” desafiador da sensibilidade e inteligência dos espectadores.
Peça para maiores de 12 anos.
Duração: 135 minutos com intervalo.
Ficha técnica:
Encenação e tradução: Gil Salgueiro Nave | Interpretação: Fernando Landeira e Sónia Botelho | Cenografia e Figurinos: Luís Mouro | Desenho de Luz: Vasco Mósa | Sonoplastia: Helder Filipe Gonçalves
14.1.13
Manifesto anti-consumista
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"There is no delight in owning anything unshared."
Seneca
An economy of hyper-consumption has permeated our culture for the past fifty years, and it’s not working any longer. Our planet is being exploited at an unsustainable pace; our sense of community has been disintegrating at an alarming rate; and statistics show we’re not any happier owning more stuff.
Unstash is a peer-to-peer platform for collaborative consumption. In other words, we exist to facilitate and enhance the sharing experience. Every social circle has a huge overlap in consumer goods that don’t all need to be purchased, owned, and maintained by every individual. 62% of people state that they are interested in sharing consumer goods; they just haven’t had effective tools to do so, until now.
We believe in access over ownership. With a laser focused vision on making sharing easy, fun, and social, we believe sharing can be the new shopping – while helping you save money, deepen relationships, and create a more sustainable future together.
13.1.13
Sessão sobre a greve geral e a insurreição operária do 18 de janeiro de 1934 ( no espaço Musas, no dia 18/1/2013, pelas 21h.)
18 DE JANEIRO DE 1934 – GREVE GERAL/INSURREIÇÃO OPERÁRIA
Sessão informativa/ Debate/ Exposição documental-
No próximo dia 18 de Janeiro (sexta-feira), pelas 21.00 h., no Espaço MUSAS,Rua do Bonjardim, 998, Porto (zona de Faria Guimarães) irá ser recordado o que foi o ato de resistência dos trabalhadores contra as leis laborais que os
pretendiam submeter ao Estado salazarista e ao patronato.
Organiz.: AIT-SP Porto e Colect.Anarquista HIPATIA
(anarco-sindicalistas)
Para uns, um ato heroico marcando a recusa dos trabalhadores às leis do Estado fascista e do patronato, para outros uma tentativa revolucionária capaz de travar o passo ao fascismo salazarista, para outros ainda uma
“anarqueirada”, o certo é que o “18 de Janeiro”, despido de mitos e de revivalismos, oferece matéria
de reflexão útil para o confronto com a realidade atual.
Nestes acontecimentos estiveram envolvidas várias correntes diferentes de pensamento com expressão nos meios laborais de então : CGT (anarcosindicalistas),FARP (anarquistas), CIS e PCP (comunistas),FAO (socialistas). Se na Marinha Grande o movimento assumiu a forma mais insurrecional, noutros pontos do país –onde a implantação da CGT era maior (Silves, Sines, Almada, Barreiro, Leiria) e também a da CIS e do PCP (Lisboa e arredores – além de na Marinha Grande) assumiu formas mais diversas, de greves e protestos a sabotagens.
Sermão do Bom Ladrão (excerto)
"Não são ladrões apenas os que cortam as bolsas.
Os ladrões que mais merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e as legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais, pela manha ou pela força, roubam e despojam os povos.
Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam correndo risco, estes furtam sem temor nem perigo.
Os outros, se furtam, são enforcados; mas estes furtam e enforcam."
Padre António Vieira, in Sermão do Bom Ladrão
Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam correndo risco, estes furtam sem temor nem perigo.
Os outros, se furtam, são enforcados; mas estes furtam e enforcam."
Padre António Vieira, in Sermão do Bom Ladrão
Manifestação nacional de ferroviários ( 17 de janeiro de 2013)
MANIFESTAÇÃO NACIONAL DE FERROVIÁRIOS
Trabalhadores do activo e reformados
17 Janeiro 2013 – 14,30h
Trabalhadores ferroviários no activo e reformados vão manifestar-se a 17 de Janeiro em frente à sede da CP, em Lisboa, contra a reestruturação das empresas do sector ferroviário, contra os cortes salariais e em defesa do cumprimento dos acordos de empresa.
Contra as “medidas recessivas” que dizem estar “a conduzir ao empobrecimento” e para travar aquilo que dizem ser uma “brutal ofensiva” contra os ferroviários, 18 organizações do sector apelam a uma “forte mobilização” dos trabalhadores no activo, dos reformados e dos “trabalhadores na situação de rescisão de contratos”.
A manifestação, anunciada pela Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (FECTRANS), é convocada, entre outras organizações, pelas comissões de trabalhadores da CP, CP Carga, Refer e Emef (Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário), a comissão de reformados e os sindicatos do sector ferroviário, dos maquinistas e dos revisores.
