Em entrevista publicada num livro editado há alguns meses atrás, o escritor António Lobo Antunes, que esteve incorporado no exército colonial português na qualidade de médico-miliciano, afirmou o seguinte sobre o que viu e viveu durante o período em que esteve integrado num batalhão militar em Angola:
“«Eu tinha talento para matar e para morrer. No meu batalhão éramos seiscentos militares e tivemos cento e cinquenta baixas. Era uma violência indescritível para meninos de vinte e um, vinte e dois ou vinte e três anos que matavam e depois choravam pela gente que morrera. Eu estava numa zona onde havia muitos combates e para poder mudar para uma região mais calma tinha de acumular pontos. Uma arma apreendida ao inimigo valia uns pontos, um prisioneiro ou um inimigo morto outros tantos pontos. E para podermos mudar, fazíamos de tudo, matar crianças, mulheres, homens. Tudo contava, e como quando estavam mortos valiam mais pontos, então não fazíamos prisioneiros».
Estas afirmações parece que provocaram alguns engulhos em certos militares e veteranos de guerra que, pelos vistos, ainda não perceberam o papel que foram desempenhar nas colónias!