A cena é a seguinte: uma galinha, no passeio público, atravessa a rua.
Pergunta-se então: porque é que ela atravessou a rua?
Descartes: Para ir para o outro lado
Platão: Para o seu bem, porque o outro lado era a verdade
Aristóteles: É da natureza da galinha atravessar as ruas
Buda: Colocar essa questão recalca a vossa própria natureza de galinha
Karl Marx : Era historicamente inevitável
Capitão James T. Kirk : Para ir lá, onde nenhuma outra galinha tinha ido anteriormente
Hipócrates: Por causa de um excesso de secreções no pâncreas
Martin Luther King: Tenho a visão de um mundo em que todas as galinhas sejam livres de atravessar a rua sem ser preciso justificar o seu acto.
Moisés : E Deus desceu do céu e disse à galinha : «Tu deves atravessar a rua. E a galinha atravessou a rua, mostrando Deus assim quanto isso era bom»
Galileu: E, no entanto, ela atravessa
Maquiavel: O importante do acontecimento é que a galinha tenha atravessado a rua. E porquê ? Porque o fim em si mesmo de atravessar a rua justifica todo motivo, qualquer que ele seja
Freud: O facto de você se preocupar pelo facto da galinha atravessar a rua só revela o vosso profundo sentimento de insegurança sexual latente
Nixon ( presidente americano no tempo do Vietname): A galinha não atravessou a rua ; eu repito : a galinha nunca atravessou a rua
Bill Gates: Nós acabamos de lançar no mercado o novo «Galinha Office 2006» que não só é capaz de atravessar as ruas, mas poderá cobrir todos os ovos, classificar os vossos dossiers, etc
Ronaldo ( jogador de futebol). A galinha atravessou a rua para ir buscar a bola.
Ministro do interior : A galinha atravessou talvez a rua ; mas ainda não atravessou uma auto-estrada
Igreja do Reino de Deus: A força está em você. Pela módica quantia de 1500 euros por sessão, mais o aluguer de um detector de mentiras, uma análise à vossa fé permitirá descobri-la
Bill Clinton: Juro pela Constituição que não se passou nada entre mim e a galinha
Einstein: O facto de ser a galinha a atravessar a rua, ou ser a rua a mover-se sob a galinha depende unicamente do vosso referencial
Guru Zen: A galinha pode em vão atravessar a rua, mas só o Mestre conhece o ruído da sua sombra
José Sócrates ( 1º ministro português): A galinha não atravessou a rua, mas o governo continua a trabalhar
Mário Soares: Bem, devo dizer que ainda não
sei a resposta. O que disse o meu amigo Heny Kissinger sobre o assunto?
José Manuel Fernandes (director do jornal Público): Sem dúvida, que a atitude da galinha faz parte de um complot anti-americano. Foi o que li num livro que trouxe dos States.
Forest Gump : Corre galinha, corre
Staline: A galinha devia ser fuzilada de imediato, assim como todas as testemunhas da cena, mais outras 10 pessoas escolhidas ao acaso por não terem impedido um acto subversivo
George W. Bush: O facto da galinha ter atravessado esta rua com toda a impunidade, apesar das resoluções da ONU representa uma afronta à democracia, à liberdade, à justiça. Isso só prova indiscutivelmente que nós devíamos já ter bombardeado essa rua há bastante tempo. No sentido de garantir a paz na região, e para evitar que os valores que defendemos não sejam outra vez desrespeitados por mais um acto de terrorismo como esse, o governo dos Estados Unidos decidiu enviar 17 porta-aviões, 46 destroyers, 156 cruzadores, apoiados no solo por 243.000 G.I. e no ar por 846 bombardeiros que terão por missão, em nome da liberdade e da democracia, eliminar toda a raça de porcas galinhas e os seus galinheiros num raio d 5.000 Km à volta, depois dos tiros e do lançamento dos mísseis, julgados necessários para reduzir a pó e cinzas tudo o que seja galinheiro e galináceos, de forma a que as galinhas, com a sua conhecida arrogância, não mais desafiem a nossa valente nação. Decidimos ainda, por generosidade, que o nosso governo se encarregará de reconstruir os galinheiros seguindo todas as normas de segurança em vigor, e que os novos galinheiros terão na sua direcção um galo, democraticamente eleito pelo embaixador dos Estados Unidos. Para o financiamento dessa grande obra de reconstrução, nós apenas nos contentaremos com o controle absoluto de toda a produção cerealífera da região durante os próximos 30 anos, podendo os habitantes locais da região usufruir de um desconto especial no consumo desses cereais, em troca de uma leal cooperação. Nesse novo país de justiça, paz e liberdade, poderemos assegurar-vos que mais nenhuma galinha tentará atravessar uma rua pela simples razão que não haverá nunca mais ruas, e que as galinhas deixarão de ter patas. Que Deus abençoe a América.