25.11.07

«O Diário do Dr. Satan: comentários subversivos às escorrências quotidianas da sifilização cristã » (excerto do livro de Roberto das Neves)


"Antes insultado em esperanto — língua da Pátria Planetária, da Democracia, da Fraternidade — do que louvado em qualquer idioma nacional — Instrumento de divisão entre os homens, de patriotismo, de nacionalismo, de fascismo !" (Roberto das Neves)


O idioma, instrumento imperialista

(texto de Roberto das Neves inserida no seu livro "O Diário do Dr. Satan: comentários subversivos às escorrências quotidianas da sifilização cristã", publicado em 1954 pela ediotra Germinal. A carta é dirigida a Vasco da Fonseca)

"Os representantes russos da Checoslováquia desenvolvem, com a colaboração das autoridades checas, intensa campanha para popularizar o idioma russo, tornando o seu aprendizado obrigatório nas escolas. O professor Travnicek declarou que o russo, "língua do progresso e da paz", é o sucessor do esperanto como língua mundial" — noticiam de Praga.

O idioma foi sempre, através dos tempos, um instrumento psicológico de dominação imperialista. Foi por meio do latim que os romanos sujeitaram o mundo, como antes sucedera com o grego e com outras línguas, e como hoje ocorre com o inglês, arma de que se utilizam os imperialistas anglo-norte-americanos para manterem a hegemonia comercial e espiritual sobre as nações.
Depois da quinta-coluna das revistas, dos jornais e dos livros em inglês, com a propaganda de seus produtos e de seus métodos políticos, vem a conquista dos mercados e das almas. O nascente imperialismo russo não podia deixar de seguir o mesmo processo histórico. E os povos são tão idiotas, que fazem o jogo dos imperialistas, aprendendo e adoptando o ópio da sua língua. Se quando um anafado negociante ianque, recém-chegado ao Brasil, ou um rechonchudo burocrata soviético, acabando de saltar na Checoslováquia, se dirigem à primeira pessoa que encontram e lhe formulam qualquer pedido em inglês ou russo, o interpelado lhes respondesse: "Olha, velhinho, isto aqui não é a América do Norte (ou a Rússia). Se queres que te responda, fala-me em Esperanto, idioma que não pertence exclusivamente a um povo, mas a todos!" — as coisas correriam de outro modo. Os imperialistas ver-se-iam forçados, pelo menos, a mudar de táctica.

Declaremos, pois, a greve das línguas nacionais e pratiquemos o Esperanto, a mais terrível das armas secretas contra o imperialismo! Que o nosso lema seja: "Antes insultado em esperanto — língua da Pátria Planetária, da Democracia, da Fraternidade — do que louvado em qualquer idioma nacional — Instrumento de divisão entre os homens, de patriotismo, de nacionalismo, de fascismo !"