As obras de arte do mais alto nível não
se distinguem de outras obras pelo seu sucesso
– qualquer que seja o significado de sucesso –
mas pela natureza do seu fracasso.
Theodor W. Adorno
É na absoluta dispersão das suas vozes que
a comunidade se experiencia.
Jean-Luc Nancy
Cornelius Cardew e a liberdade da escuta, é uma exposição e um programa de concertos, performances e conversas com curadoria de Dean Inkster, Jean-Jacques Palix, Lore Gablier e Pierre Bal-Blanc que está patente nas instalações da CulturGest do Porto desde 8 de Maio e prolongando-se até 26 de Junho. Entrada gratuita
Culturgest Porto – Galeria
Edifício Caixa Geral de Depósitos
Avenida dos Aliados nº104
4000-065 Porto
Edifício Caixa Geral de Depósitos
Avenida dos Aliados nº104
4000-065 Porto
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A exposição reconstitui o percurso do compositor inglês Cornelius Cardew (1936-1981), desde os seus estudos e a sua colaboração com o compositor alemão Karlheinz Stockhausen, até à história da Scratch Orchestra, que ele co-fundou em 1969 e à qual se manteve ligado até à sua dissolução em 1975, altura em que renegou o seu trabalho como compositor de vanguarda e passou a dedicar toda a sua energia à militância política.
Iniciada pelo Centre d’art contemporain de Brétigny na Primavera de 2009, e apresentada posteriormente na Künstlerhaus Stuttgart, a exposição reúne um conjunto de filmes (de Hanne Boenisch, Luke Fowler, Nicolas Tilly e Lore Gablier), numerosas gravações musicais e vasto material de arquivo, incluindo partituras, cartazes e fotografias. Os materiais para a exposição foram generosamente cedidos por Horace Cardew, IRCAM (Paris), The Modern Institute (Glasgow), Keith Rowe, Victor Schonfield, Stefan Szczelkun, Samon Takahashi e Ruth Hilton.
Para além da exposição, este projecto engloba ainda um intenso programa de concertos, performances e conversas, ao longo do qual vários músicos e artistas internacionais interpretam partituras de Cardew e respondem ao seu trabalho de formas muito diversas, dando conta quer da duradoura vitalidade do trabalho do compositor e do seu contributo fundamental para a história da música experimental, quer da ressonância actual da sua obra e das suas ideias nas práticas musicais e artísticas contemporâneas.
Cornelius Cardew é indiscutivelmente um dos mais importantes compositores da segunda metade do século XX. Embora não tenha tido ainda um reconhecimento público alargado – ao contrário de Karlheinz Stockhausen e de John Cage, que influenciaram decisivamente a sua obra num período inicial –, Cardew inspirou toda uma geração de compositores e músicos de vanguarda, sendo reivindicado como importante influência por nomes como Gavin Bryars, Brian Eno, Michael Nyman, Frederic Rzewski ou Christian Wolff. Por outro lado, a radicalidade da sua abordagem à composição e a sua reflexão política sobre o estatuto da produção e da recepção musicais levaram-no, no final da década de 1960, a instigar uma das mais importantes tentativas de estabelecer as reivindicações democráticas da cultura de vanguarda, a Scratch Orchestra.
Nascida a partir das aulas que Cardew leccionava, em 1968, no Morley College (um colégio de educação para adultos no sul de Londres), a Scratch Orchestra questionou radicalmente as limitações sociais da arte e da música como domínios de conhecimento e experiência especializados. Combinando músicos e não-músicos, a Scratch Orchestra subverteu não só as fronteiras e hierarquias tradicionais entre o compositor, o intérprete e o ouvinte, mas também as fronteiras que cindiam o domínio da arte em campos separados – as artes visuais e a performance eram igualmente parte da experiência colectiva e criativa que inspirou os membros da Scratch Orchestra durante os seus seis anos de existência.
Desde 2006, ano do septuagésimo aniversário do seu nascimento, o interesse por Cardew, não só como compositor, mas também como figura política, ganhou um novo ímpeto. Para além de interpretações regulares da sua obra por todo o mundo, foi publicada nesse ano uma antologia dos seus escritos, Cornelius Cardew: A Reader, seguida em 2008 pela publicação de uma extensa biografia, Cornelius Cardew: A Life Unfinished, escrita pelo pianista (e ex-membro da Scratch Orchestra) John Tilbury. Este foi igualmente o ano em que se realizou a exposição Cornelius Cardew: Play for Today, comissariada por Grant Watson no MukHA, em Antuérpia, e que seria apresentada, no final de 2009, no The Drawing Room, em Londres.
À luz deste interesse renovado pela obra e pelo percurso de Cornelius Cardew, e num momento histórico em que é demasiado fácil ter um olhar sentimental “sobre os bons velhos tempos de experimentação e acção”, como sugeriu uma recensão crítica recente dos escritos de Cardew, este projecto procura não só reconstituir a história de um dos mais influentes compositores da vanguarda da segunda metade do século XX, e do importante grupo de vanguarda que ele inspirou, mas também mostrar por que razão o exemplo de Cardew é necessário “para nos fazer sair da nossa complacência e do nosso desespero actuais”.
PROGRAMA
Sábado, 8 Maio
16h30 Cornelius Cardew, The Great Learning, Paragraph 7 (1969), dirigido por Jean-Jacques Palix (entrada gratuita)
22h00 Tania Chen, recital de piano: obras de Cornelius Cardew, John Cage, Michael Parsons e Christian Wolff
Sexta, 14 Maio mais info
22h00 Cornelius Cardew, Treatise (1963-1967), concerto de Keith Rowe com Heitor Alves, Sei Miguel e Vítor Rua
Sábado, 15 Maio mais info
16h00 Michael Parsons, Walk (1969), performance dirigida por Jean-Jacques Palix (entrada gratuita)
17h00 Carole Finer, Keith Rowe e Stefan Szczelkun (antigos membros da Scratch Orchestra), A Scratch ‘Dealer Concert’: inclui obras de Howard Skempton, Christian Wolff e Stefan Szczelkun
Concerto seguido de conversa sobre a Scratch Orchestra
19h00 Conversa com Stefan Szczelkun a partir da projecção de excertos de filmes deste artista e activista (entrada gratuita)
Sábado, 22 Maio mais info
17h00 1001 Scratch Activities, performance de Loreto Troncoso e António Júlio (entrada gratuita)
22h00 Cornelius Cardew, Treatise (1963-1967), concerto de Michel Guillet, Jean-Jacques Palix, Markus Schmickler e Samon Takahashi
Piotr Kurek, Lectures, concerto
Sexta, 28 Maio mais info
21h30
Christian Wolff, recital de piano, precedido da interpretação de Stones (1968) e Burdocks (1972), deste compositor
Sábado, 29 Maio mais info
17h00 Cornelius Cardew, The Great Learning, Paragraph 5 (1970), dirigido por Lore Gablier, Annie Vigier e Franck Apertet
22h00 Walter Cardew Group (Horace Cardew, Walter Cardew, Androniki Liokoura), concerto
Sexta, 18 Junho
22h00 Cornelius Cardew, Volo Solo (1965), concerto de Rhys Chatham
Cornelius Cardew, The Tiger’s Mind (1967), concerto de Nina Canal, Nadia Lichtig e David Watson
Sábado, 19 Junho
21h30 John Tilbury, palestra e recital de piano: obras de Cornelius Cardew
Sexta, 25 Junho
22h00 Terre Thaemlitz, Meditation on Wage Labor and the Death of the Album, recital de piano