A greve dos ferroviários em Janeiro de 1911
«Nada pedimos, porque nada nos dão. Exigimos, intransigentes, porque, para isso, temos direito e possuímos a força.»
Em Janeiro de 1911 os Ferroviários portugueses erguiam uma grande greve, que duraria 5 dias, e permitiria a conquista de importantes direitos pelos trabalhadores ferroviários.
Estamos no período imediatamente posterior à Revolução de 5 de Outubro de 1910, que os ferroviários haviam apoiado – como a generalidade do proletariado português – mas que colocara no poder uma burguesia que, primeiro, iria desiludir as expectativas de satisfação das suas reivindicações que esse proletariado alimentara, e depois iria trair esse apoio lançando-se na mais brutal repressão à luta e aos direitos dos trabalhadores
Uma greve a reivindicar as 8 horas de trabalho, que teve como resposta o governo mandar ocupar militarmente a estação do Rossio
O pessoal da Companhia de Caminhos de Ferro Portugueses,declaraou-se em greve secundado pelos ferroviários do Sul e Sueste, Beira Alta, Minho e Douro, na sequência de anteriores reivindicações assumidas por uma «comissão de melhoramentos», que vinha discutindo com a administração a redução do horário de trabalho e o aumento de salários. No Domingo anterior, os trabalhadores haviam-se reunido no Salão da Caixa Económica Operária tomando conhecimento da recusa da Companhia em aceitar as suas principais reivindicações. Num processo complexo e gradualmente politizado, os ferroviários optaram pela greve e pela constituição de piquetes. Esta greve, que durou até 15 de Janeiro, levou à intervenção pessoal de António José de Almeida, que tentou mediar o conflito.
A greve dos ferroviários da Companhia Portuguesa afectou as ligações de Lisboa para o Norte e Leste e ligações internacionais. A capital chegou a estar isolada do resto do país. Verificaram-se vários actos violentos como o descarrilamento de comboios e corte de linhas telegráficas, vistos pelo governo como sabotagens. A greve teve como catalisador a questão da Caixa de Reforma do Pessoal, já que a publicação do novo regulamento não contemplara as proposta da comissão de delegados do pessoal e do sindicato. O Conselho de Administração da CP, desde logo, procura restabelecer as ligações, nomeadamente a com o Porto, avisando o pessoal que deve regressar ao seu posto de trabalho, sob pena de serem demitidos.
O governo de Afonso Costa apoia a estrutura dirigente da CP, prometendo ajuda na guarda e defesa das propriedades e bens e no restabelecimento das ligações ferroviárias. Mesmo com a presença da força pública, os grevistas conseguem controlar as gares. Dia 17, a direcção da Companhia publica a Ordem Geral do Conselho de Administração n.º 66 na qual se determina que todos os empregados da Companhia que não se apresentem ao trabalho até dia 20 de Janeiro deixarão de pertencer aos quadros da mesma. Muitas classes de trabalhadores anunciam, pouco depois, greves de solidariedade com os ferroviários. A greve terminaria dia 23 de Janeiro, não sem a prisão de vários de entre os grevistas. Esta greve forçou os organizadores do Congresso de Tomar a adiarem a realização do mesmo, o que acabou por permitir a participação dos sindicalistas que doutra maneira não poderiam estar presentes já que estavam presos
Dossier com documentos da época, consultar: AQUI
12.1.13
Encontro Indignados Lisboa ( hoje, 12 de Janeiro, às 15h.)
Encontro Indignados Lisboa
Hoje, 12/01/2013, às 15h no Teatro da Comuna ( à Praça de Esapanha, Lisboa)
Assembleia dos Indignados de Lisboa aberta a todos os que desejem participar e debater soluções e alternativas ao actual sistema e formas de o modificar. É urgente organizar o protesto contra as medidas que conduzem o país à pobreza e à miséria e apresentar novos caminhos e alternativas. Só todos juntos o podemos fazer e a tua voz pode e deve ser ouvida.
Ordem de Trabalhos:
Informações gerais
Apresentação de novas acções e protestos
Apresentação de ideias para o Encontro Nacional de Assembleias Populares
Continuação da Jornada de debates sobre assuntos estudados
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Apresentação de ideias para o Encontro Nacional de Assembleias Populares
Continuação da Jornada de debates sobre assuntos estudados
A República das Putas - texto de João Magueijo
A República das Putas
Por João Magueijo
texto publicado no jornal Público de 11 de janeiro de 2013
João Magueijo é professor de Física Teórica no Imperial College da Universidade de Londres, depois de ter passado pela Universidade de Cambridge (St. John's College) onde fez o seu doutoramento (Trinity College).
