Livro em debate – VIAGEM AO FIM DA NOITE de CELINE
Livraria Gato Vadio – Rua do Rosário, 281 – Porto Apareçam
Viagem ao Fim da Noite é um clássico anti-militarista e uma obra-prima da literatura contemporânea
O escritor Céline foi excluído pelo ministério da Cultura das comemorações oficiais do Estado francês. O mesmo Estado que excluí e deporta seres humanos para fora da sua banda.
Céline continua a provocar *tsunamis* de contestação e polémica. Falar de Viagem ao Fim da Noite, um libelo anti-militarista e uma obra literariamente inquietante até às entranhas, não nos faz esquecer questões irrevogáveis: o que pode levar um escritor a autorizar a reedição de um panfleto anti-semita, *Bagatelles pour un Massacre*, em 1941, num país ocupado pelas forças hitlerianas? E porque razão, alguns *judeus* eram alvo da sua pena em diatribes incendiárias, e outros “galfarros (…), bípedes em busca de uma côdea”, esses que “valiam tanto como um bretão” eram atendidos pelo médico Destouches, por vezes sem lhes cobrar cobre que fosse? E que experiência medicinal vai fazer à Alemanha em 1942, num comité de médicos franceses, quando a terapia nazi usava como cobaias prisioneiras e prisioneiros de guerra? E como exílio à sua França punitiva, não haveria outro lugar para escapar à ira que a cidade dinamarquesa onde se instalou o regime colaboracionista de Vichy?
Lendo a Viagem e questionando que comboios foi apanhando o escritor, talvez fiquemos mais “esclarecidos, bem colocados para compreender todas as sacanices que um passado encerra