A novel editora Parsifal acaba de lançar mais um livro de viagens, «Na Senda de Fernão Mendes Pinto», de Joaquim Magalhães de Castro.
Joaquim Magalhães de Castro nasceu nas Caldas de São Jorge, em Santa Maria da Feira. Escritor, jornalista independente, fotógrafo e investigador da História da Expansão Portuguesa, é autor dos livros Mar das Especiarias, Viagem ao Tecto do Mundo – O Tibete Desconhecido e No Mundo das Maravilhas, integrados no Plano Nacional de Leitura, de Oriente Distante e dos álbuns fotográficos Os Bayingyis do Vale do Mu – Luso-descendentes na Birmânia, A Maravilha do Outro – No Rasto de Fernão Mendes Pinto e Sagres – Nossa Barca.
É também autor dos documentários televisivos Bayingyi, a Outra Face da Birmânia, Himalaias – Viagem dos Jesuítas Portugueses e De um Lado para o Outro – Diários da Mongólia. Colabora ainda na imprensa de Portugal e de Macau, onde habitualmente reside. Actualmente é presidente da CATAIO – Associação Cultural para o Desenvolvimento e Cooperação de Macau.
A Propósito do anti-nacionalismo de Fernão Mendes Pinto
O anti-nacionalismo de Fernão Mendes Pinto
Fernão Mendes Pinto é muito provavelmente o maior aventureiro português. Alguém já lhe chamou o Marco Pólo lusitano. Pirata, soldado, mendigo, escravo, comerciante, partidário dos jesuítas cristãos, mas acima de tudo crente de um Deus superior às religiões, Fernão Mendes Pinto foi para a Índia em 1537 viajando depois por toda a Ásia, tendo sido preso várias vezes, não lhe faltando sequer a experiência de ter sido vendido como escravo.
Uma vez regressado a Portugal, decidiu escrever a Peregrinação, um livro onde relatou as suas aventuras e a diversidade das culturas dos povos distantes, mostrando como, apesar de tudo, os homens em qualquer parte do mundo são iguais, o que constitui um autêntico manifesto contra os nacionalismos populistas, para o que contribui em certa medida o criticismo de Fernão Mendes Pinto em relação aos feitos e aos comportamentos dos portugueses naquelas terras distantes.
Por isso mesmo é que o seu livro se tornou um livro de referência na época, editado e comentado noutros países, mas muito pouco valorizado em Portugal, onde Fernão Mendes Pinto foi mal recebido, chegando ao ponto de ser conhecido depreciativamente por Fernão Mentes !
Reflexo de tudo isso é o subtítulo da Peregrinação onde se mistura, por um lado, o multiculturalismo cosmopolita do viajante, e por outro, as referências particularistas aos Jesuítas:
«Peregrinaçam de Fernam Mendez Pinto em que da conta de muytas e muyto estranhas cousas que vio & ouvio no reyno da China, no da Tartaria, no de Sornau, que vulgarmente se chama de Sião, no de Calaminhan, no do Pegù, no de Martauão, & em outros muytos reynos & senhorios das partes Orientais, de que nestas nossas do Occidente ha muyto pouca ou nenhua noticia. E também da conta de muytos casos particulares que acontecerão assi a elle como a outras muytas pessoas. E no fim della trata brevemente de alguas cousas, & da morte do Santo Padre Francisco Xavier, unica luz & resplandor daquellas partes do Oriente, & reitor nellas universal da Companhia de Iesus.»