A expressão não é original, mas o plágio é deliberado. Quando Josef Skvorecky escreveu o livro A República das Putas, havia na então Checoslováquia o sentimento de um país traído, entregue ou vendido a uma ideologia questionável, por uma classe dominante corrupta e por políticos que eram de facto putas, metafórica e literalmente. No caso de Portugal não houve tanques a entrar pelo país e a ideologia a que fomos vendidos será a outra, supostamente oposta. Mas de resto a história é tal e qual, especialmente no que diz respeito à qualidade e moralidade dos políticos.
E o pior é que paga o justo pelo pecador, ou pelo menos há pecadores, a nível mundial, que não pagaram nada. Até isto se resolver não me parece que faça grande sentido ser optimista, ou filosofar sobre o estado das letras e das ciências. Antes falar de tourada.
Ainda deve haver por aí quem se lembre da Dona Branca, a autodenominada banqueira do povo. Para quem não sabe, era uma senhora que mais não fazia que comprar e vender dinheiro, fazê-lo circular, o que lhe era levado de novo era usado para pagar juros chorudos aos que já lá estavam, e cada vez havia mais. Ela arrecadava uma comissão, a coisa foi crescendo até que um dia PUM, foi tudo pelos ares. Recordo-me de uma Dona Arminda, que lavava as escadas lá do prédio, que perdeu as poupanças todas nestas andanças, ainda me lembro da senhora a chorar muito, faz-me lembrar o Portugal de hoje. E a Dona Branca inevitavelmente foi dar com os costados na prisão, coitada da senhora, estava muito avançada para a época, se fosse hoje davam-lhe um bónus de milhões, e teria uma posição de topo na Wall Street.
Não sejamos hipócritas, já todos recorremos aos bancos, e houve tempos em que o mundo das finanças fazia algum sentido. Precisava-se de algo agora, a ser pago com dinheiro que se iria ganhar mais tarde, os bancos tratavam da necessária máquina do tempo financeira. Em Itália vai-se a uma terriola qualquer, e lá há-de estar a Caixa Agrícola de Montemerdini, ou lá o que for: emprestava para se comprar os adubos, as sementes, as alfaias, e quando se fazia a colheita pagava-se, ficava tudo contente, belos tempos.
Eram tempos em que o capitalismo tinha um lado quase bom, ou pelos menos paternalista. Claro que a pobreza era extrema, e deixa lá as coisas correrem mal e logo se via quem passava fome. Mas o capital nesses tempos era usado para produzir riqueza real, e o sistema financeiro apoiava o processo, conduzia a coisas que se viam, que resultavam em produtos tangíveis e reais.
O capitalismo de hoje é bem mais tenebroso. Os jogos financeiros contemporâneos são tão abstractos e auto-referenciais que trocando a coisa por miúdos mais não são do que comprar e vender dinheiro, como fazia a Dona Branca. Por razões que nunca entendi, muitas das galinhas dos ovos de ouro, em Londres e Nova Iorque, são físicos teóricos e matemáticos falhados, ex-colegas meus em alguns casos. Temos tido acesas discussões, mas numa coisa concordamos: a teoria do caos e o Lema de Ito que se lixe, aquilo é simplesmente jogar na lotaria. Como é que trocar acções por computador ao microssegundo, como se tem vindo a propor, pode corresponder a alguma operação económica real? Aquilo é verdadeiramente a Dona Branca: uma pescadinha de rabo na boca financeira, "financiar o financiamento das finanças financiadas", num jogo bem enterrado no umbigo da Wall Street e da City de Londres, um totoloto mundial mas com um belo seguro contra perdas: quando se ganha, ganham eles; quando se perde ,pagamos todos, em cascata. E é aí que entram as tais putas, especificamente as nacionais.
Ao longo dos anos vimos o país a endividar-se com coisas que eram precisas e coisas que não eram. Tínhamos um serviço nacional de saúde do terceiro mundo e uma taxa de mortalidade infantil a condizer, analfabetismo e subdesenvolvimento a níveis do Subsara... e as coisas mudaram dramaticamente nos últimos 20 anos. Saí de Portugal em 1989 e sempre que voltava via algo de novo que era genuinamente preciso: portos para pescadores, estradas ao nível europeu, uma enorme expansão do ensino, etc., etc. E claro que tudo isto custa dinheiro, mas podia argumentar-se que se a Europa não queria ter um país do terceiro mundo no seu seio que o pagasse.
