3.3.08

Curso livre de Restauro Urbano Integrado ( 13 e 14 de Março na Fac. de Letras do Porto)


Curso de Restauro Urbano Integrado
- novo curso livre -

Faculdade de Letras da Universidade do Porto
13 e 14 de Março de 2008

Organização: Ass. Estudantes da FLUP


Apesar de serem cada vez mais frequentes em Portugal os congressos, as conferências e a formação pós-graduada sobre o tema da reabilitação urbana, continuamos a constatar erros e falhanços aparentemente incompreensíveis em numerosas intervenções recentes realizadas nos nossos centros históricos.


O problema começa logo com a metodologia de análise. É sabido que muitos dos Planos de Pormenor de Centros Históricos são geralmente elaborados por equipas onde nem sequer se incluem especialistas em História do Urbanismo e em Conservação Integrada, tendo como resultado planos pouco (ou mal) fundamentados.


Ora, não se conhecendo em detalhe todas as causas históricas de abandono e degradação, rua a rua, não se podem esperar propostas de intervenção bem sucedidas. Não se conhecendo o efectivo valor dos centros históricos como conjuntos e a importância da sua arquitectura de carácter vernacular, não se podem esperar propostas de intervenção com critérios adequados.


Não havendo capacidade de previsão, baseada nas leis do urbanismo orgânico e na antropologia do espaço, o índice de insucesso nas intervenções acaba por ser forçosamente muito elevado, com óbvios prejuízos a todos os níveis: sociais, económicos, ambientais, patrimoniais, etc.


Mais do que reabilitar os edifícios, mais do que intervir avulso em quarteirões e em espaços públicos, é sobretudo necessário recriar e restaurar a lógica dos núcleos urbanos antigos, dentro de um espírito que ainda mal foi experimentado em Portugal, mas que já há alguns anos foi sendo defendido nos International Courses on Integrated Territorial & Urban Conservation, organizados pelo ICCROM.


Hoje, torna-se evidente que a questão dos centros históricos não é um mero problema de arquitectura ou de planeamento urbano. Várias áreas do saber são cada vez mais chamadas a contribuir para o estudo dos centros históricos e para as subsequentes estratégias de intervenção e de conservação: a História da Arte, a Antropologia, a Arqueologia Urbana, a Sociologia Urbana, o Turismo, a Mobilidade e a Engenharia de Transportes, a Geografia Urbana, a Conservação e Restauro, a Museologia, a Economia, a Engenharia Civil, a Arquitectura Paisagista, o Design Urbano, a Gestão de Património, o Direito, etc. Ainda assim, o Restauro Urbano Integrado não constitui um mero somatório de saberes. Trata-se de uma área interdisciplinar recente e com fronteiras ainda mal definidas.


Neste curso livre de Restauro Urbano Integrado apresentar-se-á um conjunto de novas metodologias de análise e de novas estratégias de intervenção, tendo como base uma análise crítica sobre os últimos trinta anos de reabilitação urbana em Portugal.




Objectivo do curso


• Dar resposta às expectativas de anteriores participantes nos cursos livres de Conservação e Restauro leccionados em 2005 na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, participantes esses que pretendiam ver autonomizada e aprofundada a vertente do Restauro Urbano Integrado.


• Corresponder ao crescente interesse por este tema (dentro e fora do ambiente universitário) sobre o qual praticamente não existe bibliografia em português com um carácter interdisciplinar.


• Colmatar uma importante lacuna de formação, uma vez que não está ainda disponível em Portugal qualquer curso consistente sobre o tema da Conservação Urbana e Territorial Integrada. Existem apenas alguns pequenos módulos em cursos pós-graduados, embora geralmente de carácter não interdisciplinar, destinados em exclusivo a arquitectos ou demasiado baseados no subjectivo auto-elogio de protagonistas de uma certa reabilitação urbana.


