8.9.07

Encontro mundial de pastores nómadas e transumantes em La Granja ( Segóvia, Espanha) entre 8 e 16 de Setembro




Começa hoje o Encontro mundial de pastores nómadas e transumantes na localidade de La Granja, perto da cidade castelhana de Segóvia.. Pretende-se com este encontro, entre outros objectivos, defender e dar mais visibilidade à vida das populações nómadas e transumantes que fazem da pastorícia a sua principal actividade.


http://www.pastos.org/
http://www.pastos.org/Propuesta/propuesta_total.html
http://www.nomadassegovia2007.org/

«O homem e os seus rebanhos caminham ao ritmo dos ciclos da natureza; não procuram modificar o clima nem em conseguir elevados níveis de rentabilidade através da aquisição de complexas e dispendiosas tecnologias; modelam a paisagem com técnicas simples e efectivas, adaptam-se ao curso sucessivo das estações. Vivem em harmonia com o meio ambiente e não têm necessidade de violentar a natureza para sobreviver; basta-lhes acaraciá-la, e submeter-se ao ritmo que ela própria lhes impõe.»
(Severino Pallaruelo, 1993)




A península ibérica tem uma larga tradição de pastoreio transumante que remonta ao século XIII. Hoje em pleno século XXI o objectivo deve ser tornar compatível a conservação das culturas nómadas tradcionais e o desenvolvimento sustentável. Por isso uma série de instituições internacionais relacionadas com a pastorícia e a conservação da diversidade biológica ( (UNDP, UICN, CLCD, WAMP, CENESTA,etc) apoiam este Encontro mundial de pastores nómadas e transumantes, cuja realização não é fácil dadas as especificidades da actividade dos participantes. Mesmo assim os objectivos que são propostos são da maior relevância:

1) Colaborar com a ONU e demais organizações internacionais para alcançar as metas propostas na luta contra a desertificação através do desenvolvimento sustentável das zonas áridas do planeta.
2) Demonstrar que o pastoreio extensivo é perfeitamente compatívelo e necessário para o desenvolvimento moderno e equilibrado, cuja melhor ilustração é o caso espanhol onde já existe uma lei de vias pecuárias e de defesa do patrimóni das raças autóctones, que recebeu o apoio da União Europeia.
3) Favorecer as relações entre os diferentes povos nómadas e transumantes do mundo, facilitando as relações entre eles a fim de tornar possível o debate aberto dos seus problemas e a busca de soluções, assim como o estabelecimento de relações estáveis de colaboração e amizade.
4)Contribuição para a resolução dos impedimentos ao livre movimento dos nómadas pelas suas rotas tradicionais, reconhecendo o direito aos pastos nos seus territórios, à sua organização social, à propriedade intelectual das suas raças autóctones, aos seus conhecimentos ancestrais, ao seu artesanato e música, damdo o devido valor ao seu património para a conservação do meio ambiente e da diversidade biológica.
5)Criação de um Observatório de Povos Nómadas que reforce e apoie as organizações já existentes com uma plataforma e secretaria permanente que reúna e distribua toda a informação gerada sobre a situação das diferentes culturas nómadas, evolução das suas populações, pproblemas políticos e sociais como as restrições à sua mobilidade, a influencia das mudanças climáticas ou a emergência de novas epidemias.



Mais de metade da população mundial depende total ou parcialmente dos animais para sobreviver. Nessa população inclui-se uns 200 milhões de pastores, 600 milhões de pequenos criadores de gado e mais de 1.000 milhões de pessoas sem terras.
A maior parte destas pessoas habitam em regiões frágeis e marginais, que não admitem os cultivos nem muito menos uma intensificação agrícola nos solos pobres e desérticos , sujeitos a chuvas irregulares e a temperaturas extremas.

É imprescindível manter os usos e cosutmes tradicionais destes criadores de gado pois todos as tentativas para «melhorar e modernizar» as suas condições de vida acabaram por fracassar quer de um ponto de vista económico-social como ecológico.
Os povos pastores constituem uma das culturas mais antigas do mundo, com mais de 10.000 anos de experiência no manejo e na melhoria dos territórios onde habitam, eplo que são depositários de conhecimentos e recursos genéticos valiosíssimos para o futuro da Humanidade.
A Convenção das Nações Unidas para Combater a Desertificação (UNCCD) procura salvaguardar estas realidades e nunca é demais todo o apoio para sensibilizar as populações e as autoridades para elas.
Uma em cada seis pessoas depende destes frágeis ecossitemas para sobreviver, sem esquecer que no século XXI a desertificação afectará mais de 1.000 milhões de pessoas. Os prejuízos agrícolas e ambientais resultantes da desertificação são estimados actualmente em 40.000 milhões de euro em cada ano. As causas são sobretudo de natureza humana derivadas das práticas agrícolas e florestais inadequadas, aos incêndiso e às polítcas de sedentirização das populações nómadas.

A EROSÃO GENÉTICA

Ligado à perda dos solos está p desaparecimento das raças autóctones, conservadas e seleccionadas ao longo de séculos pelas diferentes culturas em todo o mundo. Das 15 milhões de espécies animais conhecidas só 49 foram domesticadas, e foram-no precisamente pelos povos nómadas. Note-se ainda que 90% da produção animal do planeta depende só de 14 espécies principais.

Segundo a FAO conhecem-se actualmente uma 4.000 raças animais domésticas, mas dessas quase 1.000 encontram-se em perigo de extinção, e outras 1.000 já se extinguiram no último século, pricipalmente por efeito da ressãp de raças muito produtivas, seleccinadas e impostas pelos países industrializados. O actual ritmo de desaparecimento é de 2 raças autóctones por cada semana. Na Europa 40% das raças autócotnes estão ameaçadas, o que significa uma enorme vulnerabilidade genética, de que é exemplo a estimativa de que para o ano de 2015 as centenas de milhar de vacas frísias corresponderão tão-só a uma variabilidade de 66 exemplares, como tudo o que isso significa de alto risco para a alimentação mundial em caso de doenças e degenerações.

As raças autóctones sobrevivem em condições muito adversas e são resistentes a muitas doenças, o que é o resultado do trabalho milenário de selecção e melhoria dos pequenos criadores locais de gado. A substituição do seu uso múltiplo, não especializado, para uma única produção traz consequências negativas.Por isso reconhecer essa multifuncionalidade é fundamental.

É urgente respeitar e defender o trabalho realizado ao longo dos séculos pelos povos nómadas e transumantes, proteger as suas formas tradicionais de vida e os seus territórios ancestrais, garantindo a sua participação na gestão e nos benefícios destas áreas.