24.6.10

Novíssimas guerras, espaço,identidades e espirais de violência armada,de Tatiana Moura - perspectiva feminista da guerra (apresentação do livro, 30/6)


Novíssimas Guerras - Espaço, Identidades e Espirais da Violência Armada
Tatiana Moura
Editora:
Almedina

Apresentação do livro em Lisboa:
30 de Junho, 18:00,
local: CES-LISBOA, Picoas Plaza (entrada pela rua Tomás Ribeiro, 65)
Apresentação: Pedro Krupenski, Director Executivo da Amnistia Internacional (Secção
Portuguesa)

Tatiana Moura, investigadora do Centro de Estudos Sociais de Coimbra acaba de publicar o livro Novíssimas Guerras, pela Almedina . Trata-se de um estudo não só sobre as novas condições em que se desenrolam as guerras e os conflitos armados mas um nova abordagem sobre a matéria ao colocá-la sob a perspectiva do género.

Excerto do texto:

«As décadas de 80 e 90 ficaram marcadas por profundas alterações nas referências de análise da conflitualidade internacional. As chamadas "novas guerras" (Kaldor, 1999) que ocorrem com maior incidência em Estados colapsados, vêm contrastar com um tipo de conflitualidade de matriz vestefaliana. Estas novas guerras, também apelidadas de "conflitos de baixa intensidade", guerras privatizadas ou guerras informais, têm características substancialmente distintas das guerras "tradicionais". De facto, nestas novas guerras não é fácil de estabelecer na prática a distinção entre o privado e o público, o estatal e o não estatal, o informal e o formal, o que se faz por motivos económicos ou políticos. Trata-se de guerras que atenuam as distinções entre pessoas, exércitos e governos (Duffield, 2001: 13 -14), que resultam – e ao mesmo tempo originam – um esbatimento das fronteiras (entre o interno e o externo, por exemplo) que anteriormente se consideravam rígidas e bem definidas.

Ao contrário das guerras tradicionais, que tinham a esfera pública como cenário da violência, nas novas guerras a sociedade civil é simultaneamente o palco e o alvo da violência organizada, que ocorre na esfera privada, privatizando a violência, os seus espaços ou territórios de actuação, os seus actores e as suas vítimas.

As unidades de combate envolvidas nestas novas guerras (públicas e privadas) que dificilmente se distinguem da população civil e que cada vez mais se caracterizam pela utilização de crianças-soldado, o uso alargado de armas ligeiras (que são mais fáceis de transportar, mais precisas e podem ser utilizadas por soldados sem formação especial), o recurso a novas tecnologias (como telemóveis e internet), os novos métodos utilizados para obtenção de controlo político, a criação e manutenção de um clima de ódio, medo e insegurança constituem algumas das principais características que distinguem este tipo de violência organizada das velhas guerras. »

(...)

«O monopólio masculino do uso e posse de armas de fogo é uma expressão da socialização em construções de um tipo de masculinidade, violenta e militarizada. E as manifestações desta masculinidade violenta, que fazem equivaler a posse e utilização de armas a uma forma de exercício de poder, constituem uma enorme fonte de ameaça e de insegurança para as mulheres.

A exacerbação da masculinidade hegemónica e militarizada é o fundo comum que une as culturas de violência presentes em todas as escalas de guerra (as "velhas", as "novas" e as "novíssimas"). »

Texto retirado de:
www.eurozine.com/articles/article_2007-06-28-moura-pt.html

Ver ainda a seguinte nota de leitura:
http://cadeiras.iscte.pt/SDir/SDir_art_nl_2009_cp.htm


Texto da contracapa do livro:
Os olhares estereotipados sobre as realidades têm resultados perversos. O facto de serem homens - e, no caso da violência armada urbana, jovens do sexo masculino - os que mais matam e mais morrem, tem levado a que se fechem os olhos a outros actores envolvidos nesta violência e aos múltiplos impactos que as armas de fogo podem ter nas vidas de diversos sectores da população. Na violência armada, entendida como uma violência de homens contra homens, a mulher tem sido o ausente social por excelência.No entanto, as manifestações dos vários tipos de violência apresentam-se em várias escalas, desde a intersubjectiva à internacional. E estas manifestações, ou fontes de insegurança, muitas vezes silenciadas, são comuns a vários contextos locais, tornando-se assim globais.

