Segundo informações acabadas de chegar do Brasil morreu o professor Chrystian Paiva, historiador, poeta, músico, activista social e sindical anarquista. A morte deu-se em circunstâncias muito estranhas e tudo indica que se tratou de mais um assassinato perpetrado por agentes policiais do Estado de Roraima, um dos Estado brasileiro onde se regista uma das mais altas taxas de mortalidade por homicídio em todo o Brasil .
A versão da polícia é de que ele se suicidou!!!
Mas a sua companheira, Adriana Gomes, e mais uma sua amiga que os acompanha na viagem desmentem a versão policial.
Recorde-se que Chrystian apoiava o Movimento de Organização dos Trabalhadores em Educação (MOTE). (consultar http://greveprofessoresrr.blog.terra.com.br/ , que mantinha um link para o nosso blogue, Pimenta Negra).
Além da luta na educação e dos professores, Chrystian também estavam envolvido no movimento contra a implantação da indústria da cana-de-açúcar em Roraima, pela Biocapital, empresa paulista recém-instalada naquele estado e que deseja montar a maior fábrica de etanol da região amazónica.
Na floresta amazónica, terra cobiçada por grandes interesses obscuros e inescrupulosos dos fazendeiros, empresas e políticos , há anos o poder promove a violência, reprime e assassina, indígenas, populares, trabalhadores sem terra, ecologistas, todos e todas que lutam incansavelmente pela Vida Plena. Há anos o capital explora e destrói a Natureza, a diversidade da Vida naquela região.
Reproduzimos a seguir o texto integral da Adriana Gomes, companheira de Chrystian Paiva, onde relata as circunstâncias em que ocorreu a morte e o presumível assassinato do professor Chrystian Paiva
Meu nome é Adriana Gomes, sou Professora efetiva do Estado de Roraima, e era companheira do historiador formado pela Universidade de São Paulo (USP), professor, poeta, escritor, musico, compositor e anarquista Chrystian Paiva. Desde fevereiro de 2009, durante os quase dois anos que esteve no Estado de Roraima lutamos juntos no Sindicato dos Professores (SINTERR).
No dia 17 de outubro, sábado, saímos com uma amiga libertária que veio do estado de São Paulo nos visitar, e fomos ao balneário Caçarí que fica um pouco isolado na cidade de Boa Vista, capital do Estado de Roraima. Tínhamos uma arma utilizada para nos defendermos, levamos para o passeio dentro de uma mochila, o estado é isolado e o poder está nas mãos dos latifundiários, as relações são coronelistas, e esses coronéis fazem suas próprias leis, eles são a lei, então usávamos a arma como precaução e auto-defesa. Passamos a noite do dia 17 e quando amanheceu, domingo (18), percebemos que havíamos trancado a chave dentro do carro e começamos a pedir ajuda. Enquanto esperávamos ajuda conversávamos com várias pessoas e o Chrystian estava bem, aproximadamente às 10h me afastei alguns metros do local e deitei embaixo de uma árvore a fim de descansar e dormi.
Aproximadamente às 11h, o Chrystian foi bruscamente abordado por uma guarnição da Polícia Militar, sob o comando do Subtenente Machado, e sem nenhum indício anterior que tivesse intenção de cometer suicídio em um balneário movimentado, em plena luz do dia. A polícia em sua versão disse que o mesmo cometeu suicídio. As testemunhas são controversas, Chrystian era destro e a bala que perfurou a sua cabeça entrou do lado esquerdo, a mão esquerda estava machucada, assim como estava com hematomas e arranhões no rosto. Tudo leva a crer que não teve como se defender, e se tivesse como se defender com uma arma de fogo não atiraria na própria cabeça na frente de policiais militares. Não acreditamos na versão oficial da imprensa e da polícia de que Chrystian tenha cometido suicídio.
O Professor Chrystian era anarquista aguerrido, com quase dois anos residindo em Roraima mobilizou os professores do Estado para lutar contra as más condições da Educação, o coronelismo autoritário implantado pelo Estado nas escolas e a política pelega do Sindicato dos Professores.
Passávamos noites juntos com ele enviando e-mails, criamos o MOTE (http://greveprofessoresrr.blog.terra.com.br/ ), e como todo bom anarquista era apaixonado pelos seus ideais e ação direta. Colecionava um grande histórico de lutas de repercussão nacional e internacional empreendida no estado onde nasceu, São Paulo, e era punk desde os 12 anos. Ficamos indignados em saber que um companheiro de luta tão importante para o movimento tenha sido vítima de uma ação de policiais truculentos, e queremos vingança.
Vamos lutar o mais que pudermos para responsabilizar os verdadeiros culpados, pedimos a ajuda de todos os amigos e companheiros de luta para divulgação regional, nacional e internacional do ocorrido.
Adriana Gomes (Professora formada na Universidade Federal de Roraima (UFRR), especialista em História Regional)
Quarta-feira, 21 de outubro de 2009, Boa Vista, Roraima, Brasil
(adaptação de notícia da ANA, agências de notícias anarquista)