7.6.07

Projecção do filme Memória Subversiva no Salão Brazil (em Coimbra, dia 9, às 22h.)


"Memória Subversiva - anarquismo e sindicalismo em Portugal 1910 - 1975"
seguido de debate com a presença de José Tavares

9 de Junho (sábado) às 22h00

entrada livre

no

Salão Brazil (na baixinha de Coimbra) - Largo do Poço, 3
(Nota deste blogue: este é também o melhor sítio em Coimbra)


Ver:



Um aspecto do Salão Brazil ( na baixinha de Coimbra)


Textos constantes do folheto do filme:

Nas primeiras décadas do século XX a ideia anarquista e particularmente o sindicalismo anarquista foram uma força pujante em Portugal.
A CGT (Confederação Geral do Trabalho – anarco sindicalista) era a única central sindical que existia no país. A sua publicação A Batalha chegou a ser o terceiro diário de maior circulação no País. Memória Subversiva é o único documentário sobre este movimento, reunindo os testemunhos de vinte e um activistas anarquistas e sindicalistas. Falam sobre greves insurreccionais e agitação social nos anos vinte, do confronto com o fascismo, da guerra civil espanhola, da repressão e clandestinidade, do campo de concentração do Tarrafal, do 25 de Abril de 1974...
O vídeo revela o forte humanismo e autodidatismo, características essenciais das actividades anarquistas e sindicalistas. Temas como o anti-militarismo, sexualidade, ecologia e pedagogia moderna estão também presentes como parte integrante de um mesmo combate. Numerosos documentos e filmes de arquivo ilustram o anarquismo e sindicalismo em Portugal e o seu contexto histórico, desde a primeira república portuguesa até 1975.
José Tavares



COMENTÁRIOS

Pretendeu o José Tavares e Stefanie Zoche honrar a presença, num filme, de alguns militantes idosos, dos 80 aos 100 anos, aqueles que conseguiram sobreviver à tremenda luta travada contra o fascismo e os capitalismos internacionais, em especial os heróis sobreviventes da Colónia Penal do Salazarismo, onde vários deles fizeram mais de 10 anos de cativeiro, sem processo formado, ouvindo permanentemente os carcereiros afirmar que aqueles presos nunca mais iriam ver a Liberdade, porque o governo salazarento os tinha mandado para lá morrerem. Dizem que foi a um padre que o ditador mandou escolher este local porque era riquíssimo em mosquitos pestíferos, com a tuberculose entre pessoas e gados de abate. Existia um médico na colónia penal que em vez de exercer funções humanitárias, realizava as de carrasco. Neste campo infernal morreu a flor dos militantes anarquistas e anarco-sindicalistas (para além doutros militantes de diferentes sectores políticos e revolucionários). A maior parte dos prisioneiros que conseguiram ver a liberdade, morreram pouco depois pelos achaques e maleitas adquiridas nessa maldita colónia.
Podemos bradar aos quatro ventos, sem possível desmentimento, que se não tivesse existido Tarrafal, nem tremendas repressões fascistas não se apresentaria tão dizimado como está hoje o nosso movimento anarquista. Não tivemos ajuda de nenhum imperialismo Oriental, nem das repúblicas democráticas. Os povos que nos poderiam ajudar, como o Espanhol, o Italiano, o Argentino, o Brasileiro, etc., estavam também a ser amarfanhados por diversos tipos de fascismo.
Obrigado José Tavares e Stefanie por se terem lembrado de perpetuar na tela a presença deste grupo, cuja maioria são os heróis de lutas ciclópicas em favor da Humanidade, do Amor, do Progresso e da Liberdade.
Viva a Emancipação Integral da Humanidade.
por José de Brito


O vídeograma Memória Subversiva é um documento histórico único sobre as ideias e vidas radicais subsistentes na sociedade portuguesa no séc. XX. José Tavares e Stafanie Zoche, pese embora os condicionalismos logísticos, técnicos e financeiros, souberam construir um diálogo baseado na verdade e na simplicidade sem recorrerem aos sofismas da tecnicidade e do modernismo conjuntural muito querido da intelectualidade. A sucessão cronológica dos factos e das vidas protagonizadas pelos diferentes intervenientes foram magistralmente humanizados pela perícia perceptiva da câmara e uma narração inteligente e objectiva. Por vezes o som e a música não acompanham adequadamente o pulsar das palavras e das imagens. Esses factos são no entanto, de somenos importância.
O vídeograma Memória Subversiva, na minha modesta opinião, preenche uma grande lacuna que subsistia na história do movimento operário e do sindicalismo português deste século.
Com este documentário filmado será difícil interpretar e/ou re-interpretar os movimentos sociais, políticos e ideológicos de ânimo leve. Para antes e depois da implantação da ditadura salazarista ficam as vidas e as palavras de um punhado de homens e mulheres que não se vergaram a amos e senhores: Memória Subversiva é um retrato fiel dessa realidade.
por J.M. Carvalho Ferreira


Neste filme, uma geração de homens e mulheres, hoje entre os 70 e os 80 (há-os centenários!), fala ainda e sempre, com veemência e a exaltação da juventude que neles não se extinguiu, da alegria e do voluntarismo revolucionários. Nesta época da conformação mais rasteira travestida de pobres emblemas exteriores (grotescas modas ousadas...), eis-nos aqui perante perante uma fala humana que até nas suas mais pungentes fragilidades se mostra superior ao pretensioso palavreado pós-moderno, asséptico e invertebrado. É certo que já só a poderá escutar quem for capaz insubmissão perante a cangalhada social – porque a revolta é a plataforma mínima de que partem estes incorrigíveis anarquistas da região portuguesa que José Tavares e Stefanie Zoche ouviram, com visível empenho, num longo périplo pela memória da subversão deste século. Para além do mais, a verticalidade de tais homens e mulheres ompõem-se como constraste luminoso numa época de apalhaçadas gesticulações.
por
Júlio Henriques