17.11.07

O relatório final do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC) é conclusivo: o aquecimento global é inevitável e está a acelerar-se

«O aquecimento do clima é inequívoco e já é evidente o aumento da temperatura média global do ar e dos oceanos, a ampla fusão de gelo e neve e o aumento global do nível do mar», assim começa o relatório final do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC) reunido nos últimos dias na cidade de Valência com delegados de 130 países. O documento destaca que já são visíveis os impactos do aquecimento global como é o caso do aumento do nível do mar, acrescentando ainda que o aquecimento global se irá manter ao longo dos próximos séculos.

O texto foi suavizado por pressão de países como os Estados Unidos, a Arábia Saudita e a Índia. Mas a conclusão não oferece dúvidas: a responsabilidade pela mudança no clima deve ser imputada ao homem.
Apesar de não ser o estudo mais avançado nem o mais ousado, o documento final é importante pois representa o consenso científico do momento e servirá de base de trabalho para a cimeira de Bali, daqui a 3 semanas, quando os países começarão a preparar um novo tratado que substitua o de Quioto.

No texto aprovado afirma-se: « 11 dos últimos 12 anos (1995-2006) foram os mais quentes em todos os registos apurados da superfície terrestre desde 1850», verificando-se ainda que o ritmo actual d aquecimento (0,13 graus em cada década) é maior do que a estimativa feita pelo IPCC em 2001. Além disso, a temperatura subiu mais no hemisfério norte e no Ártico ao dobro da velocidade do resto do planeta.
O aumento foi tão forte que «as observações desde 1961 mostram que as temperaturas no oceano aumentaram a profundidades até 3.000 metros, estando o oceano a absorver mais de 80% do calor suplementar no nosso sistema climático.» A subida no mar foi muito pequena, até porque o aquecimento oceânico exige uma imensa quantidade de energia. Ao aquecer, o mar aumenta de volume e o seu nível sobe em média 3,1 milímetros ao ano, desde 1993.

Neste documento refere-se ainda que o gelo árctico reduziu-se 7,4% em cada década desde o ano de 1978, altura em que começaram os registos por satélite. (note-se que estes némeros já estão desactualizados,uma vez que se basearam nas informações fornecidas peloInstitutp Nacional de Investigação do Gelo dos Estados Unidos que, no passado mês de Outubro, reviu os seus dados ao comunicar que desgelo árctivo evolui à média de 10% em cada década).

Conclui-se que a temperatura média da última metade do século XX foi provavelmente a maior de qualquer período seguido de 50 anos, desde a época dos Descobrimentos, e «muito provavelmente a mais alta dos últimos 1.300 anos».

Animais e plantas reagem a estas mudanças. As aves migram e altera-se a altitude das árvores .

«As emissões de gazes com efeito de estufa cresceram 70% entre 1970 e 2004». Estes gazes ( dos quais 80% são CO2) são os que fazem possível a vida na terra. Acumulam-se na atmosfera e retêm parte do calor libertado na Terra, que sem eles seria demasiado fria. Mas desde que, em 1750, a humanidade começou a queimar carvão e petróleo e quantidades astronómicas, aquela concentração aumentou exponencialmente. A manta que mantinha temperada a temperatura terrestre ameaça asfixiá-la: «A concentração atmosférica de CO em 2005 excede de longe o patamar natural dos últimos 650.000 anos», sustenta o IPCC.

O Relatório é claro ao atribuir o aquecimento global à acção do homem, e não deixa lugar algum aos cépticos: «A maior parte do aumento da temperatura observada globalmente na segunda metade do século XX é muito provavelmente devida ao aumento observado dos gazes com efeito de estufa e de origem humana. É provável que o fenómeno dos últimos 50 anos se trate de um aquecimento antropogénico em todos os continentes, salvo na Antártida»

No Relatório dá-se por adquirido que as emissões de gazes com efeito de estufa continuarão a aumentar ao longo das próximas décadas, o que causará uma mudança climática de maior magnitude do que aquela que foi observada no século XX.

Os cientistas prevêem uma subida entre 1 e 6,4 graus para o século XXI conforme a opção que se tomar: ou continuar a queimar carvão ou limitar a população…De qualquer modo, o mais provável é que o aquecimento global se situe entre 2 e 4,5 graus.


Por seu turno, o «aumento do nível do mar é inevitável. A expansão térmica prosseguirá durante séculos até se estabilizar a concentração dos gazes com efeito de estufa, o que irá causar uma subida maior do que anteriormente prevista para o século XXI».


Fonte: El País, de 17 de Novembro.

Consultar:
Síntese do Relatório em ingês(formato PDF)

Os maiores problemas ambientais em gráficos

http://www.ipcc.ch/





As principais conclusões do relatório são:

-Desde 1970, as emissões de gases do efeito estufa causadas pelo ser humano aumentaram 70%.

- A concentração de CO2 na atmosfera supera em muito o volume natural dos últimos 650 mil anos.

- A temperatura média mundial provavelmente aumentará entre 1,1 ºC e 6,4 ºC neste século.

- O nível do mar provavelmente subirá entre 18 cm e 59 com neste século.

- Se o aumento da temperatura superar a faixa de 1,5 a 2,5 ºC, então 20% a 30% das espécies de plantas e animais estarão ameaçados de extinção.

- O risco de fenómenos climáticos extremos aumenta: haverá mais inundações, períodos de seca e ondas de calor. Ecossistemas únicos estão ameaçados: nos pólos Norte e Sul, nas regiões montanhosas e nos recifes de corais.

- As consequências da mudança climática se distribuem-se de forma desigual: pessoas idosas e pobres serão mais atingidas, o mesmo ocorre com os países equatoriais, que na África se encontram entre os Estados mais pobres do mundo.

- As regiões mais atingidas serão a África, o Oceano Árctico, pequenas ilhas e grandes deltas na costa asiática.

- Para limitar o aumento da temperatura ao nível de 2,0 ºC a 2,4 ºC em relação à era pré-industrial, as emissões totais de gases do efeito estufa precisam diminuir a partir de 2015.

-Os custos para o combate à mudança climática, segundo os cenários mais optimistas, são estimados em menos de 0,12% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Na pior das hipóteses, teriam de ser investidos 3% do PIB mundial nessa luta até 2030.