ÍNDICE

1 Introdução
1.1. A nova geografia das guerras: velhas, novas e novíssimas guerras
1.2. Masculinidades e feminilidades: entre novíssimas guerras e novíssimas pazes

PARTE I – A NOVA GEOGRAFIA DAS GUERRAS

CAPÍTULO I - Das velhas às novas guerras

1. Conflito, violência e guerra: distinções conceptuais
2. Das velhas guerras (modernas)...
3. ...Às novas guerras
4. Conclusão: novidade ou continuidade?

CAPÍTULO II - Novíssimas guerras à margem das novas guerras?

1. Das novas às novíssimas guerras
1.1. Violências em cascata: causas subjacentes às novíssimas guerras

2. Paisagens urbanas das armas de fogo: disseminação territorial das violências

3. O sexo das violências: continuuns, espirais e identidades

PARTE II - MASCULINIDADES E FEMINILIDADES, ENTRE NOVÍSSlMAS GUERRAS E NOVÍSSIMAS PAZES

CAPÍTULO III - As denúncias feministas dos silêncios das Relações Internacionais

1. O carácter sexuado da agenda da disciplina

2. Da segurança nacional às (in)seguranças individuais

3. A construção social do sistema de guerra
3.1. Estereótipos e construções
3.2. Os "nós" e as "outras" do sistema de guerra

CAPÍTULO IV - A re(des)masculinização da guerra

1. Da desmasculinização da guerra...
2. .... À remasculinização das guerras

CAPÍTULO V - Velhíssimas guerras sexuadas, novíssimas guerras armadas: o caso do Rio de Janeiro

Introdução

1. Rio de Janeiro: um exemplo de novíssimas guerra
1.2. As cidades na cidade
1.3. Da paz à guerra?
1.4. Masculinidades (in)visibilizadas

2. O feminismo, na confluência de novíssimas guerras e novíssimas pazes
2.1. Feminilidades des-padronizadas da violência armada: as outras faces
2.1.1. O glamour da violência armada
2.1.2. Feminilidades estrategicamente marginais: "As mulheres passam por cargueiras"
2.1.3. "Estranhas" feminilidades: a participação directa
2.2. Vítimas da invisibilidade: impactos diferenciados das armas de fogo na vida de mulheres e jovens do sexo feminino
2.2.1. Impactos directos: a destruição dos corpos
2.2.2. Para além dos corpos, a destruição das vidas
2.3. Feminilidades colectivas e partilhadas: sobreviventes da violência armada
2.3.1. É uma dor muito doída...
2.3.2. Quando o luto se transforma em luta...

Conclusão

Conclusão

Pontos de partida

Histórias de sobrevivência


"Tatiana Moura é investigadora permanente do Centro de Estudos Sociais e membro de Núcleo de Estudos para a Paz. Actualmente é membro do Women’s Network Working Group da IANSA (International Action Network on Small Arms), a única rede internacional dedicada as articulações entre género, direitos das mulheres, armas ligeiras e violência armada. Licenciada em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, tem o grau de Mestre em Sociologia pela mesma Faculdade e é Doutorada em Paz, Conflitos e Democracia pela Universidade Jaume I, Espanha.
Os seus interesses de investigação centram-se em questões relacionadas com feminismo das Relações Internacionais, novas guerras e violência urbana e identidades e violência armada. Nos últimos anos tem coordenado projectos sobre o envolvimento de mulheres e jovens do sexo feminino em contextos de violência armada, em particular na América Latina, dos quais se destaca o mais recente projecto “Mulheres e violências armadas. Estratégias de guerra contra mulheres em contextos de não guerra”, um estudo sobre o Rio de Janeiro, San Salvador e Medellin, financiado pela Fundação Ford Brasil. Desde Junho de 2008 é investigadora responsável pelo projecto “Género, Violências e Segurança Pública”, uma parceria entre o NEP/CES e o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro, também com financiamento da Fundação Ford Brasil. Publicou, em 2005, Entre Atenas e Esparta. Mulheres, Paz e Conflitos Armados, Coimbra: Quarteto Editora, Rostos Invisíveis da Violência Armada. Um Estudo de Caso sobre o Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: 7Letras e Auto de Resistência. Relatos de familiares de vítimas da violência armada, em 2009. Actualmente co-coordena o Núcleo de estudos para a paz e o Observatório Género e violência Armada (OGiVA)."

http://www.ces.uc.pt/ces-lisboa/pages/pt/inicio.php