27.1.08

Em memória de Manuel Buíça


CARTA-TESTAMENTO de Manuel Buíça (28/1/1908)
Escrita (e reconhecida) em 28 de Janeiro, quatro dias antes do regicídio


“Manuel dos Reis da Silva Buiça, viuvo, filho de Augusto da Silva Buiça e de Maria Barroso, residente em Vinhaes, concelho de Vinhaes, districto de Bragança. Sou natural de Bouçoais, concelho de Valpassos, districto de Vila Real (Traz-os-Montes); fui casado com D.Herminia Augusta da Silva Buíça, filha do major de cavalaria (reformado) e de D.Maria de Jesus Costa. O major chama-se João Augusto da Costa, viuvo. Ficaram-me de minha mulher dois filhos, a saber: Elvira, que nasceu a 19 de dezembro de 1900, na rua de Santa Marta, número… rez do chão e que não está ainda baptisada nem registada civilmente e Manuel que nasceu a 12 de setembro de 1907 nas Escadinhas da Mouraria, número quatro, quarto andar, esquerdo e foi registado na administração do primeiro bairro de Lisboa, no dia onze de outubro do anno acima referido. Foram testemunhas do acto Albano José Correia, casado, empregado no comércio e Aquilino Ribeiro, solteiro, publicista. Ambos os meus filhos vivem commigo e com a avó materna nas Escadinhas da Mouraria, 4, 4º andar, esquerdo. Minha família vive em Vinhaes para onde se deve participar a minha morte ou o meu desapparecimento, caso se dêem. Meus filhos ficam pobrissimos; não tenho nada que lhes legar senão o meu nome e o respeito e compaixão pelos que soffrem. Peço que os eduquem nos principios da liberdade, egualdade e fraternidade que eu commungo e por causa dos quaes ficarão, porventura, em breve, orphãos. Lisboa, 28 de janeiro de 1908. Manuel dos Reis da Silva Buiça. Reconhece a minha assignatura o tabelião Motta, rua do Crucifixo, Lisboa.“

Retirado de:
http://www.laicidade.org/



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A diáspora dos Buíças

Os descendentes de Manuel Buíça foram estigmatizados e obrigados a dispersarem-se. Muitos deles esconderam o nome


Aconchega o boné de lã azul quando se lhe pergunta se conhece alguém da família de Manuel Buíça, o regicida. "Já não há ninguém", atira Álvaro David, enquanto pega num braçado de lenha para atear a fogueira. "Ontem ainda fez mais frio", comenta o octogenário convidando os jornalistas a partilharem o calor doméstico.
O fim de tarde anuncia-se gélido e nas ruas da transmontana Lagarelhos pouco se afoitam, enquanto da maioria das chaminés já se solta um fumo azul-cinza que vai cobrindo os castanheiros. É nesta aldeia, a meia dúzia de quilómetros de Vinhais, que o regicida viveu com o pai, o padre Abílio Augusto Buíça, abade naquela vila. É mais uma tentativa para encontrar descendentes do homem que no dia 1 de Fevereiro de 1908, com Alfredo Costa, atirou sobre D. Carlos...



Quem nunca se sentiu incomodada com o apelido é Isabel, de 25 anos. O mais novo elemento do clã Buíça nasceu... no dia 5 de Outubro, em Bragança, para onde se dispersaram alguns ramos da família. Ela própria só descobriu a ligação familiar com Armando Fernandes através do Expresso. O avô de Isabel, José Manuel Buíça, era irmão da mãe do antigo funcionário da Gulbenkian.


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