11.7.10

Acção cooperativa e solidária numa aldeia de Moimenta da Beira: faltam ao emprego para trabalhar pela aldeia

Faltam ao emprego para trabalhar pela aldeia
Populares reparam caminhos sem cobrar um cêntimo
(texto da jornalista Teresa Cardoso)

"Um por todos, todos por um", é a palavra de ordem em Sever, Moimenta da Beira, onde homens e máquinas estão a abrir e a reparar caminhos agrícolas, sem cobrar um cêntimo, em nome do bem comum. É o regresso às aldeias do trabalho em comunidade.

Chegam às oito da manhã, mangas arregaçadas para uma jornada que pode ir até ao sol posto, e passam horas a carregar, a espalhar e a calcar aterro em caminhos agrícolas onde mal passava um carro de bois. Não olham para o relógio. Apenas param, quando o dia vai a meio, para reconfortar o estômago por conta da Junta de Sever. No fim da jorna, a saudação é a única moeda de troca.

"O mínimo que podíamos fazer pela dezena e meia de homens que se juntaram neste desafio, era garantir-lhes o almoço. Até porque muitos deles faltaram ao trabalho para estarem aqui com os seus tractores. É um verdadeiro exemplo de cidadania", reconhece Marcelino Ramos Ferreira, presidente da autarquia.
Poupança de milhares de euros

A ideia de apelar à solidariedade dos cidadãos partiu do autarca de Sever e foi ditada pela escassez de recursos financeiros e pela urgência em criar condições nos acessos para o transporte da maçã.

"Reuni com o pessoal num sábado, e na segunda-feira seguinte já o grupo estava disponível", revela Marcelino Ferreira. Que voltou ontem, com todos os voluntários, para mais uma jornada de reparação e alargamento dos caminhos para os pomares. "Já temos transitáveis duas dezenas de quilómetros", regozija-se.
O autarca admite que se o serviço fosse pago, o investimento era incomportável para a junta.
"Contando que cada um dos 16 tractores custa 240 euros por dia, em dois, teríamos desembolsado cerca de oito mil euros. Sem contar as retroescavadoras da Junta e da Câmara e ainda a mão de obra", explica Marcelino Ferreira.

Outro factor de sucesso é a disponibilidade dos proprietários na cedência de terreno. "Sem essas faixas, não poderíamos, em alguns casos, avançar. Chegamos a deitar muros abaixo com o seu assentimento", enfatiza.

Os caminhos arranjados permitem que a fruta chegue sã às cooperativas. "Os atrelados podem transportar 14 palotes de maçã, cada um com 400 quilos, que se for entregue pisada sofre uma penalização de 10 a 15%", explica um dos homens que, como os demais, é produtor de maçã.
"Esta união de esforços fomenta o espírito de comunidade. O povo sabe que está a cuidar dos seus interesses e pode contar com os meios municipais", congratula-se José Eduardo, presidente da Câmara de Moimenta da Beira.