30.12.08

Requisição de alimentos no supermercado em Grenoble( relato)


Sábado, 27 de Dezembro de 2008
Supermercados Monoprix no centro de Grenoble
Secção da alimentação na cave
Cinco caixas, cinco funcionárias, mais os vigilantes do costume
O matraquear bip-bip dos produtos a passar pelas máquinas registadoras
O barulho surdo dos sacos de plástico
A luz agressiva dos néons
As decorações de Natal sempre presentes
Muita gente, sobretudo pessoas com pressa

Subitamente os bip-bip param
O acesso em cada caixa é bloqueado por várias pessoas
Outras desenrolam uma faixa,
«Face à crise, requisitemos, partilhemos»
O slogan é entoado por uma trintena de pessoas
Distribuem-se flyers

Mudança completa do ambiente
Olhares espantados
Vigilantes correm
As funcionárias das caixas mostram-se indecisas
Vigilantes falam pelo walkie-talk
Fazem-se de fortes
«Vamos, Saiam, Fora daqui, Proibido estar aí
Mas o que é que vocês querem?»

«Queremos ver o gerente do supermercado»
«Queremos requisitar alimentos,
Para as pessoas, para os sem-papéis,
Para os precários,
Para os desempregados.
Isto é uma acção política»


«O gerente não está!
Vamos, Saiam, fora daqui!
Vocês estão a sequestrar reféns
E Não é assim que as coisas se fazem»

«Então, como é?
Não estamos em crise?»

Chega do subgerente
Com olhar angustiado
Discussões, palavras flúem
O subgerente desaparece
Os vigilantes acalmam-se
As caixas continuam bloqueadas
A fila de espera não pára de aumentar
Explicações, slogans cantados, flyers continuam a circular
Os clientes esperam e mostram-se passivos
O que hão-de pensar?
Dir-se-ia que esperam
Alguns agitam-se
A maioria fica com um olhar vazio
Como pinguins em frente a um muro
À epera que algo aconteça

«A polícia está a chegar!»
Sim, a polícia chega
Cowboys apetrechados, mãos arregaçadas
Agir ou não agir
Troca de olhares
O que se vai passar?
A polícia sai de cena

Reaparece o subgerente
Tem fogo na cabeça
«Vá, peguem nos pães, e saiam daqui para fora,
E parem de gritar slogans»

«Assine aí, por escrito, que está de acordo com isso!

«Não, nem pensar. Têm a minha palavra, isso basta»

« Diga isso então frente a toda a gente»

«Sim, eu digo.»
Alto e em bom som:
«Tudo bem! Podem levar os pães»

«E os polícias?»

«Não há problemas com os polícias
Têm a minha palavra
Sim, basta a minha palavra, mas agora saiam
Saiam imediatamente»


Uma a uma, as caixas são desbloqueadas
Vários pães e bens alimentares saem
Gratuitamente
Canta-se baixinho
Depois com mais força

«Os maus dias acabarão
Toma atenção
Quando os pobres se vingarão»

Emoção geral
Sentimentos de força
E de solidariedade

O barulho dos bip-bip
Já se ouve de novo
A roda-viva do dinheiro recomeça
As funcionárias das caixas maquilhadas
Os clientes apressados
Os néons intensamente iluminados
As comidas embaladas
As encomendas pagas
Os chocolates estão em promoção


O cortejo reagrupa-se
Estamos todos?
Sim.
Vamos sair
Lá fora estão os polícias
Diante do supermercado
Com as carrinhas
Parece que comem pizzas
Vamos todos sair em grupo
Permanecer agrupados, é importante


Estamos na rua,
Passamos pelas carrinhas,
Cara a cara com os polícias,
Tensão do ar
Continuamos sempre juntos
Prosseguimos

Acção conseguida?



FACE À CRISE, REQUISITEMOS E PARTILHEMOS