1300 trabalhadores à beira do desemprego
Está por um fio a jornada de trabalho na empresa luso-alemã Rohde. Na unidade de Santa Maria da Feira, serão dispensados cerca de 1300 trabalhadores, e isso gerou uma situação de revolta que culminou ontem num plenário de trabalhadores.
“Em que é que esta greve me pode ajudar? Será que os alemães não se vão aproveitar das nossas suspensões de contrato?” São estas as questões que mais inquietam os cerca de 1300 trabalhadores da multinacional Rohde, em Santa Maria da Feira. Depois de anteontem terem sido confrontados com a “péssima” notícia de que a casa mãe, na Alemanha, entrou em processo de insolvência – dependente da banca alemã, ao qual a empresa contraiu um empréstimo para resolver toda esta situação –, os trabalhadores reuniram-se em plenário, ontem à tarde, para debaterem “o futuro”. Sem a presença da administração, com a qual se reuniram “no dia anterior mas da qual não saiu nenhuma medida de concreto”, os trabalhadores juntaram-se, às 15h30, no pátio comum da fábrica e reivindicaram os seus direitos. “Temos que tomar uma atitude. Há trabalhadores que querem deixar os seus postos de trabalho imediatamente, mas temos que trabalhar e mostrar que temos direitos”, anunciava uma das trabalhadoras, numa altura em que têm o salário do mês de Fevereiro em atraso. “Não entendemos que só paguem à Alemanha e nos deixem de mãos vazias, sem nada”, diziam. Um dado preocupante que se junta a uma nova data: 15 de Março (hoje), data limite dada pela comissão de trabalhadores para o pagamento do mês em atraso.
Manisfestação até Câmara local
“Caso não nos paguem, suspendemos os contratos e levaremos avante a greve da próxima sexta feira. Não baixamos os braços”, disse Fernanda Moreira. A coordenadora do Sindicato dos Operários da Indústria de Calçado, Malas e Afins dos Distritos de Aveiro e Coimbra é a cara do movimento que convocou este plenário e acrescenta que este será “um bom motivo para nos manifestarmos até à Câmara Municipal da Feira, onde seremos recebidos, por elementos da edilidade, às 11h15” de amanhã. E se essa reunião não der uma resposta coerente? “Aí, a partir de segunda feira, juntamo-nos à nossa colega Manuela e reduzimos a produção. Marcamos presença e aqui ficamos a mostrar o nosso descontentamento”, ressalva.O encerramento de outra unidade da mesma empresa ainda está presente em muitos deles. A 30 de Abril de 2006, a unidade de Pinhel encerrou as portas e deixou no desemprego 372 trabalhadores. Segundo fonte oficial, “a indústria não terá aguentado a concorrência de países com menores custos de produção, como a China, Indonésia e Índia.”
Novo plenário marcado
“Trabalho aqui há 27 anos e a minha mulher há 28. Agora vamos os dois para o desemprego.” Américo Campos não esconde a mágoa. “Vou aderir à greve de sexta feira e mostrar a esses “senhores ricos” que somos mais úteis do que simplesmente para pagar impostos. Não somos terra que eles possam pisar”.
Os trabalhadores e o sindicato do sector já acordaram novo plenário para a próxima segunda feira. Mas, para já, fica uma certeza: os salários não serão pagos hoje, conforme noticiado, “pois, caso contrário, já nos teriam dito alguma coisa e até agora nada”, refere uma das trabalhadoras à saída de um dos últimos dias de trabalho.
Fonte: jornal O Primeiro de Janeiro