24.1.08

Hoje há encontro no Ateneu às 18h30 sobre os projectos para o Mercado do Bolhão

Hoje às 18:30H, no Ateneu Comercial do Porto, encontro-debate sobre os projectos para o Mercado do Bolhão



As mudanças anunciadas para o mercado do Bolhão estão a provocar receios, dúvidas e inquietações entre muitos comerciantes e utentes deste espaço emblemático da Baixa portuense. Por seu turno, alguns sectores da cidade temem a descaracterização deste edifício de importância patrimonial e puseram a circular um manifesto a alertar para a "demolição" do mercado.

Encontro esta 5ª feira (dia 24) sobre «O futuro do mercado do bolhão» - com a presença de Arq. Correia Fernandes, Arq. Anni Günther, Arq. Joaquim Massena »

Mais info:

http://manifestobolhao.blogspot.com/

http://opozine.blogspot.com/



Na próxima Quarta-Feira (30 de Janeiro) no Café Ceuta no Porto às 18:30H:

O Movimento Cívico e Estudantil promove a 1ª reflexão/ tertúlia, sobre o tema:

" O que melhor servirá os interesses Humanos, Patrimoniais, Artísticos e Culturais no Mercado do Bolhão"
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Artigo de José Carlos Marques publicado no Jornal de Notícias de 15 de Janeiro de 2008 a propósito dos projectos do futuro Mercado do Bolhão



Requalificação é hoje uma palavra que serve para tudo e para nada, sobretudopara confundir. Obviamente, o Mercado do Bolhão, de valor duplamentepatrimonial, pelo edifício e pela actividade em si que é um património vivo,precisava de ser conservado, restaurado e revitalizado. Mas o valor culturalfinal da operação depende do seu enquadramento mais amplo.



Os mercados de frescos e de ar livre, em geral de índole municipal, estão hoje a ser comprimidos e empurrados para uma progressiva extinção por via de um domínio exagerado das grandes superfícies e de um descuido programado. A operação prevista para o Bolhão, ao contrário das aparências dadas pela manutenção do mercado de frescos num piso intermédio, inscreve-se nessemovimento em vez de tentar revertê-lo. E isso porque esse aspecto tradicional e actual é relegado para uma fracção afinal subalterna no novoprojecto. Se de facto se quisesse manter e consolidar a função essencial e histórica, as novas actividades a introduzir deveriam circunscrever-se a umpapel complementar (a título de exemplo e sem rigidez, pode sugerir-se umterço da área), continuando o mercado de frescos a ter o papel dominante.


Não há aqui espaço para explicar por que razão a revitalização e ampliaçãode uma rede de mercados municipais de frescos, com o Bolhão como elo indispensável, é importante para o nosso futuro. Às razões de qualidade alimentar e saúde pública, junta-se o urgente apoio que os centros urbanosdevem dar à revitalização da agricultura de proximidade, através do incentivo à horticultura e policultura numa cintura de uns 50 a 80 quilómetros em torno do centro urbano, com contratos estabelecidos comvelhos e jovens agricultores segundo cadernos de encargos que garantam uma qualidade alimentar e ambiental superior à média. Iniciativas como os grupos de agricultura apoiada pela comunidade inscrever-se-iam no âmbito desse processo.


Além deste aspecto, levantam legítimas dúvidas e preocupações os trabalhos a exercer no subsolo, de que se usa e abusa hoje sem qualquer consideração pelo estado lamentável em que se vão deixando os lençóis freáticos. Asesperanças suscitadas pela reabilitação do centro histórico do Porto, cujo êxito é essencial para o futuro da cidade, são sombreadas pela tendência para trabalhos pesados no subsolo parecer estar a prevalecer sobre soluçõe sacima do solo, que são em princípio menos lesivas. Essa tendência deveria ser corrigida. Infelizmente, o Bolhão será um passo mais numa direcção errada.


No capítulo habitação, a dimensão prevista atribui um papel relativamente marginal a esta função. Em todo o caso, e dado o extenso parque de habitação degradada no centro do Porto, afigura-se contraditório introduzir habitação em edifícios que nunca tiveram essa função nem foram concebidos para a terem. Poderá ao menos esperar-se que essas fracções venham a criar um efeito de arrasto, pondo na "moda" morar nos quarteirões envolventes. Efeito que se poderia aliás talvez obter em edifícios aí existentes que sempre tiveram essa função.


texto de José Carlos Costa Marques