13.3.11

A missão da geração à rasca é empurrar para a rua um povo adormecido


É imprevisível o desfecho do movimento, que terá de lutar contra a apatia, dizem os especialistas em ciências sociais

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A missão desta geração à rasca é de monta: contrariar a natureza de um povo que se desabituou de protestar, que "não muda de estilo de vida de um dia para o outro ou que pertence a uma geração que enquanto estiver apoiada pelos papás não sai de casa para gritar", defende Villaverde Cabral. A falta de autonomia pode até ser um motor desencadeador - diz o sociólogo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa -, mas é "demasiado subjectivo" para se saber se terá força suficiente para os empurrar até à rua.


Protesto monstro Gritar na rua é um hábito que se tornou estranho para os portugueses: "Após a consolidação da democracia, o país conheceu a desmobilização cívica, eleitoral ou sindical e tem hoje uma taxa de conflitos sociais baixa em comparação, por exemplo, com França ou Inglaterra", explica António Costa Pinto. A apatia tem um preço alto, avisa D. Januário Torgal Ferreira: "Os portugueses caíram na descrença, não acreditam em ninguém ou sequer na mudança."


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Resta saber se será suficiente e ver se chega para contaminar quem está afastado das redes sociais. "Este protesto não tem ligação aos que mais afectados foram por esta crise", defende Villaverde Cabral. Os que passaram a fasquia dos 45 anos, têm baixas qualificações, caíram no desemprego, dormem na periferia e "têm um intenso treino de apertar o cinto", diz o sociólogo.

Não é bem assim, avisa Paula Godinho, antropóloga da Universidade Nova de Lisboa e estudiosa dos movimentos sociais: "O protesto da geração à rasca ganhou força e está agora em todo o lado, seja nos monitores dos computadores, seja nos televisores ou nas páginas dos jornais." Bateu à porta dos universitários com medo do desemprego, entrou em casa dos pais que temem pelo futuro dos filhos e também dos pais que perderam o emprego: "Há também outras gerações que têm casa e contas para pagar. O trunfo desta manifestação é ter uma base multifacetada, que a transformou num protesto transgeracional."


Todas as dúvidas deixam esta tarde de fazer sentido quando as praças e as avenidas das oito cidades portuguesas estiverem às moscas ou então entregues às multidões. Mas é sobretudo ser uma contestação que escapou ao "controlo de todos" que faz com que a geração à rasca tenha "quase tudo" para se tornar num "marco histórico", defende André Pestana, professor contratado em Oeiras que optou por aderir à convocatória via Facebook, em vez de participar no plenário do Campo Pequeno: "Há muitos como eu que vão a esta manifestação precisamente por não ter essa carga pesada dos dirigentes sindicais ou partidários. Vou a uma demonstração de força e entusiasmo que não precisou de um aparelho nem terá discursos desgastados e bolorentos", remata o coordenador do movimento dos professores 3R - Renovar, Refundar e Rejuvenescer


Excertos de um artigo publicado no jornal i -
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