28.1.08

CODU 32703 ou como a politica de saúde do governo pode matar

Texto retirado do blogue Contramestre

Se alguém ainda tiver dúvidas sobre as falhas da rede de socorro e emergência médica em Portugal estas ficam definitivamente desfeitas com o caso infeliz de Castedo Alijó. A transcrição das comunicações entre o CODU do INEM, os Bombeiros de Alijó e de Favaios é o exemplo acabado daquilo a que politica de saúde deste governo conduziu.

A Ordem dos Médicos num comunicado emitido denuncia também «a falta de profissionalismo e coordenação» e expressa a sua preocupação quanto ao “estado e aos graves problemas da assistência em Portugal em situações de urgência e emergência”. “O país real é bem diferente do país ideal pintado por alguns”, acusou a Ordem pedindo medidas para resolver as “falhas inaceitáveis na cadeia de socorro”, as “fragilidades de comunicação de todo o sistema de emergência” e a “falta de integração e coordenação entre o INEM e a Protecção Civil”.

A partir de agora é possível afirmar com segurança o que tenho vindo a tentar provar aqui desde Janeiro de 2007 compilando as sucessivas falhas do INEM. A POLITICA DE SAÚDE DO GOVERNO MATA.

Da leitura do documento fica a perceber-se a total descoordenação, ignorância e falta de meios de todos os intervenientes envolvidos no socorro. A operadora do CODU do INEM não tem ideia dos meios no terreno, os bombeiros estão sozinhos nas corporações apenas com um telemóvel e a VMER (Viatura Médica com Equipamento de Reanimação) mais próxima está inoperacional e a três quartos de hora do local e os Centros de Saúde estão encerrados durante a noite. Pior era difícil.

É incrível como o CODU nem sequer tem conhecimento da localização da viatura de emergência mais próxima disponível e do tempo que demora a chegar ao local do acidente. É o elemento dos Bombeiros de Favaios que informa por telemóvel a operadora do CODU. Mas a ignorância da operadora não se fica por aqui chegando a perguntar se há algum Centro de Saúde aberto nas redondezas. Não havia porque Correia de Campos mandou-os encerrar todos no início de 2007.

Depois de disponibilizada a viatura médica de socorro o diálogo entre o único elemento da corporação de Favaios e a médica em Vila Real é exemplar do amadorismo assassino em que assenta a rede de socorro depois que Correia de Campos começou a mexer nela. A médica não faz ideia onde fica o lugar e como não deve ter GPS recebe as indicações da localização pelo bombeiro.

Saindo de Vila Real uma ambulância demora pelo menos 45 minutos para chegar a Castedo isto se não houver nevoeiro ou gelo na estrada. Nessa noite havia intenso nevoeiro. A operadora manda portanto avançar os bombeiros de Favaios para fazerem o suporte imediato de vida até à chegada do médico saído de Vila Real. Impossível o bombeiro da corporação de Favaios está sozinho e portanto incapaz de desempenhar tal tarefa.

A operadora resolve então a ligar para os Bombeiros de Alijó. A cena repete-se. Há apenas um único elemento ao serviço. Não temos meios diz o bombeiro. O suporte imediato de vida não pode ser executado.

É bom que todos tomemos consciência do que se está a passar com os serviços de emergência em Portugal. Neste blogue venho desde Janeiro de 2007 denunciando e documentando as mortes por falhas do sistema de emergência.

A política assassina de Correia de Campos que encerra serviços e conduziu à inoperacionalidade do sistema de emergência só pode ser travada pela indignação e luta da sociedade civil.

Continuará a morrer gente por culpa da política deste governo? De que estão os portugueses à espera para se indignarem?

A chamada na sua totalidade pode ser vista e ouvida no Youtube
http://www.youtube.com/watch?v=MRDh-5aEKkg