Mas onde a porca torce o rabo é que se via também uma orgia de infra-estruturas desnecessárias: túneis nas entranhas da Madeira que levavam a lado nenhum, estradas em duplicado nos cus de judas regionais, coisas tão ridículas que davam vontade de rir. Foram-se fazendo obras públicas completamente faraónicas, de novo-rico que não sabe o que há-de fazer ao dinheiro. Tornava-se óbvio que se construíam infra-estruturas, não para preparar o futuro, mas sim para alimentar o presente, numa cumplicidade corrupta entre Estado e empresas privadas, em que o último elo da cadeia era o mundo das finanças internacionais. E esses andavam entretidos com os seus jogos de totoloto, e quando a bolha rebentou lixou-se o proverbial mexilhão, tradução, nós.
Como Skvorecky notava, as "putas" que tinham antes vendido o seu país aos nazis eram as mesmas que agora acolhiam os soviéticos (e mais tarde, muito depois de o livro ser publicado, acolheriam o capitalismo selvagem, sem que ele o soubesse). O mesmo se passa no nosso caso: não tenham dúvidas de que em tempos de fascismo os nossos primeiros-ministros teriam sido rapazes de sucesso. Mas de certa forma estamos a bater no ceguinho. Se eles (e nós, por extensão) fizeram figuras tristes e agora estamos a pagar por isso, houve quem fez pior e se está agora a rir. Os usurários mundiais nem sequer construíram túneis inúteis: construíram castelos de valores inexistentes, que continuam a crescer e a alimentar a sua ganância. Até isto se resolver falemos de tourada, porque não faz muito sentido discutir o estado da nossa sociedade, e o demais, em 2013.
Aliás, parece-me que a nossa sociedade estaria muito bem, muito obrigado, se não fosse este "pequeno detalhe" político e financeiro. Por exemplo: a sociedade portuguesa é muito mais sã do que a inglesa. Na Inglaterra, quem abre a boca inevitavelmente vomita uma etiqueta de classe social autenticada. Os famosos sotaques britânicos fornecem informações precisas sobre a classe, uma pena não se ensinar isto nas aulas de inglês do secundário que cá se apanham. E este simples facto cria uma quase ausência de mobilidade e interacção entre as classes; pior, torna as pessoas em estereótipos da sua classe social. Por exemplo, a classe operária inglesa força-se a seguir um cliché de ignorância e estupidez, atitudes racistas e xenófobas, contra a cultura e a educação. A sua imagem de marca é falar com erros de gramática que em Portugal só um atrasado mental cometeria... assim as classes superiores os têm vindo a controlar.
Nada disto se passa em Portugal (e já agora na Grécia, onde se encontram camponeses analfabetos a pagar a educação dos filhos em Cambridge). Ainda fui daqueles que tiveram de ir fazer a inspecção para a tropa, estava já então em Inglaterra, e o que mais me impressionou foi que entre os 500 "mancebos" de pirilau de fora que lá estavam, não se sabia de que classe era quem (tirando os casos extremos de dois grosseiríssimos labregos e de um pretendente à coroa). Ora na Inglaterra nada disto seria assim, e com graves consequências: ao contrário de Inglaterra, se há cultura e identidade neste país, elas residem precisamente na classe trabalhadora. E diria que é este o maior potencial de Portugal: temos uma sociedade muito mais saudável, em termos de identidade e de classe, apesar de todos os problemas com que nos deparamos.
Sim, éramos um país de pobres que passou temporariamente a um país de novos-ricos. Mas agora somos um país de novos-pobres: miúdos cheios de talento desempregados há dois anos, pessoal de ponta a emigrar para o estrangeiro, médicos educados cá a colmatarem as faltas de sistema de saúde inglês... um desperdício óbvio de uma geração. Em vez de usarmos estas fontes de rendimento, deixámos os tanques financeiros entrar pelo país, para aumentar os impostos e baixar os salários, já de si entre os mais baixos da Europa.
Não sei se haverá soluções milagrosas, mas uma quebra total com o que se tem vindo a fazer é evidentemente necessária. Lembro-me de uma senhora perguntar a um médico meu amigo se podia usar água benta para a sua enfermidade. O médico respondeu-lhe que sim, mas que a fervesse primeiro. Não me parece que doses sucessivas de banha da cobra sejam a solução dos nossos males. Muita da nossa dívida, e consequente austeridade, não é legítima, em perfeita analogia com as dívidas contraídas pelas prostitutas, e que as mantêm nas malhas dos seus donos. Se a nível mundial algo tem de ser feito para refrear os chulos financeiros, a nível nacional um corte com o passado seria um primeiro passo. Ou então que se dê o Prémio Nobel da Economia à Dona Branca. E viva a República das Putas.
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