11.10.07

Turismo é cada vez mais um problema ambiental

Relatório sobre a situação do ambiente na Europa regista avanços e recuos em várias áreas. Mas ainda há muito por fazer para pôr em prática as boas intenções

Férias são sinónimo de lazer, descanso e lucros. Mas, para o ambiente, o turismo é cada vez mais visto como um problema. Segundo um relatório ontem divulgado pela Agência Europeia do Ambiente, o turismo é um dos sectores-chave a vigiar no futuro.


O relatório - o quarto do género - faz um balanço do estado do ambiente a nível pan-europeu, de Portugal à Ásia Central. São 53 países, que somam 870 milhões de habitantes.

Entre outros aspectos preocupantes, o turismo surge como uma das principais novidades. No ano passado, em toda a região pan-europeia, desembarcaram 458 milhões de turistas - 54 por cento do total mundial. Estimativas apontam para 717 milhões em 2020.
Com o benefício económico da actividade, vêm as mazelas ambientais: urbanização do litoral, maior consumo de água, mais lixo, perda de biodiversidade.

E mais: "Os modos de transporte mais danosos para o ambiente - carro e avião - são os preferidos para se chegar aos destinos", diz o relatório. Cerca de 59 por cento dos turistas na Europa viajam de carro e 34 por cento usam o avião. Já há pelo menos 50 companhias aéreas low-cost.

A mensagem da agência europeia surge no momento em que se discute a limitação das emissões de gases com efeito de estufa dos aviões. Uma directiva para incluir as companhias aéreas no comércio europeu de licenças de emissões está em discussão na União Europeia.

Um estudo divulgado no princípio do mês pela Organização Mundial do Turismo indica que o sector já é responsável por cinco por cento das emissões mundiais de gases com efeito de estufa.
As próprias alterações climáticas podem trazer dissabores ao turismo. Um aumento de dois graus Celsius na temperatura média pode fazer desaparecer um terço das áreas com cobertura fiável de neve para a prática de esqui nos Alpes, segundo o relatório da Agência Europeia do Ambiente.

Perante este problema, "os actuais métodos para manter a cobertura de neve vão ter de ser intensificados", diz o relatório. Ou seja, mais gastos de água e de energia para produzir neve artifical, e mais intervenção nas paisagens naturais, em zonas cada vez mais altas.

O relatório da agência europeia foi apresentado ontem, numa reunião ministerial, no âmbito do processo Ambiente para a Europa, lançado em 1991 pela Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa. Em 1995 foi feito o primeiro relatório de balanço. O segundo é de 1998 e o terceiro de 2003.
A avaliação do que se passou desde então tem notas boas, mas uma síntese negativa. "Não obstante os notáveis progressos alcançados a nível da promoção da política ambiental e desenvolvimento sustentável na região pan-europeia", diz o relatório, ainda há muito trabalho a fazer para concretizar o que está no papel.
"Temos de reforçar a vontade de agir sobre os problemas ambientais da região pan-europeia", disse a directora executiva da Agência Europeia do Ambiente, Jacqueline McGlade, citada pela AFP.



Outros dados preocupantes

100 milhões de pessoas na região pan-europeia não têm acesso a água com qualidade e a saneamento

700 espécies de animais e plantas, aproximadamente, estão ameaçadas de extinção na Europa

348.000 mortes prematuras na Europa são causadas pela poluição do ar. Isto reduz em um ano a esperança média de vida
Texto retirado da edição de hoje do jornal Público