Em suma, ainda que em versão resumida, este será o primeiro curso em Portugal única e exclusivamente dedicado à Conservação urbana e territorial integrada e às questões interdisciplinares mais relevantes ligadas ao restauro e à conservação sustentável de centros históricos entendidos como conjuntos, indo muito para além da arquitectura e do urbanismo.


Destinatários do curso


• Estudantes de licenciaturas e de pós-graduações, sobretudo das seguintes áreas: História da Arte, Sociologia, Geografia, Arquitectura, Urbanismo e Planeamento do Território, Economia, Gestão do Património, Conservação e Restauro, Museologia, História, Arqueologia, Engenharia Civil e Arquitectura Paisagista.
• Investigadores e docentes universitários das áreas supramencionadas ou de áreas conexas.
• Técnicos de autarquias e de organismos oficiais centrais, arquitectos e responsáveis por gabinetes de centros históricos, de SRUs ou GTLs; Conservadores/restauradores; Designers de mobiliário urbano; Responsáveis por edifícios históricos (igrejas e conventos, museus, casas solarengas, etc.); Técnicos de Mobilidade e Transportes; Promotores Imobiliários / Investidores. • Outros interessados no tema dos centros históricos e da reabilitação urbana integrada, independentemente da sua formação.



Programa


1. causas históricas do decaimento dos núcleos antigos (urbanos e rurais)
- mudanças sociais ocorridas durante o Romantismo; processo de industrialização; expansão urbana; novos valores urbanísticos; o caminho-de-ferro; generalização do automóvel; emergência de novas periferias; etc.
- avaliação do grau de decaimento em função de factores sociais e económicos, em função de intervenções urbanísticas concretas e em função da implantação territorial de cada núcleo antigo

2. os núcleos antigos encarados pelo urbanismo do século XX
- da intolerância pelas áreas urbanas antigas (Alta de Coimbra, Porto - Barredo, Braga antiga, etc.) à emergência de questões patrimoniais; noção isolada de monumento e necessidade de desafogo visual (projectos marcantes em Portugal: Sé do Porto, Vila Real – vila velha, Bragança – cidadela; Guimarães – área do castelo, Beja – área do Convento da Conceição, Aveiro – área do Convento de Jesus, etc.)
- emergência da noção de "aldeia histórica" e progressiva valorização das soluções vernaculares na arquitectura


3. núcleos antigos como conjuntos de elevado valor patrimonial
- as primeiras classificações dos "centros históricos"; projectos de reabilitação emblemáticos do último quartel do século XX, seus sucessos e falhanços (Évora, Porto, Coimbra, Guimarães, etc.)

4. tendências internacionais mais recentes no restauro de núcleos históricos como conjuntos
- As noções de RESTAURO URBANO e de conservação urbana (lntegrated Territorial and Urban Conservation); ênfase no carácter interdisciplinar das intervenções; situação actual na Europa e em Portugal; o modelo das Sociedades de Reabilitação Urbana (SRU) e o exemplo pioneiro da SRU Porto Vivo
- Vantagens e fragilidades do modelo das SRUs

5. novas metodologias de restauro e conservação integrada de núcleos históricos
- Critérios de base para o restauro à escala do edifício (entre a contemporaneidade, a autenticidade e a imitação do antigo; gradação de valor na arquitectura erudita e na arquitectura vernacular; concordância estética e ambiguidades na definição de "arquitectura de qualidade"; o papel do arquitecto relativamente a outros saberes)
- Critérios para o restauro à escala do conjunto (noção do valor das partes; tipos de planos e sua articulação; estratégias de delimitação; modelos de gestão ideais; lacunas de formação técnica ainda existentes; dos critérios gerais à casuística)
- Fundamentação para a elaboração de planos de salvaguarda, reabilitação, revitalização e conservação integrada (importância da História do Urbanismo e das leis do urbanismo orgânico); necessidade de desenvolver acções baseadas na capacidade de previsão
- A importância da reabilitação de percursos (recurso aos transportes públicos para recriar percursos, indução pelo pavimento; resolução de cicatrizes urbanas; eliminação de "zonas de ninguém")
- A reabilitação de espaços públicos (mobiliário urbano; cabos aéreos; pavimentos; infra-estruturas; etc.)
- O restauro do intangível - vivências, identidades, imagens (factores estéticos e antropológicos)
- A recomposição social dos núcleos históricos (a questão da habitação social; novos residentes; segurança; limpeza; vandalismo; etc.)
- Questões de sustentabilidade económica e ambiental
- Novas/velhas formas de comércio e sua localização preferencial em função do tipo de percurso (avaliação do potencial comercial)
- Critérios para a instalação de serviços/equipamentos nos núcleos históricos
- A questão das alterações ao cadastro e o uso dos logradouros
- O problema do automóvel (estacionamento; circulação; cargas e descargas, etc.)
- A questão do turismo e seus impactos positivos e negativos

