«Rancière ... afirma que a política só existe verdadeiramente quando o reino da liberdade se afirma frente ao reino da necessidade e a democracia irrompe como desafio ao que é natural ou socialmente dado. Concorde-se ou não, essa ideia tem, pelo menos, a virtude de se expor aqui como um assombroso exercício de inteligência e, ao mesmo tempo, como uma moldura onde cabe o essencial daquilo que, sobre esta matéria, habitualmente se dispersa na sociologia ou refracta na filosofia política.»
Sobre a obra e o autor
Quarenta anos passaram desde que Rancière assinou, com Louis Althusser et Etienne Balibar, Lire le Capital. Tinha, então, vinte e cinco anos. O terramoto de Maio de 68 destituiu perante ele um texto que se tornara inoperante e, com mais humildade, o fez procurar nos arquivos a via seguida pelos próprios proletários. Daí resultaram La Nuit des prolétaires (Fayard 1981) [A Noite dos Proletários] e Le Maître ignorant (Fayard, 1987) [O Mestre Ignorante] * e a descoberta de que a política já não é a luta pelo poder mas uma «partilha do sensível», um afrontamento das maneiras de ver e de organizar o real, um cenário onde se tornam visíveis coisas que de outro modo não se veriam: a sorte desigual que é proporcionada a uns e a outros a coberto da desigualdade. Retornando à origem grega da política para reencontrar as razões do escândalo que a democracia continua à provocar, Rancière publica a seguir Courts voyages au pays du peuple (Le Seuil, 1990) [Pequena viagem ao País do Povo], La Mésentente (Galilée, 1995) [O Desentendimento] e Le Partage du sensible (La Fabrique, 2000) [A Partilha do Sensível] * e um certo número de livros de estética. A política tem a ver com a beleza, e o saber com a poética, na sua atitude comum em «produzir obra» redesenhando o mondo. Daí a dissensão, a raiva mesmo, de Jacques Rancière contra o consenso e a negação da política e da democracia. Não haveria mais nada a esperar da história? Não mais que antes, poisa a história não faz nem promete nada: são as novas radicalidades que inventam as políticas dos novos tempos …
Sobre o autor
Nascido em 1940, Jacques Rancière é professor emérito do departamento de filosofia da universidade de Paris VIII. A sua escrita tem-se manifestado principalmente nas áreas da história, da filosofia, da estética e da política. Autor, entre outras obras, de: La Nuit des prolétaires (1981), La Mésentente. Politique et philosophie (1995), Aux bords du politique (1998) e Le Partage du sensible. Esthétique et politique (2000). O Ódio à Democracia é o seu primeiro livro traduzido em Portugal.