A coreógrafa alemã Pina Bausch defendeu que a dança «deve dar atenção aos sentimentos, desejos e dores» para conseguir alcançar o público e não se resumir «a ser apenas algo belo e bom».
Durante um debate público que encheu o foyer do Teatro Camões, em Lisboa, com mais de uma centena de pessoas, sobretudo jornalistas e alunos da área da dança, Pina Bausch falou sobre uma experiência de mais de trinta anos.
A coreógrafa sublinhou por diversas vezes a importância do sentimento no seu trabalho - quer no processo de criação, quer no resultado final - definindo-o «como uma linguagem própria, uma outra forma de entendimento, de compreensão».
«O mais importante é tocar as pessoas», disse a artista, que a partir dos anos 70 revolucionou as formas tradicionais da dança-teatro com uma estética própria e uma original linguagem corporal.
Alta, esguia, vestida de negro e com os longos cabelos presos, a coreógrafa deu a conhecer no debate a sua visão actual da dança e os passos importantes de um percurso de mais de quatro décadas sob o olhar deslumbrado de muitos jovens admiradores desta figura histórica das artes performativas.
Pina Bausch encontra-se em Lisboa a convite da Companhia Nacional de Bailado para assinalar os trinta anos da entidade, e irá apresentar entre quinta-feira e domingo o espectáculo «For the Children of Yesterday, Today and Tomorrow», estreado em 2002.
Formada em dança e pedagogia na Folkwang School em Essen, na Alemanha, estudou também em Nova Iorque em 1959, mas regressou poucos anos depois ao país natal. Com apenas 33 anos foi convidada para dirigir o Wuppertaler Tanztheater, que mais tarde teria o seu nome.
Destacou-se pelo seu estilo e pela forma inédita do processo de trabalho com os bailarinos, viajando por várias cidades do mundo para fazer espectáculos que constituem um olhar pessoal sobre a cultura local.
Desenvolveu projectos no Brasil (em São Paulo, Rio de Janeiro e São Salvador da Baía em 1986 e 1999), em Itália (Palermo, 1989), em Espanha (Madrid, 1991), nos Estados Unidos (Los Angeles, 1996) e Hungria (Budapeste, 2000).
Nos mesmos moldes, a peça «Mazurca Fogo» foi apresentada pela coreógrafa no Festival dos Cem Dias para a Expo'98, em Lisboa.
«Nunca sei bem para onde vou, não tenho planos definidos. As coisas vão surgindo, como uma espécie de ondas», descreveu, acrescentando que continua a ser importante, contudo, «pensar uma mensagem para transmitir ao público e as melhores maneiras de o impressionar».
Confessou que lhe era difícil falar sobre o seu trabalho e disse preferir que o público visse os espectáculos e fosse «confrontado com as ideias e sentimentos» em vez de ser ela a explicar.
«Não consigo falar sobre mim com palavras. Eu confio nos bailarinos e eles confiam em mim», comentou, salientando também a importância dos pormenores.
A busca da magia da infância e do prazer das brincadeiras infantis é o apelo do espectáculo «For the Children of Yesterday, Today and Tomorrow» que Pina Bausch vai apresentar.
A cenografia é do colaborador de longa data Peter Pabst, figurinos de Marion Cito e a composição musical de Matthias Burkert e Andreas Eisenschneider.
Para esta peça, Pina Bausch foi buscar excertos das obras «Keepers of the Night - Native American Stories», «Nocturnal Activities for Children», de Michael J. Caduto, e «How the Bath Came to Be», de Joseph Bruchac.
A selecção musical inclui Prince, Caetano Veloso, Goldfrapp, Félix Laijko, Nana Vasconcelos, Bugge Wesseltoft, Amon Tobin, Mari Boine, Shirley Horn, Nina Simone, Lisa Ekdahl, Gerry Mulligan, Uhuhboo Project, Cinematic Orchestra, Gotan Project, Guem, Hughscore, Koop, Labradford, T.O.M..
A última passagem da coreógrafa alemã por Lisboa foi em Setembro e Outubro de 2005, no Teatro Municipal São Luiz, com os espectáculos «Céu e Terra» e «Cravos».
Fonte: agência Lusa