16.12.06

O ódio à democracia, novo livro de Jacques Rancière


Quando actualmente a democracia é exportada pela força das armas por aqueles que ainda há pouco tempo condenavam os horrores totalitários enquanto os revolucionários recusavam essas aparências em nome de uma democracia real que haveria de chegar, Jacques Rancière propõe ao leitor reencontrar a força subversiva sempre nova, e sempre ameaçada, da ideia democrática através de um notável trabalho de reflexão e questionamento de grande rigor e agradável leitura.
Partindo de Platão e das origens gregas da política o autor chega ao dias de hoje para demonstrar que o que suscita o novo andemocratismo é, afinal, o escândalo que sempre representou o «governo do povo», ou seja o escândalo da própria política e da igualdade dos homens.
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Da introdução (escrita por Diogo Pires Aurélio):

«Rancière ... afirma que a política só existe verda­dei­­­­ramente quando o reino da liberdade se afir­ma fren­te ao reino da necessidade e a democracia irrom­pe como desafio ao que é natural ou social­men­te dado. Concorde-se ou não, essa ideia tem, pe­lo me­nos, a virtude de se expor aqui como um assom­broso exercício de inteligência e, ao mesmo tempo, como uma moldura onde cabe o essencial daquilo que, so­bre esta matéria, habitualmente se dispersa na socio­logia ou refracta na filosofia política.»

Sobre a obra e o autor

Quarenta anos passaram desde que Rancière assinou, com Louis Althusser et Etienne Balibar, Lire le Capital. Tinha, então, vinte e cinco anos. O terramoto de Maio de 68 destituiu perante ele um texto que se tornara inoperante e, com mais humildade, o fez procurar nos arquivos a via seguida pelos próprios proletários. Daí resultaram La Nuit des prolétaires (Fayard 1981) [A Noite dos Proletários] e Le Maître ignorant (Fayard, 1987) [O Mestre Ignorante] * e a descoberta de que a política já não é a luta pelo poder mas uma «partilha do sensível», um afrontamento das maneiras de ver e de organizar o real, um cenário onde se tornam visíveis coisas que de outro modo não se veriam: a sorte desigual que é proporcionada a uns e a outros a coberto da desigualdade. Retornando à origem grega da política para reencontrar as razões do escândalo que a democracia continua à provocar, Rancière publica a seguir Courts voyages au pays du peuple (Le Seuil, 1990) [Pequena viagem ao País do Povo], La Mésentente (Galilée, 1995) [O Desentendimento] e Le Partage du sensible (La Fabrique, 2000) [A Partilha do Sensível] * e um certo número de livros de estética. A política tem a ver com a beleza, e o saber com a poética, na sua atitude comum em «produzir obra» redesenhando o mondo. Daí a dissensão, a raiva mesmo, de Jacques Rancière contra o consenso e a negação da política e da democracia. Não haveria mais nada a esperar da história? Não mais que antes, poisa a história não faz nem promete nada: são as novas radicalidades que inventam as políticas dos novos tempos …

Sobre o autor

Nascido em 1940, Jacques Rancière é professor emérito do departamento de filosofia da universidade de Paris VIII. A sua escrita tem-se manifestado principalmente nas áreas da história, da filosofia, da estética e da política. Autor, entre outras obras, de: La Nuit des prolétaires (1981), La Mésentente. Politique et philosophie (1995), Aux bords du politique (1998) e Le Partage du sensible. Esthétique et politique (2000). O Ódio à Democracia é o seu primeiro livro traduzido em Portugal.

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