Se os Estados Unidos fossem a Argentina, e se a crise financeira em vez de ter ocorrido em Wall Street tivesse surgido em Buenos Aires, o FMI (Fundo Monetário Internacional), com a anuência do Banco Mundial, teria convidado sem mais delongas o Presidente argentino (dirigente máximo do Estado) a passar pela sua sede para uma reunião de trabalho, onde os tecnocratas de ambas as partes elaborariam um «incontornável plano de ajustamento estrutural» que incluiria cortes nas despesas públicas ( a Argentina teria que retirar certamente as suas tropas do Iraque, caso as tivesse mandado para aquele longínquo país arábe), assim como os salários dos trabalhadores assalariados sofreriam um duro revés por efeito da imposição de aumentos nos impostos e uma maior disciplina fiscal, tudo isso com vista a eliminar o défice orçamental e as excessivas despesas públicas, com a consequente redução de investimentos públicos, e supressão indiscriminada de subsídios e apoios do Estado, com todo o cortejo de cortes de financiamento à educação, saúde pública e obras públicas.
Seriam também exigidas reformas fiscais para ampliar a base fiscal ( aumentar o número de contribuintes às mais vastas – e pobres – camadas da população). Exigida era com certeza a subida das taxas de juro a fim de atrair dinheiro fresco do estrangeiro, ainda que isso pudesse vir a traduzir-se no encerramento de muitas pequenas e médias empresas argentinas.
A moeda nacional teria que sofrer inevitavelmente uma forte desvalorização, e haveria que suprmir muitas barreiras alfandegárias que protegiam as empresas nacionais pouco competitivas, eliminando-se de passo as restrições ao investimento estrangeiro ( leia-se aqui, o fomento para a compra de empresas nacionais por investidores estrangeiros). As empresas estatais teriam ainda de ser privatizadas, e vendidas ao desbarato, por imperativos orçamentais do Estado.
Não seriam sequer esquecidos domínios como o meio ambiente, a protecção do comsumidor e a segurança interna, que teriam de ser liberalizados, de forma a diminuir o peso ( e as despesas) do Estado nessas áreas.
Seria esta, a receita para a Argentina, caso esta fosse atingida por uma forte crise económico-financeira por imposição do chamado Consenso de Washington e do monetarismo liberal.
Acontece que a actual e a última crise financeira não se deu na Argentina, mas antes no sítio que viu nascer esse mesmo Consenso de Washington – os Estados Unidos da América – pelo que os seus autores preferem agora não aplicá-lo… Não é difícil saber porquê!