2.6.07

A Mandrágora em representação a partir de 1 de Junho em Cascais

Em "A MandrágoraA", peça em representação hoje e nos próximos dias em Cascais, podemos ouvir um actor:

- não vos preocupeis. no princípio foi o televisor e só depois os "slogans", a barbbie, o sexo normalizado, os pais vencidos e os mestres corruptos insónia e os microships injectados que nos obrigam a recitar marcas de shampoo, vomitar palavras como cães eloquentes...



Texto do encenador e elemento coordenador do colectivo que leva ao palco esta peça:

Para Nicolau Maquiavel (1469-1527), um dos mais penetrantes e lúcidos pensadores políticos da humanidade, o mundo é o que é: - nele convivem maridos estúpidos como Nícias e mulheres virtuosas como Lucrécia, frades devassos como Timóteo, parasitas como Sóstrata e, por que não, jovens honestos como Calímaco.

Personagens centrais de A Mandrágora, eles não compõem apenas um retrato fiel e irónico da sociedade florentina do século XVI. Configuram, acima de tudo, a forma que Maquiavel escolheu para satirizar a corrupção da Itália de sua época e, principalmente, a corrupção da Santa Madre Igreja.

Nesta comédia ele ataca os vícios e a imundice em que seus contemporâneos estavam mergulhados e, da mesma forma como em O Príncipe, escreve uma obra que se mantém tão actual hoje, como há quinhentos anos.

Para mim (Cascais 1947), esta outra A Mandrágora é uma aventura que transporta imagens da obra de Maquiavel para um projecto estético que tem (também ele) por nome Mandrágora.
São as imagens que me interessam, não o discurso dramático. O discurso desta acção vale o que vale.

Não é uma obra teatral, tão pouco um poema. É uma "COISA" construída por um "fazedor de coisas" - muito bem acompanhado, aliás, por uma equipa com quem tenho tido o prazer de fazer esta e as outras "coisas" (leia-se projectos anteriores): - a Rita, a Patrícia, o Bruno, o Marco, o Miguel, o Ricardo e agora os que chegaram de novo; a Vera, o outro Bruno (mais jovem) e o Gonçalo. Mais uma acção, portanto, que passa ao lado do que se convencionou chamar teatro. É muito divertido. Dá muito prazer construir estes objectos que vos apresentamos sempre que nos é possível.

Manuel de Almeida e Sousa



Um espectáculo do Mandrágora (centro de cultura e pesquisa de arte de Cascais)
com base em

"A Mandrágora"
de Nicolau Machiavel.
no Parque Palmela
(Auditório Municipal Fernando Lopes Graça - em Cascais)


espectáculos em Junho: 1, 2, 6, 8 e 9 às 21.45 horas; dias 3 e 10 às 17 horas

Com: bruno vilão, bruno corte real, gonçalo matos, marco ferro, ricardo mestre, rita penim, sara ferreira
som ao vivo: igor sousa
coordenação técnica: miguel matias
guarda roupa: colectivo mandrágora
encenação e texto: manuel almeida e sousa


Mais um projecto desta associação cultural com raiz em Cascais


MandrágorA - 28 anos de acção cultural

Mandrágora - da planta ao projecto cultural

Não há, talvez, planta envolta por tanta crença e objecto de tantos rituais como mandrágora. Possivelmente pela semelhança da sua raiz à forma humana (o seu nome, em grego, significa raíz humana) a ela se atribuí poderes humanos e sobrehumanos.
Aos dourados frutos da mandrágora chamavam maçãs do amor de Afrodite - um dos epítetos aplicados à deusa era Mandragoritis - a da mandrágora.
O habitat natural desta planta é a zona do Mediterrâneo, onde não é raro encontrá-la durante os meses de maio e abril. Cresce em lugares secos e banhados pelo sol - à beira dos caminhos e em velhas ruinas.
A mandrágora, rica em alcalóides (mandragorina, hiosciamina e escopolamina) pertenece à família das solenáceas e é uma das ervas mais famosas quer na Antiguidade quer na Idade Média - não será estranho, portanto, que seja conhecida como a rainha das ervas mágicas.
A Biblia já se refere a ela no Cantar dos Cantares - é a maçã do amor:

...e ali te darei os meus amores.
Já sinto o aroma das mandrágoras...
(Cantar dos Cantares 7, 13-14)

Os frutos, de cor dourada e aroma parecido ao do tomate (outra solenácea) produzem um efeito muito parecido com o espírito de Afrodite: um desejo tão embriagante quão irresistível.
O odor das folhas é semelhante ao do tabaco. Quando os frutos amadurecem, as folhas secam, e o que resta da planta é a raíz, carnosa e com cerca de um metro de longitude, que continua viva e voltará a produzir folhas e frutos no ano seguinte.
Na Antiguidade, macerava-se em vinho e era muito apreciada para elaborar os filtros de amor. Em Chipre, a ilha de Afrodite, a mandrágora é conhecida desde a noite dos tempos e recomendada como remédio para a esterilidade feminina.

Na Europa pré industrial, arrancava-se esta planta durante o solstício de verão, antes da saída do sol e no último quarto da lua. A planta prosperava por baixo dos patíbulos e não era fácil colhe-la. Para que se mantivesse tranquila havia que verter em cima urina ou sangue. Os que se atreviam a colhe-la tapavam os ouvidos para não ficarem surdos e para se protegerem da loucura causada pelos gritos mortais que a planta emitia ao ver-se ferida.
Estas histórias contavam os próprios recolectores com o objectivo de manter o alto preço que pediam pelas raízes: em 1690 uma raiz chegava a custar o soldo anual de um artesão de tipo médio.
O seu uso na magia amorosa continua até hoje. Mas era também utilizada para propiciar decisões judiciais favoráveis...
As bonecas de raiz de mandrágora tinham a suposta propriedade de tornar invisível o seu proprietário e revelar tesouros ocultos, ainda que estes só causassem desgraças... acreditava-se que o dono da boneca acabaria no mesmo patíbulo debaixo do qual se tinha colhido a planta.
Por conter mandragorina, hiosciamina e outros alcalóides alucinantes, a mandrágora foi um poderoso ingrediente utilizado nos unguentos que as bruxas aplicavam no corpo para poderem voar.
Como medicamento era usada para o tratamento de artrite, úlceras, queimaduras e, também, para provocar a menstruação e para facilitar os partos. Para além disso também se prescrevia como antídoto para as mordeduras de serpente e, o mais interessante; administrava-se como indutor dos sonhos.
Os frutos podem-se comer a partir de Maio, quando amadurecem e, apesar da crença comum não são venenosos. A raiz seca macera-se em vinho (numa proporção de uns 23 gramas por cada 700 mililitros, ainda que a dose varie segundo a pessoa que a prepara). Em quantidades maiores pode provocar alucinações.

http://br.geocities.com/mandragorarte/menu.html