21.1.08

Entrevista ao poeta António Pedro Ribeiro: A surrealizar por aí...

retirada do Jornal A Voz da Póvoa

António Pedro Ribeiro nasceu no Porto em Maio de 68. Vive em Vilar do Pinheiro. É Licenciado em Sociologia. Com Rui Soares, publicou o livro de poesia, “Gritos. Murmúrios” (Grémio Lusíada, 1988), seguiu-se “à mesa do homem só”, (Silêncio da Gaveta, 2001); sexo noitadas e rock n’roll, (Edição de Autor, 2004); Declaração de Amor ao Primeiro Ministro, (Objecto Cardíaco, 2006); Sallon, (Edições Mortas, 2007) e recentemente, Um poeta a Mijar, (Corpos Editora, 2007).

Voz da Póvoa – Um Poeta a Mijar, continua a fazer declarações de amor ao primeiro ministro?

António Pedro Ribeiro – O surrealismo e o dadá continuam presentes e até a linha Beatnick. O poeta a mijar é no fundo um poeta que observa, está no mundo mas está deslocado do mundo de uma forma muito critica. Por um lado está a mijar e está-se a cagar, mas por outro está preocupado com um mundo que é feito de economicismos, materialismos e de castrações. O poeta coloca-se um pouco à margem, na posição de um certo voyeur, mas é aí que observa.

V.P. – Este livro continua a assumir o lado crítico na linha dos anteriores?

A.P.R. – O livro, Declaração de Amor ao Primeiro Ministro, tinha mais poder e era mais directo, mas penso que este é mais abrangente, porque vai buscar coisas que não estavam nos outros livros. Não sendo tão directamente politizado, acaba por ser mais critico porque vai buscar a fundo o que está mal na sociedade e até o amor continua presente, talvez menos por uma mulher como no Sallon, já o lado místico, como lúcifer, deus, o céu, continua muito presente.

V.P. – Nos livros aparecem sempre poemas que hibernavam nas gavetas?

A.P.R. – A escrita tem destas coisas, por vezes passo por certos períodos de espera e de silêncio e depois há outros em que escrevo bastante. Há também poemas que vão esperando por um livro que os acolha, mas nem sempre é assim, por vezes ficam esquecidos ou perdidos num qualquer sítio e depois por obra do acaso vão sendo recuperados à luz do dia que são os livros por onde passam a morar.

V.P. – O poeta volta a ser candidato, desta vez à Câmara do Porto...

A.P.R. – É uma forma de bombardear o sistema, é puro terrorismo poético. Não há qualquer inocência nesta candidatura, nem a intenção é provocar por provocar, é o tal lado surrealista que exige uma postura radical, que se tem mantido na minha escrita e que é coerente com a minha pratica. Depois a velha ganga marxista já não se aplica à sociedade de hoje, é preciso procurar outros caminhos, como o sentido de humor por exemplo.

V.P. – Pensa que este é um momento em que se exige uma viragem na sociedade?

A.P.R. – Já fui comunista, marxista-leninista e só marxista. Agora já não tenho a propor um modelo de sociedade, tenho é a certeza que este modelo não serve e portanto devo tentar ridiculariza-lo ao máximo. Neste momento estou afastado dos partidos e não acredito neles nem nos seus projectos. Não tenho uma solução para o problema, mas sei que isto não serve e o que posso fazer é escrever sobre isto e dizer que nada disto vai ao encontro da felicidade do homem.

V.P. – O poeta era capaz de escrever um livro em oposição a tudo o que escreveu?

A.P.R. – Se fizesse uma selecção de poemas de amor que nunca publiquei, alguns mesmo antigos, era capaz de ser diferente, não completamente porque o amor acaba por estar sempre presente em todos os meus livros. Este fala muito do palco, ou tudo o que se vive enquanto lá está, o declamador de poesia, o cantor ou o performer. Um palco onde Jim Morrison ou Ian Curtis eram feiticeiros que conseguiam transportar o publico para outra dimensão, é esta a minha homenagem.