13.1.13

A greve dos ferroviários em Janeiro de 1911

 


«Nada pedimos, porque nada nos dão. Exigimos, intransigentes, porque, para isso, temos direito e possuímos a força.»

 
Em Janeiro de 1911 os Ferroviários portugueses erguiam uma grande greve, que duraria 5 dias, e permitiria a conquista de importantes direitos pelos trabalhadores ferroviários.
Estamos no período imediatamente posterior à Revolução de 5 de Outubro de 1910, que os ferroviários haviam apoiado – como a generalidade do proletariado português – mas que colocara no poder uma burguesia que, primeiro, iria desiludir as expectativas de satisfação das suas reivindicações que esse proletariado alimentara, e depois iria trair esse apoio lançando-se na mais brutal repressão à luta e aos direitos dos trabalhadores
Uma greve a reivindicar as 8 horas de trabalho, que teve como resposta o governo mandar ocupar militarmente a estação do Rossio
 
O pessoal da Companhia de Caminhos de Ferro Portugueses,declaraou-se em greve secundado pelos ferroviários do Sul e Sueste, Beira Alta, Minho e Douro, na sequência de anteriores reivindicações assumidas por uma «comissão de melhoramentos», que vinha discutindo com a administração a redução do horário de trabalho e o aumento de salários. No Domingo anterior, os trabalhadores haviam-se reunido no Salão da Caixa Económica Operária tomando conhecimento da recusa da Companhia em aceitar as suas principais reivindicações. Num processo complexo e gradualmente politizado, os ferroviários optaram pela greve e pela constituição de piquetes. Esta greve, que durou até 15 de Janeiro, levou à intervenção pessoal de António José de Almeida, que tentou mediar o conflito.
A greve dos ferroviários da Companhia Portuguesa afectou as ligações de Lisboa para o Norte e Leste e ligações internacionais. A capital chegou a estar isolada do resto do país. Verificaram-se vários actos violentos como o descarrilamento de comboios e corte de linhas telegráficas, vistos pelo governo como sabotagens. A greve teve como catalisador a questão da Caixa de Reforma do Pessoal, já que a publicação do novo regulamento não contemplara as proposta da comissão de delegados do pessoal e do sindicato. O Conselho de Administração da CP, desde logo, procura restabelecer as ligações, nomeadamente a com o Porto, avisando o pessoal que deve regressar ao seu posto de trabalho, sob pena de serem demitidos.
O governo de Afonso Costa apoia a estrutura dirigente da CP, prometendo ajuda na guarda e defesa das propriedades e bens e no restabelecimento das ligações ferroviárias. Mesmo com a presença da força pública, os grevistas conseguem controlar as gares. Dia 17, a direcção da Companhia publica a Ordem Geral do Conselho de Administração n.º 66 na qual se determina que todos os empregados da Companhia que não se apresentem ao trabalho até dia 20 de Janeiro deixarão de pertencer aos quadros da mesma. Muitas classes de trabalhadores anunciam, pouco depois, greves de solidariedade com os ferroviários. A greve terminaria dia 23 de Janeiro, não sem a prisão de vários de entre os grevistas. Esta greve forçou os organizadores do Congresso de Tomar a adiarem a realização do mesmo, o que acabou por permitir a participação dos sindicalistas que doutra maneira não poderiam estar presentes já que estavam presos
 
 
Dossier com documentos da época, consultar: AQUI