Petição Quando Tróia era livre
Para:
É com enorme desgosto que assisto a destruição de mais uma das belas paisagens do meu conselho de Grândola, estou a falar de Tróia é claro que deixou de ter aquelas belas praias selvagens para passar a ter betão.
Tróia foi servida de bandeja ao paradigma nacional dos negócios de lucro fácil e do capital intensivo, Belmiro de Azevedo. Pelo meio, a perspectiva de um Casino a fazer brilhar de cobiça os olhos do um autarca de Grândola a sonhar com o dinheiro que lhe permitirá acrescentar "obra" àquela que tem deixado implantar nas zonas dunares e agrícolas ao longo da costa alentejana... O facto de Tróia pertencer ao Concelho de Grândola não foi a única justificação para que o "Debate Público" sobre o projecto fosse agendado para Grândola, para bem longe daqueles que historicamente usaram as suas praias.
A um Estado incompetente em gerir um recurso natural e histórico de valor inestimável, juntou-se a oportunidade do negócio exclusivo. Com a desculpa do turismo, a construção maciça de segunda habitação para rico desfrutar. E o autarca "socialista" de Grândola a sonhar com o dinheiro das licenças de construção e do imposto autárquico...
José Sócrates, também "socialista" rendido aos valores da especulação imobiliária, o mesmo que patrocinou a co-incineração do outro lado do rio no meio das crateras da cimenteira Secil (convenientemente tapada digitalmente nos primeiros vídeos de apresentação do empreendimento), lá foi fingir a ignição da implosão das duas torres que teriam ficado mal construídas desde os tempos da Soltróia.
Hoje, os velhos ferrieboats a preto e branco da Transado, que transportavam pessoas e automóveis para o outro lado do rio, foram substituídos por outros de uma toda modernaça cor verde-alface... de estufa. Não foi só a cor das embarcações que foi alterada, o trajecto também, que passou a ser mais longo e feito para o interior do rio, para um antigo embarcadouro dos fuzileiros e pelo meio da rota de alimentação dos famosos golfinhos de Setúbal - de facto, roazes corvineiros, uma comunidade em declínio acelerado e já considerada em extinção pelos biólogos marítimos.
Para colmatar a distância do cais às praias da costa, a empresa de Belmiro colocou autocarros para levar as pessoas do cais dos ferrieboats para a costa. E fez cair sobre os "clientes" a duplicação do tempo de viagem e sobretudo o preço de acesso às praias. As embarcações que transportavam exclusivamente pessoas estão paradas no estaleiro, anunciaram-se novos hovercraft para os substituir mas estes ainda não apareceram - hovercraft, já os ouve no Rio Sado, mas desapareceram: dentre outras razões, o preço era tão proibitivo que os "convencionais" mantiveram a preferência dos setubalenses.
Quem pretender fazer o caminho a pé ao longo da costa terá à sua frente vedações e seguranças que o demoverão de passar na "propriedade privada". Uma repetição do abusivo impedimento da passagem pelo meio das urbanizações construídas em redor dos antigos caminhos de acesso às praias, iato num país que escreveu na Constituição que a orla marítima é de Direito Público e que não reconhece a existência de praias privadas... A desculpa: “os abusos” de alguns . A velha desculpa dos gestores incapazes de defenderem o Bem Público, e de quem encontra aí o argumento-chave para convencer os idiotas úteis quando é necessário acabar com o que é de Todos e de Todas.
Os signatários ...
http://www.peticaopublica.com/?pi=P2009N186
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O que está a acontecer em Tróia?
Apartheid em Tróia
Com o início da época balnear, confirmam-se os efeitos da grande operação de especulação imobiliária de Belmiro de Azevedo em Tróia - os setubalenses estão de facto impedidos de frequentar as praias de Tróia.
O betão ocupou a praia do povo de Setúbal. Os setubalenses não são desejados numa urbanização de milhões, de carácter elitista, destinada a garantir lucros chorudos e rápidos. Os ferries aumentaram os preços para o dobro e levam os passageiros para a zona dos fuzileiros, tornando penoso o acesso à praia. Os prometidos empregos não existem, já que o objectivo não é a hotelaria mas vender imobiliário.
As viagens dos ferries para o novo cais junto aos fuzileiros, coincidindo com a área mais importante de alimentação dos golfinhos do Sado, constitui também grave ameaça à sua subsistência no estuário.
São agora evidentes os efeitos da conivência do poder central e local com os interesses imobiliários, bem como da farsa mediática que juntou Belmiro e Sócrates.
Praia do povo, ao longo dos tempos frequentada livremente pelas populações de Setúbal, foi nas décadas 60 e 70 que a Torralta construiu torres e bandas de prédios. Com o 25 de Abril foi possível garantir que esse betão não impediria o acesso à praia. Existiu uma convivência pacífica entre essa urbanização e os frequentadores da praia. Com a falência do projecto da Torralta, vieram os despedimentos do pessoal e um semi-abandono da área construída.
Um governo PS lançou um projecto diferente. Os créditos do estado foram oferecidos, praticamente dados, ao grupo SONAE, que foi impondo a sua vontade. Beneficiando da colaboração do PCP (nas câmaras de Grândola e Setúbal), garantido o do PS, e com o natural apoio e entusiasmo do PSD, os anos foram passando e os projectos avançando no papel.
Já com Sócrates, esse especialista em farsas mediáticas, os três partidos uniram-se, disputando lugares ao lado de Belmiro de Azevedo: as torres apodrecidas foram destruídas em directo nas televisões. Muitas pessoas baixaram os braços perante a indestrutível aliança destes partidos com o maior "empresário" do país.
No extremo da península de Tróia virada para Setúbal, a duna primária foi arrasada. A popular praia, do lado direito do passadiço de desembarque, desapareceu substituída por uma marina. Uma muralha de prédios de 4 e 5 pisos, bem próxima da água, deixa para trás, cercada e sem vistas, a antiga área edificada pela antiga Torralta (perante a indignação dos antigos proprietários). A erosão da costa é secundária perante a ganância de quem finge não ver a destruição das dunas.
Para os golfinhos do Sado, o "resort" actualmente em desenvolvimento em Tróia, levanta novas e graves ameaças. O projecto imobiliário, implicou a deslocação do cais dos ferries para a zona próxima das instalações da marinha. Essa zona coincide com a área de mais importante alimentação dos golfinhos.
O estudo de impacte ambiental efectuado pela Comissão de Avaliação do Projecto "Marina e novos cais dos ferries do Tróiaresort", deu parecer desfavorável por causa dos riscos eventuais para a população de golfinhos e por existir a alternativa de manter a actual localização. Este estudo foi ignorado pelo Governo. Um princípio mínimo de precaução, aconselharia a que a mudança do cais dos ferries não tivesse lugar e se mantivesse o actual cais.
A Tróia do povo está transformada numa espécie de condomínio privado de novos ricos e patos-bravos carentes de estatuto. É provável que mais dunas e cordões dunares sejam inevitavelmente destruídos, rompidos, a água comece a ameaçar com as marés e os temporais. Que a salinização e contaminação dos escassos aquíferos pela ocupação desenfreada, pelos campos de golfe, venha a sair cara a todos nós ou que cá estiver para ver.
Quando a operação imobiliária estiver concluída, Belmiro de Azevedo abandonará rapidamente Tróia e lá estará o orçamento do Estado a pagar os efeitos nefastos da destruição das dunas, construindo muros e diques para defender a selva de betão...
Texto de Álvaro Arranja retirado do website Esquerda.net