No âmbito das actividades do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES/UC) realizou-se ontem, dia 12 de Outubro de 2007, em Évora a Sessão de Apresentação do projecto "Novas Poéticas de Resistência: o século XXI em Portugal".
O projecto foi apresentado por Graça Capinha, professora do Grupo de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) e investigadora do CES/UC, com participação da Oficina de Poesia, com Feliciano de Mira e Filimone Meigos.
Políticas da linguagem, linguagens ausentes e emergentes, experimentalismo, teorias e práticas da tradução, multiculturalismo, migração, bilinguismo e linguagem em deambulação são algumas das questões em debate.
O projecto foi apresentado por Graça Capinha, professora do Grupo de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) e investigadora do CES/UC, com participação da Oficina de Poesia, com Feliciano de Mira e Filimone Meigos.
Políticas da linguagem, linguagens ausentes e emergentes, experimentalismo, teorias e práticas da tradução, multiculturalismo, migração, bilinguismo e linguagem em deambulação são algumas das questões em debate.
APRESENTAÇÃO
“O projecto Novas Poéticas de Resistência: o século XXI em Portugal é um projecto interdisciplinar que inclui quatro áreas de conhecimento: Estudos Literários, Estudos de Tradução, Sociologia e Linguística.
Este projecto usa a palavra “poética” a partir da sua raiz etimológica: o primeiro fazer da primeira forma – dar forma a partir da raiz da raiz do som. Como diz o poeta e principal teórico da L=A=N=G=U=A=G=E School, Charles Bernstein, a linguagem é “a primeira coisa forjada”, o primeiro extensão da forma do corpo: uma cópia e uma ilusão. A partir de desse primeiro momento, aquilo a que chamamos o real não é mais do que um real humana e socialmente “forjado”: um artifício cuja artificialidade se transforma em “objectividade fantasma” (Michael Taussig).
Este projecto usa a palavra “poética” a partir da sua raiz etimológica: o primeiro fazer da primeira forma – dar forma a partir da raiz da raiz do som. Como diz o poeta e principal teórico da L=A=N=G=U=A=G=E School, Charles Bernstein, a linguagem é “a primeira coisa forjada”, o primeiro extensão da forma do corpo: uma cópia e uma ilusão. A partir de desse primeiro momento, aquilo a que chamamos o real não é mais do que um real humana e socialmente “forjado”: um artifício cuja artificialidade se transforma em “objectividade fantasma” (Michael Taussig).
Tendo como cerne estas “formas de forjar o mundo”, este projecto procura as formas contra-hegemónicas deste fazer na linguagem. Isto significa que se centra em políticas de linguagem através da observação de alguns discursos que, das suas margens, produzem o centro, ao mesmo tampo que o desafiam e lhe resistem: “servindo o que não é” (Dante), re-inventando e investigando os violentos territórios do excesso (Jean-Jacques Lecercle) onde se encontram todas as formas da linguagem do desaprovado, do improvado e do ainda por provar (Susan Howe).
Nesse espaço se fundam as infinitas possibilidades para as sempre "novas poéticas de resistência": no experimentalismo; no esforço, simultaneamente inevitável e impossível, da tradução; no reconhecimento da incompletude de uma hermenêutica dia(multi)tópica exigida pelo multiculturalismo, pela emigração, pelo bilinguismo; na pesquisa etimológica – com base numa sociologia das ausências (Sousa Santos), na permanente e inevitável procura de uma linha de fuga (Deleuze e Guattari) que, porque sempre em processo dinâmico, só pode levar ao nomadismo, ao descentramento e à desterritorialização da língua e da identidade que nela se constrói.”
A memória biográfica surge aqui como evento da “escrita do corpo”, referência histórica e motor de identidades híbridas em que crenças multiculturais e a saudade acendem a imaginação e se transformam em elementos significativos de uma cultura portuguesa dinâmica que hoje enfrenta os novos desafios impostos pela globalização. Tentaremos participar numa epistemologia de presenças e ausências (Sousa Santos) oferecida pela transversalidade dos diferentes saberes.
Este projecto interdisciplinar cruza 4 áreas (Estudos Literários, Sociologia, Estudos de Tradução, Linguística) em 9 sub-projectos:
(a) “Poéticas para Novos Mudos”,
(b) “Observatório da Poesia Electrónica Portuguesa”,
(c) “Movimentos e Revistas de Poesia em Portugal”,
(d) “Resistir à Linguagem: a Tradução”,
(e) “Para uma Sociologia do Autor: o Áudio-Visual”,
(f) “A Poesia e o Design de Fernando: política, exílio e imigração”,
(g) “Semântica da Identidade na Palavra Migrante de Autoras Portuguesas em Paris e Montréal”,
(h) “Poética de Resistência e Literatura Oral — Vozes de Mulheres Judias nas Comunidades de Belmonte (Portugal) e Bom Fim (Brasil)”,
(i) “Letras, Identidades e Contextos: reciclagem discursiva, desenvolvimento e transformação identitária em dois contextos de escrita e leitura”.
A poesia constitui-se como núcleo principal (a resistência enquanto “erro” e “malformação” no experimentalismo com a voz, o corpo, a imagem e através das novas tecnologias), mas o campo analítico inclui uma perspectiva comparada com outras dimensões contextualizantes e problematizadoras (a resistência como “erro” e “malformação” no âmbito do exílio, da imigração, da etnicidade e da terapia anti-toxicodependência).
“Poéticas para Novos Mundos” funcionará em network com o projecto “pennsound”,
http://writing.upenn.edu/pennsound/ (áudio e video) e com o “Electronic Poetry Center”,
http://epc.buffalo.edu/authors/bernstein/blog/ (texto e links ),
dirigidos por Charles Bernstein da Universidade da Pennsylvania, Philadelphia, e ainda com um grupo de S. Paulo, no Brasil, à volta do poeta Régis Bonvicino e a revista de poesia Sibila,
http://lgpessoa.web.br.com/sibila2/.
A popularização das tecnologias electrónicas na produção e circulação de imagens re-equacionou a importância da dimensão material dessas imagens nas práticas sociais a elas associadas. Será que a internet cria práticas culturais mais democráticas? Olhando o poeta como actor social e a experiência da visualização como experiência situada pela materialidade das imagens e pelo seu poder, quais são os impactos sociais destas novas práticas culturais?
Tentaremos perceber de que forma a linguagem e a ideologia dominantes podem ser desterritorializadas através de novos fazeres poéticos que introduzem a malformação e o erro como possibilidade para uma cidadania em devir – em usos da palavra que procuram, não só referir, mas interferir na ordem do mundo.
48 anos de silêncio – e um poema visual era considerado subversivo – têm implicações nas práticas culturais portuguesas. Eles significaram a impossibilidade de desenvolver um debate, uma verdadeira troca democrática nos campos da cultura, da literatura e do pensamento sobre a língua portuguesa – uma língua cuja diversidade e potencial de transgressão permanecem por descobrir.