20.5.08

Futebol de rua versus a Indústria do Futebol



A propósito da edição do livro « Futebol De Rua: Um Beco Com Saída. Jogo Espontâneo E Prática Deliberada» de Helder Fonseca & Júlio Garganta

A actividade lúdica e espontânea do futebol de rua está a morrer. As crianças e os jovens estão a ser agora adestrados em recintos fechados, em escolas de futebol, tornaram-se bonecos amestrados de circo. O futebol tornou-se numa indústria pesada, num espectáculo alienante, monocórdico e embrutecedor, protagonizado por «jogadores-robot» telecomandados à distância…

Estão a esgotar-se os tempos em que crianças e jovens, através do denominado Futebol de rua, iniciavam de forma espontânea e sem qualquer supervisão dos adultos, a prática do Futebol. Por isso, o desaparecimento do Futebol de rua tem sido referido como uma das razões que actualmente a explicar a menor qualidade individual dos jogadores e a falta de criatividade no jogo de Futebol.

Com o desaparecimento do futebol de rua, berço da maioria dos grandes futebolistas do passado, a criança, em vez de descobrir o jogo num ambiente favorável como a rua, foi despojada do jardim de infância e submetida, em instalações desportivas, a métodos que não respeitam os seus desejos e expectativas, nem se ajustam à sua capacidade física e mental...

O Futebol de rua é uma actividade que se consubstancia em condições deveras importantes para o desenvolvimento das habilidades para jogar e para a potenciação da aprendizagem, a saber: o envolvimento prematuro com a bola e o(s) jogo(s); a elevada quantidade de horas dessa prática (jogo) acumulada; o prazer e a paixão que a criança mantém pelo jogo; a presença constante da auto e da heterocompetição; a possibilidade da criança explorar, criar e construir o jogo, sob condições de elevada variabilidade e instabilidade.