6. Exemplos paradigmáticos de boas e más intervenções recentes em núcleos históricos portugueses (com análise e debate de ideias):
Viana do Castelo – Polis
Braga – Campo da Vinha e Campo de Santa Ana
Guimarães - GTL
Porto - Sé
Porto 2001
Porto - Avenida da Ponte (projecto)
Porto - Barredo
Gaia ribeirinha
Áreas suburbanas de Gaia e núcleos históricos rurais
S. João da Pesqueira
Lamego – área intramuros
Coimbra – Metro, Pátio da Inquisição, Baixa
Leiria – plano de pormenor e Polis
Óbidos
Santarém
Castelo de Vide – Rossio
Marvão
Évora – Património da Humanidade
Monsaraz
Juromenha (projecto)
Beja – muralhas
Mértola
Lagos (projecto)
Rates
Castelo Rodrigo
Portalegre - Polis
Etc.




Formador:


Francisco Queiroz
Licenciado, Mestre e Doutor em História da Arte (FLUP). Docente de História da Arquitectura e do Urbanismo no Curso Superior de Arquitectura da ESAP.
Investigador do CEPESE (Universidade do Porto) e autor de numerosas publicações científicas. Há vários anos que publica artigos e apresenta comunicações e palestras sobre o tema da Conservação Integrada. É co-autor da obra "Conservação Urbana e Territorial Integrada", a publicar brevemente pela editora Livros Horizonte.
Em 2005, leccionou o módulo de restauro urbano do curso livre "Conservação e Restauro de Núcleos Históricos" que se realizou na Faculdade de Letras da Universidade do Porto em Fevereiro de 2005 e foi repetido em Abril de 2005.
Em 2006 e 2007, Francisco Queiroz leccionou vários módulos no âmbito dos cursos de formação para activos "Planeamento, Requalificação e Reabilitação de Centros Históricos", "Concepção e Produção de Eventos de Dinamização dos Centros Históricos do Minho-Lima", e "Concepção, Gestão e Animação de Percursos em Centros Históricos" organizados pela "Setepés Formação" para a Adriminho - Associação de Desenvolvimento Rural Integrado do Vale do Minho e para a TECMINHO / Universidade do Minho.



Formato do curso


O curso realizar-se-á em formato intensivo, num total de 14 horas assim distribuídas:
Quinta-feira, 13 de Março de 2008 - 10:00-13:00 / 14:30-18:30
Sexta-feira, 14 de Março de 2008 - 9:30-12:30 / 14:00-18:00

Valores da inscrição


Valor de inscrição no curso – 60 €
Valor de inscrição no curso para sócios da AEFLUP e para estudantes de licenciatura (da FLUP ou de outros estabelecimentos de ensino superior reconhecidos), mediante apresentação de comprovativo – 45 €



Informações e inscrições
AEFLUP - Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Via Panorâmica (ao Campo Alegre), s/n
4150-564 Porto


Para obtenção de mais informações sobre o curso:

22 607 71 00 (extensão 3135) / 93 876 60 32 / aeflup@letras.up.pt


Contacto da Secretaria da AEFLUP (pagamento de inscrições): 22 609 92 58